Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Guardar segredo

Desde a adolescência que a via e sempre a quis conhecer mais proximamente. É inesquecível a primeira memória de Susy. Franjinha, de calças de ganga justas, blusa descontraída e de lenço atado, ligeiramente de lado, no pescoço. 
Prima, cinco anos mais velha que eu, mantinha uma distância indiferente e falava comigo apenas por simpatia. Era inatingível. Inatingível mas inesquecível. Susy usava os seus diversos lenços sempre com elegância e perfeição. Parecia que gostava. No meu imaginário acreditava que era para me seduzir.  E resultava…  Na realidade, se fosse para seduzir, não seria seguramente a mim.
Mais tarde, acabado de entrar na universidade, com 18 anos recentemente atingidos, numa soalheira tarde, momento em que uma grande parte da família convive acabamos esticados em espreguiçadeiras, sob as árvores, no fresco e extenso relvado do jardim. Tinha o seu lenço na mão e óculos de sol a defender da forte luminosidade. O calor do sol fez com que apenas os dois resistíssemos, quando todos os outros se recolheram para o interior. Não sei se apenas por simpatia resolveu falar comigo do tema óbvio:
- Então conseguiste entrar na universidade?
- Consegui. - Orgulhoso respondi
- E que curso escolheste?
- Marketing.
- Ansioso por começar? - Cuidadosamente atando o seu rabo de cavalo com o lenço. 
- Sim, muito. - Tentando não denunciar o meu olhar.
- Vais gostar. É um mundo diferente.
- Espero que sim. - Sem conseguir desligar da forma sensual como atou o lenço.
- Isto não está bem! - Comentou, fora do contexto, desatando o lenço.

Mantive-me em absoluto silêncio enquanto a via a atar o rabo de cavalo novamente, sem conseguir desligar.
Os seus óculos de sol faziam com que não se percebesse para onde olhava. Davam-me uma falsa sensação de segurança, de que não seria descoberto.

- Gostas do meu lenço? - Disparou inesperadamente direta.
- Diz? - Tentando disfarçar.
- Estavas a olhar, todo o tempo, enquanto eu atei o lenço. Gostas?
- Fica-te bem. - Tentando me distanciar.
- Estás mais vermelho que o meu lenço. Diz-me mesmo que achas. Não te preocupes que sei guardar segredo. - Intrigada pela minha postura.
- Adoro. Ficas fantástica!… - Discretamente confesso.
- Não custou nada. - Provocou rindo, nada indiferente ao elogio.

A conversa ficou por aí. Não me ocorria nada apropriado para dizer e Susy, silenciosa, apenas disfrutava o bom tempo.
Subitamente levantou-se.
- Estou farta de estar aqui parada. Vou mostrar-te uma coisa. Anda comigo. - Desafiante mandou.

Entremos na casa e subimos aos quartos. Entrou no seu e abriu uma gaveta cheia de lenços.

- Senta aí. - Apontando para a cama e sentando-se ao lado.
- Gostas dos meus lenços? 
- Muito. - Sem saber onde me metia.
- Percebi que gostas. Queres vê-los melhor?
- Sim. - Com poucas palavras temendo dizer qualquer coisa que estragasse o momento.

Foi abrindo, um a um, perguntando a minha opinião. Retirava da gaveta e colocava na cama entre nós. Sobrepunha sobre o anterior.
Percebia-se perfeitamente que gostava de mostrar.

- Queres que ponha? - Claramente apreciando a atenção que lhe dava.
- Sim…

Desatou o lenço do rabo de cavalo. Escolheu um lenço azul escuro, médio de poliéster, dobrou em triangulo colocou na cabeça e atou sob o queixo, deixando a franja de fora.
- Gostas? Fico mais velhinha. - Em forma de gozo.
- Gosto.
- A sério? Mesmo desta forma?
- Sim… - Ainda sem mais palavras, limitado às respostas diretas.
- Gostas assim tanto de lenços?
- Sim. Mas depende de quem usa.
- Obrigada. Também gosto muito - Percebendo o subtil elogio após uma silenciosa pausa.
- Queres que ponha mais? - Sabendo bem a invariável resposta.
- Sim.
- Vou por de uma forma que uso muito no outono.

