Desde a adolescência que a via e sempre a quis conhecer mais proximamente. É inesquecível a primeira memória de Susy. Franjinha, de calças de ganga justas, blusa descontraída e de lenço atado, ligeiramente de lado, no pescoço.
Prima, cinco anos mais velha que eu, mantinha uma distância indiferente e falava comigo apenas por simpatia. Era inatingível. Inatingível mas inesquecível. Susy usava os seus diversos lenços sempre com elegância e perfeição. Parecia que gostava. No meu imaginário acreditava que era para me seduzir. E resultava… Na realidade, se fosse para seduzir, não seria seguramente a mim.
Mais tarde, acabado de entrar na universidade, com 18 anos recentemente atingidos, numa soalheira tarde, momento em que uma grande parte da família convive acabamos esticados em espreguiçadeiras, sob as árvores, no fresco e extenso relvado do jardim. Tinha o seu lenço na mão e óculos de sol a defender da forte luminosidade. O calor do sol fez com que apenas os dois resistíssemos, quando todos os outros se recolheram para o interior. Não sei se apenas por simpatia resolveu falar comigo do tema óbvio:
- Então conseguiste entrar na universidade?
- Consegui. - Orgulhoso respondi
- E que curso escolheste?
- Marketing.
- Ansioso por começar? - Cuidadosamente atando o seu rabo de cavalo com o lenço.
- Sim, muito. - Tentando não denunciar o meu olhar.
- Vais gostar. É um mundo diferente.
- Espero que sim. - Sem conseguir desligar da forma sensual como atou o lenço.
- Isto não está bem! - Comentou, fora do contexto, desatando o lenço.
Mantive-me em absoluto silêncio enquanto a via a atar o rabo de cavalo novamente, sem conseguir desligar.
Os seus óculos de sol faziam com que não se percebesse para onde olhava. Davam-me uma falsa sensação de segurança, de que não seria descoberto.
- Gostas do meu lenço? - Disparou inesperadamente direta.
- Diz? - Tentando disfarçar.
- Estavas a olhar, todo o tempo, enquanto eu atei o lenço. Gostas?
- Fica-te bem. - Tentando me distanciar.
- Estás mais vermelho que o meu lenço. Diz-me mesmo que achas. Não te preocupes que sei guardar segredo. - Intrigada pela minha postura.
- Adoro. Ficas fantástica!… - Discretamente confesso.
- Não custou nada. - Provocou rindo, nada indiferente ao elogio.
A conversa ficou por aí. Não me ocorria nada apropriado para dizer e Susy, silenciosa, apenas disfrutava o bom tempo.
Subitamente levantou-se.
- Estou farta de estar aqui parada. Vou mostrar-te uma coisa. Anda comigo. - Desafiante mandou.
Entremos na casa e subimos aos quartos. Entrou no seu e abriu uma gaveta cheia de lenços.
- Senta aí. - Apontando para a cama e sentando-se ao lado.
- Gostas dos meus lenços?
- Muito. - Sem saber onde me metia.
- Percebi que gostas. Queres vê-los melhor?
- Sim. - Com poucas palavras temendo dizer qualquer coisa que estragasse o momento.
Foi abrindo, um a um, perguntando a minha opinião. Retirava da gaveta e colocava na cama entre nós. Sobrepunha sobre o anterior.
Percebia-se perfeitamente que gostava de mostrar.
- Queres que ponha? - Claramente apreciando a atenção que lhe dava.
- Sim…
Desatou o lenço do rabo de cavalo. Escolheu um lenço azul escuro, médio de poliéster, dobrou em triangulo colocou na cabeça e atou sob o queixo, deixando a franja de fora.
- Gostas? Fico mais velhinha. - Em forma de gozo.
- Gosto.
- A sério? Mesmo desta forma?
- Sim… - Ainda sem mais palavras, limitado às respostas diretas.
- Gostas assim tanto de lenços?