Lentamente tirou o lenço azul da cabeça e dobrou em fita com precisão, atando no pescoço com o nó para trás.

- Então gostas?
- Sim
- Só sim? Podias elaborar mais. Não te preocupes que isto não sai daqui. Nosso segredo.
- Estás muito bonita!
- Obrigada mas pareceu forçado. Diz-me o que pensas. - Acariciando repetidamente as pontas do lenço, com os dedos. 
- Estás deliciosa. 
- Juras?
- É um sonho. Um lenço em "choker" dá um ar sofisticado e confiante.
- Agora sim. Obrigada.

Adorava a atenção quase tanto como eu adorava vê-la de lenço. 

- Queres pôr-me um?
- Quero. - Tentando conter a minha excitação.
- Que bom! Escolhe um da gaveta.

Enquanto Susy desatava o lenço azul do pescoço, escolhi um lenço de fino tecido, pequeno, vermelho, com um padrão de bolinhas, muito suave e bem acabado.
Sou o seu atento olhar abri sobre a cama, alisei cuidadosamente com as duas mãos e dobrei em triangulo. 
Aproximei-me e, com precisão, atei na sua cabeça sob o seu rabo de cavalo, que ainda  estava preso apenas com elástico. Deixei a sua franja de fora.
Ajeitei minuciosamente cada cabelo que escapara e endireitei as pontas do lenço para não se sobreporem no pescoço.
Surpresa com o tudo o que vira, por não esperar todo este detalhe vindo de mim, olha-se ao espelho, claramente satisfeita com o resultado.

- Mas como é que foste capaz de me por assim o lenço tão bem? 
- Correu bem
- De certeza que tem muito mais que isso. Tens de me contar. Já sabes que é nosso segredo.
- Desde sempre adoro. Uma mulher de lenço é muito sensual. 
- O lenço transforma-a?
- Sim. Totalmente. Fica fantástica.
- Eu gosto tanto de usar lenços.   
- Eu sei.
- Já tinhas reparado antes?
- Todas as vezes que te vi usar.
- Jura?
- Sim.
- Isso é muito interessante.
- Ainda me lembro de ti a usar lenço há muitos anos.
- E sabes qual é a tua primeira memória minha a usar lenços?
- Sim
- Lembras-te mesmo? Qual foi? - Espantada pela atenção que não sabia que tinha.
- Vermelho, liso, médio, no pescoço, nó de lado, no jardim de baixo, desta mesma quinta, junto À varanda do muro, que dá para a estrada.
- Ah! Isso é uma memória impressionante. Adorava esse lencinho e usei muito assim. Acho que ainda o tenho. - Olhando para a gaveta.
- Foi inesquecível.
- Sinto-me elogiada pela atenção.
- Era-me impossível não reparar. Estavas fantástica. - Confessei de seguida.
- Está aqui! . Sorridente após encontrar no fundo da gaveta.
- Era esse mesmo.
- Queres que ponha?
- Quero.

Não conseguia afastar o olhar de Susy, enquanto abria o lenço e cuidadosamente o dobrava em fita e Susy não tirava os olhos de mim enquanto o fazia, para ver a minha reação.
Provocadora atou o lenço no pescoço muito lentamente. Colocou o nó de lado, como no passado e sorridente perguntou:
- Gostas?
- Adoro. Faz parte do meu imaginário ver-te de lenço assim.
- Então agora fico a usar este durante o dia.
- E não vão notar?
- Quem?
- O resto da família.
- Notar o que? Que eu uso um lenço no pescoço? Só tu é que notas.
- Estás espetacular. Acho que todos notariam. 
- Só aos teus olhos. - Claramente disfrutando a atenção exclusiva.
- Estás mesmo perfeita. - Não resisti a insistir.
- Agora contas-me mais coisas que gostas com os lenços?
- Mais coisas? - Um pouco perdido.
- Sim mais coisas que gostasses de fazer. Brincadeiras. Por exemplo: gostas de jogar à Barra do Lenço?
- Nem por isso.
- Então porque?
- Porque é muito exposto. Fico constrangido em mexer num lenço à frente de outras pessoas, principalmente rapazes. Temo que se detete a minha fantasia. Que me achem parvo.
- Eu acho querido. Não imaginava.
- Mesmo assim é desconfortável..
- Só brincarias com meninas, então?
- Sim. É muito feminino e sensual. Tudo o que for masculino está a mais.
- Acho que te percebo. E já brincaste com raparigas?
- Já aconteceu.
- Contas-me?
- Sim… Numa pequena festa de anos a aniversariante foi buscar um lenço para jogar à cabra-cega no quarto dela. Com ela a umas amigas. 
- Jogaram?
- Sim.
- E tu?
- Com o coração aos pulos, adorei.
- Não jogaste mais?
- Evitava sempre. Era demasiado para o fazer em público.
- A sério? A Cabra-cega? Rindo-se abertamente.
- O lenço a vendar os olhos é muito sensual.
- Nunca tinha pensado assim. Acho que andas a ver muitos filmes. - Não resistindo à brincadeira.

Subitamente agarra num lenço preto e dobrando rapidamente venda-me.

- Agora apanha-me. Provocou.

Assim vulnerável nada me restava senão tentar apanha-la. Não estava mesmo à espera.
Por mais que tentasse não a encontrava no quarto. Movia-se silenciosamente como um gato.

- És demasiado boa nisto. Não te encontro.
- Não podes falar. - Indicou, de trás, passados alguns minutos, denunciando a sua posição.

Rapidamente viro-me para a apanhar, sem sucesso.
Continuo a tentar e nada. Como não encontro num quarto tão pequeno?!
- Susy. - Chamo baixo.
- Susy. - Insisto.

Perdido, às apalpadelas, sento-me na cama.
- Susy, posso tirar a venda? Susy?

Sem resposta desato cuidadosamente o lenço. Estava só no quarto e Susy desaparecida.
É terrível. Deixou-me assim à procura de ninguém. Que figura! Quanto tempo terá passado?
Deixo o lenço na cama, junto aos outros saio e fecho a porta.
Lá fora, no relvado lá está ela sentada na conversa. Vou tentar perceber o que se passou.
- Olá. - Comentou mal me viu.
- Olá… - Respondi ainda atordoado.
- Por onde andaste? Ainda agora falávamos disso. - Irónica questionou
- Por casa. - Sem mais nada poder dizer.
- Perdeste-te la dentro? - Insistia propositadamente.
- Não. Oriento-me sempre.
- Então deves ter ficado às escuras. - Fazendo subtil e secreta referência ao nosso jogo. 

Não estávamos sós. Não tinha hipótese de retaliar a provocação, à frente de toda a gente. Era tão subtilmente perversa e claramente se divertia. Para além de gostar de ter a atenção sobre ela.
Mal teve hipótese, num momento em que estivemos sós garantiu:
- Não te preocupes que o teu segredo está muito bem guardado. - Apesar da constante provocação.

Durante essa semana usou mais lenços que era o costume. Outras primas ingenuamente reparavam mas nunca ficava sem resposta. Nem elas faziam ideia.
Algumas vezes discreta e irresistivelmente me convidava a vê-la colocar lenços. Não me vendou mais. Confessava, sem complexos, que gosta de ser o centro das atenções. Principalmente quando sente que os meus olhos brilham ao usar os lenços, nestas passagens de modelo privadas, onde era a estrela.

Suzy fazia parte do grupo, juntamente comigo e as primas Manuela e Maria que gostava de acordar cedo e ficar sentados nas espreguiçadeiras, no relvado sob a fresca sombra das árvores, em descontraída conversa.
Numa dessas manhãs ousou, intencionalmente, usar o lenço vermelho das bolinhas, dobrado em fita e atado no cabelo. Sabia que, no meu discreto silêncio, ia reparar em cada movimento. 