- Sim. Mas depende de quem usa.
- Obrigada. Também gosto muito - Percebendo o subtil elogio após uma silenciosa pausa.
- Queres que ponha mais? - Sabendo bem a invariável resposta.
- Sim.
- Vou por de uma forma que uso muito no outono.
Lentamente tirou o lenço azul da cabeça e dobrou em fita com precisão, atando no pescoço com o nó para trás.
- Então gostas?
- Sim
- Só sim? Podias elaborar mais. Não te preocupes que isto não sai daqui. Nosso segredo.
- Estás muito bonita!
- Obrigada mas pareceu forçado. Diz-me o que pensas. - Acariciando repetidamente as pontas do lenço, com os dedos.
- Estás deliciosa.
- Juras?
- É um sonho. Um lenço em "choker" dá um ar sofisticado e confiante.
- Agora sim. Obrigada.
Adorava a atenção quase tanto como eu adorava vê-la de lenço.
- Queres pôr-me um?
- Quero. - Tentando conter a minha excitação.
- Que bom! Escolhe um da gaveta.
Enquanto Susy desatava o lenço azul do pescoço, escolhi um lenço de fino tecido, pequeno, vermelho, com um padrão de bolinhas, muito suave e bem acabado.
Sou o seu atento olhar abri sobre a cama, alisei cuidadosamente com as duas mãos e dobrei em triangulo.
Aproximei-me e, com precisão, atei na sua cabeça sob o seu rabo de cavalo, que ainda estava preso apenas com elástico. Deixei a sua franja de fora.
Ajeitei minuciosamente cada cabelo que escapara e endireitei as pontas do lenço para não se sobreporem no pescoço.
Surpresa com o tudo o que vira, por não esperar todo este detalhe vindo de mim, olha-se ao espelho, claramente satisfeita com o resultado.
- Mas como é que foste capaz de me por assim o lenço tão bem?
- Correu bem
- De certeza que tem muito mais que isso. Tens de me contar. Já sabes que é nosso segredo.
- Desde sempre adoro. Uma mulher de lenço é muito sensual.
- O lenço transforma-a?
- Sim. Totalmente. Fica fantástica.
- Eu gosto tanto de usar lenços.
- Eu sei.
- Já tinhas reparado antes?
- Todas as vezes que te vi usar.
- Jura?
- Sim.
- Isso é muito interessante.
- Ainda me lembro de ti a usar lenço há muitos anos.
- E sabes qual é a tua primeira memória minha a usar lenços?
- Sim
- Lembras-te mesmo? Qual foi? - Espantada pela atenção que não sabia que tinha.
- Vermelho, liso, médio, no pescoço, nó de lado, no jardim de baixo, desta mesma quinta, junto À varanda do muro, que dá para a estrada.
- Ah! Isso é uma memória impressionante. Adorava esse lencinho e usei muito assim. Acho que ainda o tenho. - Olhando para a gaveta.
- Foi inesquecível.
- Sinto-me elogiada pela atenção.
- Era-me impossível não reparar. Estavas fantástica. - Confessei de seguida.
- Está aqui! . Sorridente após encontrar no fundo da gaveta.
- Era esse mesmo.
- Queres que ponha?
- Quero.
Não conseguia afastar o olhar de Susy, enquanto abria o lenço e cuidadosamente o dobrava em fita e Susy não tirava os olhos de mim enquanto o fazia, para ver a minha reação.
Provocadora atou o lenço no pescoço muito lentamente. Colocou o nó de lado, como no passado e sorridente perguntou:
- Gostas?
- Adoro. Faz parte do meu imaginário ver-te de lenço assim.
- Então agora fico a usar este durante o dia.
- E não vão notar?
- Quem?
- O resto da família.
- Notar o que? Que eu uso um lenço no pescoço? Só tu é que notas.
- Estás espetacular. Acho que todos notariam.