- Há muito que não te via prender o cabelo assim, Suzy! - Comentou Maria
- Pois não, fica muito bem no teu cabelo escuro. - Reforçou Manuela
- E tu gostas? - Virando-se para mim, atiçando-me.
- Não percebo muito disso. - Evitando qualquer resposta.
- Rapazes. Só querem perceber de futebol. - Espicaçou Manuela, de seguida.
- Claro. - Concordei sumariamente só para não parecer afetado.
- Mas não há vergonha em dizer se gostas ou não. - Insistiu Suzy.
- Sim. Fica bem. - Friamente devolvi para disfarçar que fervia. E Suzy bem sabia.

A conversa não se ficou por aí e, passados uns momentos, Suzy levanta-se e chama as primas.
- Meninas, em vez ficarmos apenas sentadas vamos fazer uma brincadeira.
- Que brincadeira? - Questionou Maria.
- Vamos jogar à Cabra-cega aqui na relva. - Retirando o lenço do cabelo.
- Cabra-cega?! - Coisa antiga. Mais uma vez Maria.
- Antiga mas divertida venham. - Enquanto desatava o nó do lenço.

Maria e Manuela levantaram-se enquanto eu discretamente e em absoluto silencio, atrás dos meus óculos de sol, me enterrava cada vez mais na espreguiçadeira, embora desejasse vê-las a jogar usando aquele lindo lenço.

- Quem vendamos primeiro? -  Perguntou Manuela agora entusiasmada.
- Ele. - Apontando-me o lenço, Suzy prontamente ordenou.

- Eu???!!!!. Estou cansado. Não tenho jeito, fico a ver - Tentando, apavorado, me escusar de qualquer forma.
  
- Anda também, será divertido. - Pediu Maria.
- Qual é o problema? Junta-te a nós. - Insistiu Manuela.
- Ouviste-as. Levanta-te e vira-te. - Novamente ordenou.

Sem solução, que não me comprometesse, lá me levantei tentando manter o ar de "toda a normalidade". Suzy perversamente sorria com ar de vitória. Como se insinuasse: "Agora desenrasca-te".
Bem que a olhei de lado, condenador, embora de forma a que não se notasse, mas entretanto já o lenço se aproximava dos meus olhos. Sinto o suave tecido a apertar e o nó a deixa-lo bem fixo. Só tento manter a postura para que nada do meu descontrolo se note.
Todas me chamavam, provocavam e, neste estado, nem me aproximar conseguia. Atrapalhado, por diversas vezes, caia na relva, sujeito aos seus estridentes risos. A sua diversão seria muito maior que o esperado.
Quando lá conseguia apanhar uma delas e a podia vendar nem apreciava suficientemente, visto ser apanhado em segundos e ter voltar ao meio. 
O tempo passava depressa e acabamos por parar. Quase por mais por pena da minha falta de jeito que pela hora.
Docemente Suzy desata o lenço dos meus olhos e volta a colocar como fita no seu cabelo, com um indelével sorriso nos lábios.

Mais tarde, quando não havia mais ninguém à volta, não resistiu.
- Não sabia que eras tão divertido.
- E eu não te conhecia assim tão maléfica.
- Confessa que adoraste.
- Mas foi demasiado perverso.
- Estás implicitamente a confessar.
- Só um bocadinho
- Eu percebi bem. Mas ninguém mais sabe. Fica descansado.
- Fico. Acho eu
- Queres que volte a mostrar-te os lenços?
- Sim. Mas só entre nós.
- Prometido.



QT






 






 


 







  











  






 


 








quinta-feira, 31 de julho de 2025

Simplesmente Diferentes


Desde os 14 anos, quando jogávamos à bola, na escola, Carla, de cabelo curto, "Maria-rapaz", era a única rapariga da turma que jogava connosco e nunca se deixava diminuir por isso. 

Morávamos na mesma rua e, mais tarde, quando na mesma universidade, já com ar mais feminino, de cabelo acima dos ombros, mas em cursos diferentes, era comum partilhar o mesmo autocarro, numa viagem de mais de meia hora. Tal como eu não tinha muitos amigos verdadeiros e, como já nos conhecíamos muito bem, partilhávamos conversas mais pessoais sem receios ou constrangimentos. Não era raro ir ao cinema ou apenas dar uma volta para contar novidades. A nossa relação simples nunca se desviara para uma proximidade romântica. Era uma de nós. Atração não fazia parte da nossa equação. 

No final do ano letivo, com o tempo de verão, que já se aproximava, aproveitávamos a praia. A mais longa viagem e a toalha ao sol era motivo para outras conversas. Adorava provocar-me quando "escolhia" alguma mulher que passa, indicando que seria boa namorada para mim. A praia era o seu maior expositor. Onde tinha e maior quantidade de candidatas.

- Deixa-me ver o que passa por nós. - Desafiante dizia, logo após nos sentarmos.

- E se, desta, escolher eu um jeitoso para ti? - Em resposta às suas muitas provocações.

- Para quê?

- Para marido, claro. Acho que estás a precisar - Insisti na provocação.

- Ainda não percebeste?

- Percebi o que?

- Que não gosto de homens. - Subitamente declarou.

- A sério?! Não gostas de mim? - Respondendo ironicamente precisamente por não saber que dizer com esta inusitada confissão.

- De ti gosto. Mas sabes que entre nós é de outra forma. És meu amigo há imenso tempo. Alias, estamos num nível diferente.

- É verdade. - Ainda um pouco perdido.

- Como é que nunca tinhas percebido?

- Confesso que nunca tinha pensado nisso. - Com sinceridade respondi.

- Por isso gosto de escolher as mulheres para ti.

- Assim também eu posso escolher uma para ti.

- Somos diferentes mas podemos escolher juntos.

- Desde que não seja a mesma. - Com um sorriso brinquei.

- Isso seria muito complicado.

- Porque não me contaste antes?

- Não sei. Talvez por desconforto ou por pensar que já terias dado por isso. Tenho sido discreta.

- Podes confiar. Não te preocupes. - Calmamente garanti.

- Não tenho dúvidas. E tu tens algum segredo?

Não era nada fácil falar disso assim a frio, mas o meu silêncio denunciou-me.

- Então? Tens um segredo! Vais me contar. Eu já te contei o meu. - Após perceber a minha reação.

- Não é fácil.

- É intimo?

- Sim. Muito.

- Não me digas que é como o meu e que afinal não gostas de mulheres.

- Nada disso. Claro que gosto de mulheres. E concordo totalmente contigo. Não gosto nada de homens, têm pelos e barbas. - Em jeito de sátira.

- Também me parecia. Já reparei no teu olhar interessado nalgumas.

- Sim…

- E o teu segredo tem a ver com isso?

- Também.

- Conta-me.

- Não é fácil assim de repente.

- E seu eu te apontar um mulher que tenha a ver com o teu segredo confirmas? Não foges à resposta? 

- Confirmo…

- Então vamos.

- Vamos?!

- Sim. Vamos vê-las pela praia e eu pergunto-te. Ambos gostamos…

- Agora? - Sem me sentir preparado.

- Claro. Temos tempo e esperar para quê?

- Para eu inventar alguma desculpa. 

- Comigo não inventas nada. Levanta-te. - Ordenou mandona.

Fomos pela praia fora a ver as mulheres bonitas que Carla identificava e me perguntava discreta mas cruamente:

- Esta? Ou esta? E aquela? - Disparava em todas as direções.

- Sim… - Pontualmente respondia

Após várias elegíveis pela figura, ainda não tinha conseguido perceber o padrão do segredo até que parou, com os pés enfiados na água e virada para terra. 

- Espera. Já escolheste várias mas quase todas diferentes. Não consigo perceber o padrão físico. Há mais alguma coisa. Algo que se repete. Então aquela parada na areia, de bikini azul claro e lenço no cabelo?