- Só aos teus olhos. - Claramente disfrutando a atenção exclusiva.
- Estás mesmo perfeita. - Não resisti a insistir.
- Agora contas-me mais coisas que gostas com os lenços?
- Mais coisas? - Um pouco perdido.
- Sim mais coisas que gostasses de fazer. Brincadeiras. Por exemplo: gostas de jogar à Barra do Lenço?
- Nem por isso.
- Então porque?
- Porque é muito exposto. Fico constrangido em mexer num lenço à frente de outras pessoas, principalmente rapazes. Temo que se detete a minha fantasia. Que me achem parvo.
- Eu acho querido. Não imaginava.
- Mesmo assim é desconfortável..
- Só brincarias com meninas, então?
- Sim. É muito feminino e sensual. Tudo o que for masculino está a mais.
- Acho que te percebo. E já brincaste com raparigas?
- Já aconteceu.
- Contas-me?
- Sim… Numa pequena festa de anos a aniversariante foi buscar um lenço para jogar à cabra-cega no quarto dela. Com ela a umas amigas.
- Jogaram?
- Sim.
- E tu?
- Com o coração aos pulos, adorei.
- Não jogaste mais?
- Evitava sempre. Era demasiado para o fazer em público.
- A sério? A Cabra-cega? Rindo-se abertamente.
- O lenço a vendar os olhos é muito sensual.
- Nunca tinha pensado assim. Acho que andas a ver muitos filmes. - Não resistindo à brincadeira.
Subitamente agarra num lenço preto e dobrando rapidamente venda-me.
- Agora apanha-me. Provocou.
Assim vulnerável nada me restava senão tentar apanha-la. Não estava mesmo à espera.
Por mais que tentasse não a encontrava no quarto. Movia-se silenciosamente como um gato.
- És demasiado boa nisto. Não te encontro.
- Não podes falar. - Indicou, de trás, passados alguns minutos, denunciando a sua posição.
Rapidamente viro-me para a apanhar, sem sucesso.
Continuo a tentar e nada. Como não encontro num quarto tão pequeno?!
- Susy. - Chamo baixo.
- Susy. - Insisto.
Perdido, às apalpadelas, sento-me na cama.
- Susy, posso tirar a venda? Susy?
Sem resposta desato cuidadosamente o lenço. Estava só no quarto e Susy desaparecida.
É terrível. Deixou-me assim à procura de ninguém. Que figura! Quanto tempo terá passado?
Deixo o lenço na cama, junto aos outros saio e fecho a porta.
Lá fora, no relvado lá está ela sentada na conversa. Vou tentar perceber o que se passou.
- Olá. - Comentou mal me viu.
- Olá… - Respondi ainda atordoado.
- Por onde andaste? Ainda agora falávamos disso. - Irónica questionou
- Por casa. - Sem mais nada poder dizer.
- Perdeste-te la dentro? - Insistia propositadamente.
- Não. Oriento-me sempre.
- Então deves ter ficado às escuras. - Fazendo subtil e secreta referência ao nosso jogo.
Não estávamos sós. Não tinha hipótese de retaliar a provocação, à frente de toda a gente. Era tão subtilmente perversa e claramente se divertia. Para além de gostar de ter a atenção sobre ela.
Mal teve hipótese, num momento em que estivemos sós garantiu:
- Não te preocupes que o teu segredo está muito bem guardado. - Apesar da constante provocação.
Durante essa semana usou mais lenços que era o costume. Outras primas ingenuamente reparavam mas nunca ficava sem resposta. Nem elas faziam ideia.
Algumas vezes discreta e irresistivelmente me convidava a vê-la colocar lenços. Não me vendou mais. Confessava, sem complexos, que gosta de ser o centro das atenções. Principalmente quando sente que os meus olhos brilham ao usar os lenços, nestas passagens de modelo privadas, onde era a estrela.