- Sim… - Muito baixo respondi desviando o olhar, porque Carla tinha tocado no ponto certo e eu não o queria confessar.
- Tem um lenço na cabeça. É isso! Todas elas diferentes mas todas usavam um de alguma forma. Ou em fita, ou a prender o rabo de cavalo, ou, como esta, na cabeça. Está relacionado com o lenço? É esse o teu segredo?

- Sim…
- Só isso? - Achando ter pouco significado.
- Nem imaginas…
- Imagino o quê? Agora conta-me tudo.
- A forma como me seduz.
- Os lencinhos? Até eu tenho alguns.
- Eu sei. E lembro-me de cada vez que usaste.
- A sério? Devo ficar preocupada? - Provocou mais uma vez.
- Claro que não. Eu não deixo nenhuma mulher constrangida. Sou muito discreto e reservado. - Respondendo mais sério para ser claro.
- Estava a brincar. Não resisti. Até coraste!
- É deste sol da praia. - Envergonhado respondi.
- Mas quero falar melhor disso. Hoje estou só em casa. Vens jantar comigo para me contares todos os pormenores sórdidos. Agora vamos dar um mergulho.

Não continuamos a conversa até sair da praia.
Combinei deixa-la em casa e eu voltaria pouco mais tarde para poder tomar um banho e ir logo ajuda-la com o jantar.
Bato à porta e, quando abre, está de cabelo ainda húmido, preso por um lenço em fita, muito bem dobrado e colocado.
- Gostas? - Perguntou sem hesitar virando um pouco a cabeça expondo o seu acessório.
- Demais.
- Maroto. Depois do jantar vais ter de me contar mais. - Ameaçou muito séria.
- Senão fico em jejum? - Ironizei
- Claro. Nada é de graça. - Em pronta resposta.

Ainda durante o jantar não resistiu a saber mais.
- Então porque é que não me contaste antes dos lenços?
- Também tu não me contaste.
- Pensei que sabias mas apenas não mencionavas.
- Nunca te vi com namorada. - Provoquei
- Nem eu te vi com uma namorada de lenço.
- Não calhou.
- Mas fazemos assim: agora que não há dúvidas tudo podemos contar ou fazer que seremos sempre amigos e confidentes. Nada sai da nossa bolha secreta. Não há desculpa para não contarmos tudo.
- Combinado - Esticando a mão como a fechar um negócio.

Enquanto arrumávamos a loiça Carla provocou:
- Agora perguntas o que quiseres.
- Estás preparada?
- Claro. Dispara.
- Então quando é que percebeste?
- Acho que desde sempre.
- Já te sentiste atraída por alguma mulher especial?
- Sim
- Conheço?
- Sim, conheces.
- Queres dizer quem?
- A Rita que foi nossa colega no 9º ano. Encontrei-a mais tarde e foi nessa altura que me atraiu. Mas nada aconteceu. Ela não deve ser como eu.
- Houve mais algum desejo. 
- Nem por isso. Mais ninguém.
- Já beijaste uma mulher.
- Ainda não. 
- Querias?
- Muito. Mas não houve oportunidade.

Esta clarificação, curiosamente, deu um maior conforto entre ambos. Sendo assim diferentes, de gostos incompatíveis eliminava o risco de sedução. Podíamos falar e fazer tudo que nada mudaria. Carla sentia-o claramente e, após terminarmos de arrumar a loiça, permitiu-se experimentar dando-me uma suave palmada nas nádegas, sabendo que não teria outras interpretações.

- Senta-te na sala. Já venho. - Convidou sorridente.

Voltou com as mãos atrás das costas. Subitamente larga um conjunto de lenços no sofá junto a mim. 

- São todos os que tenho. Quais é que gostas mais? - Perguntou direta como se fosse um interrogatório.

Respirei fundo, peguei um a um, e selecionei quatro como os favoritos.

- Estes. E o que tens em fita, no cabelo - Sussurrei discretamente.

- Então mostra-me como gostas de ver. Põe-me. - Muito direta, retirando a fita do cabelo, para me permitir ter a "tela em branco".

Abriu a porta do paraíso. Passei um longo tempo a dobrar os lenços, a colocar-lhe, no pescoço, cabeça, no corpo, de todas as formas que imaginava. Não resistia a observar detalhadamente. 
Carla não estava indiferente. Divertia-se e apercebia-se do efeito que me provocavam. Aguçava a sua curiosidade.

Sobre a sua t-shirt coloquei-lhe um lenço como top. Mas não ficava bem colocado.
- A t-shirt atrapalha-te? - Questionou prontamente.
- Atrapalha.
- Queres que tire? Não tenho problemas contigo. - Sem complexos sugeriu.
- Daria jeito. - Sabendo bem que não era nenhuma linha vermelha.
- Assim fica mais fácil. - Após ficar em soutien.
- Fica.

Atei-o novamente à volta do peito refazendo o top. Observei bem mas as alças do soutien estavam a mais. 
- Dás-me licença? - Cuidadosamente puxando as alças para o lado descaindo sobre os seus braços.
- Claro. Estás à-vontade.

Observei melhor e, mesmo assim, não estava perfeito.
- O soutien está a mais, não está? - Descontraída insinuou.
- De facto não ajuda.
- Queres que tire? - De seguida e sem constrangimentos.

Incapaz de responder logo denunciei alguma hesitação.

- Não te preocupes que contigo não há problemas. Espera. Tenho uma ideia.

Pegou num dos lenços dobrando-o cuidadosamente em fita.
Riu-se e, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, senti o tecido suave a cobrir-me os olhos. No escuro total a voz dela permaneceu perto, cúmplice:
- Assim não precisas de corar. Agora és só meu refém dos lenços.
E naquele instante percebi que a brincadeira já tinha passado a ser um segredo partilhado, impossível de voltar atrás

Apenas ouvia som dos seus movimentos e era impossível ficar indiferente. Embora não a visse, o lenço nos olhos e a imaginação descontrolada não facilitava nada. De alguma forma me contorcia deixando transparecer, através da linguagem corporal, que o meu estado era de descontrolo, por mais que tentasse esconder.
Silenciosamente pausou por momentos. Era clara a sensação de estar a ser observado. 

- Pronta. - Subitamente avisou, desatando o lenço dos meus olhos.

Com o lenço dobrado em triângulo, agora num perfeito top e o outro colorido ainda na cabeça, de nó atras da nuca, estava fantástica, tornando impossível disfarçar o descontrolo.

- Estás espetacular. 
- Gostas.
- Adoro. Não se percebe?
- Percebe-se bem. Nunca te tinha visto assim. Agora compreendo o que me dizias.
- É muito poderoso. Por isso o segredo.
- Então continua. É divertido.

Voltei a pôr-lhe mais, mantendo o  top. Algumas vezes aproveitei para a vendar e depois desvendar, usando o momento para a observar mais indiscretamente.

- Agora ponho-te eu. - Do nada preveniu.
- Pões? - Inseguro sem perceber a intenção.
- Não te preocupes, querido amigo. Só te vou vendar mais uma vez. - Esclareceu

Naquele momento ainda com o top e outro, dobrado em triângulo atado na cabeça, estilo camponesa, pegou num outro lenço e suavemente dobrou em fita atando sobre os meus olhos e deixando-me visivelmente perdido e vulnerável.

- Agora percebi a magia dos lenços. Estou a adorar saber disto. Ficas sempre assim?
- Fico. - Respondendo com o mínimo de palavras.
- Desde que idade?
- Desde que me lembro.
- E das vezes que me viste de lenço porque nunca me disseste?
- Não tive coragem.
- E precisavas coragem para dizeres que gostavas de me ver assim.
- Muita.
- Porquê?
- Porque tinha medo de te deixar constrangida e das perguntas.
- Quais perguntas?
- As que farias a seguir. Como agora.
- Pois faria. E agora tens medo das perguntas?
- Neste estado, como estás decorada e eu vendado não tenho controlo nem medo.
- Nenhum? - Querendo certificar.
- Nenhum. - Confirmei claramente.
- Posso te pedir uma coisa?
- Todas. Pede. 
- Já peço mas quero saber mais antes.
- O que quiseres.
- Isto deixa-te muito quente. Intimamente quero dizer
- Demais.
- E como estás agora?
- A ferver.
- E quanto estas só com lenços alguma vez brincas?
- Sim.
- Ficas quente?
- Muito.
- E o que fazes?
- Tenho de gastar a energia.
- E como os usas? - Não me permitindo abreviar a questão
- Vendo-me.
- E depois?
- Meu deus… - Temendo ser demasiado visual.
- Podes contar, querido amigo. - Acalmando-me gentilmente
- Eu exploro a minha rigidez até que tudo se resolva por si.
- Fica muito rijo?
- Sim.
- Posso ver? - Atrevidamente pediu.
- Sim.