Suzy fazia parte do grupo, juntamente comigo e as primas Manuela e Maria que gostava de acordar cedo e ficar sentados nas espreguiçadeiras, no relvado sob a fresca sombra das árvores, em descontraída conversa.
Numa dessas manhãs ousou, intencionalmente, usar o lenço vermelho das bolinhas, dobrado em fita e atado no cabelo. Sabia que, no meu discreto silêncio, ia reparar em cada movimento.
- Há muito que não te via prender o cabelo assim, Suzy! - Comentou Maria
- Pois não, fica muito bem no teu cabelo escuro. - Reforçou Manuela
- E tu gostas? - Virando-se para mim, atiçando-me.
- Não percebo muito disso. - Evitando qualquer resposta.
- Rapazes. Só querem perceber de futebol. - Espicaçou Manuela, de seguida.
- Claro. - Concordei sumariamente só para não parecer afetado.
- Mas não há vergonha em dizer se gostas ou não. - Insistiu Suzy.
- Sim. Fica bem. - Friamente devolvi para disfarçar que fervia. E Suzy bem sabia.
A conversa não se ficou por aí e, passados uns momentos, Suzy levanta-se e chama as primas.
- Meninas, em vez ficarmos apenas sentadas vamos fazer uma brincadeira.
- Que brincadeira? - Questionou Maria.
- Vamos jogar à Cabra-cega aqui na relva. - Retirando o lenço do cabelo.
- Cabra-cega?! - Coisa antiga. Mais uma vez Maria.
- Antiga mas divertida venham. - Enquanto desatava o nó do lenço.
Maria e Manuela levantaram-se enquanto eu discretamente e em absoluto silencio, atrás dos meus óculos de sol, me enterrava cada vez mais na espreguiçadeira, embora desejasse vê-las a jogar usando aquele lindo lenço.
- Quem vendamos primeiro? - Perguntou Manuela agora entusiasmada.
- Ele. - Apontando-me o lenço, Suzy prontamente ordenou.
- Eu???!!!!. Estou cansado. Não tenho jeito, fico a ver - Tentando, apavorado, me escusar de qualquer forma.
- Anda também, será divertido. - Pediu Maria.
- Qual é o problema? Junta-te a nós. - Insistiu Manuela.
- Ouviste-as. Levanta-te e vira-te. - Novamente ordenou.
Sem solução, que não me comprometesse, lá me levantei tentando manter o ar de "toda a normalidade". Suzy perversamente sorria com ar de vitória. Como se insinuasse: "Agora desenrasca-te".
Bem que a olhei de lado, condenador, embora de forma a que não se notasse, mas entretanto já o lenço se aproximava dos meus olhos. Sinto o suave tecido a apertar e o nó a deixa-lo bem fixo. Só tento manter a postura para que nada do meu descontrolo se note.
Todas me chamavam, provocavam e, neste estado, nem me aproximar conseguia. Atrapalhado, por diversas vezes, caia na relva, sujeito aos seus estridentes risos. A sua diversão seria muito maior que o esperado.
Quando lá conseguia apanhar uma delas e a podia vendar nem apreciava suficientemente, visto ser apanhado em segundos e ter voltar ao meio.
O tempo passava depressa e acabamos por parar. Quase por mais por pena da minha falta de jeito que pela hora.
Docemente Suzy desata o lenço dos meus olhos e volta a colocar como fita no seu cabelo, com um indelével sorriso nos lábios.
Mais tarde, quando não havia mais ninguém à volta, não resistiu.
- Não sabia que eras tão divertido.
- E eu não te conhecia assim tão maléfica.
- Confessa que adoraste.
- Mas foi demasiado perverso.
- Estás implicitamente a confessar.
- Só um bocadinho…
- Eu percebi bem. Mas ninguém mais sabe. Fica descansado.
- Fico. Acho eu…
- Queres que volte a mostrar-te os lenços?
- Sim. Mas só entre nós.
- Prometido.
QT
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