Suavemente empurrou-me deitando-me no sofá. Com cuidado desapertou o botão das minhas calças e desapertou o fecho. As poucos baixou-as até as retirar.
- Credo, nota-se nos boxers! - Não resistiu a comentar.
- Desculpa. - Saiu-me inadvertidamente sem grande sentindo.
- Não te preocupes sei que é normal neste estado. Posso continuar? - Para garantir que tinha a minha licença.
- Sim

Aos poucos as barreiras caíam uma a uma, nada restando para me resguardar, acabando totalmente exposto.

- Ah! Fica tão inchado! - Inesperadamente espantada.
- Nunca o tinhas visto?
- Nunca ao vivo. E não seria um estado que quisesse chegar com um homem. Só tenho muito curiosidade contigo e, especialmente, na forma como aqui chegaste.
- Surpreendeu?
- Não foi bem surpresa. Está, agora, no estado mais rijo?
- Está. Podes tocar. - Atrevi-me a sugerir.
- Meu deus, está mesmo. Como funciona? - Após envolver dentro de sua mão leve e suavemente, como a proteger uma frágil flor. 
- Ao acariciar a zona mais sensível o desejo intensifica-se até que a chama de descontrola.
- Mostras-me? - Pediu atrevidamente.
- Estás certa que queres?
- Estou muito curiosa. Não te importas? - Pegando ma minha mão colocando-a sobre a minha intimidade.

Fiz o que me pediu, como me pediu. No estado em que estava e vendado com o lenço, nem tive constrangimentos. Lentamente cumpri o desejado.
Sob seu atento olhar, cada movimento era um crescendo suave, não uma corrida, mas uma onda que se ergue lentamente, até que o momento chegou como fogo contido que se liberta: intenso, inevitável, arrebatador. O corpo cedeu por completo, e deixei-me levar, sem preconceitos nem defesas, diante dela.

- Vou buscar umas toalhitas. Foste muito querido. - Docemente indicou.
- Sim… - Sem mais nada conseguir dizer.
- Posso limpar-te?
- Sim…

No silêncio que se seguiu, só o som da nossa respiração preenchia a sala. Carla, serena, limpou-me cada centímetro molhado e, com toda a delicadeza, deu um leve beijo na minha testa. Não havia qualquer constrangimento, apenas uma suave paz.
Tirou a venda, mas já nada era o mesmo. Estávamos conectados por algo mais profundo, uma intimidade delicada que os lenços e o segredo haviam tecido entre nós.

- Estás bem? 
- Estou…
- Não te importaste?
- Não. Contigo não.

Pousou o lenço no sofá, olhos brilhando de uma nova curiosidade, e sentíamos que a confiança tinha acabado de atingir um novo patamar, onde os segredos eram portas abertas e o respeito, a chave.

- É assim que os lenços te transformam… - Murmurou, quase para si mesma.
- Sim.. - Ainda sem forças
- Agora entendo… Os lenços são mesmo a tua fraqueza. - Concluiu, com um leve sorriso. 
- Enfeitiçam-me 
- Gostei de tanto ver. É intenso. E o efeito é fantástico. Uma mulher que saiba disso faz o que quer contigo?
- Faz.
- Com algo assim tão simples como esse acessório?
- Sim.
- Obrigada pelo que partilhaste comigo. …Obrigada.
- Eu tenho gosto de partilhar tudo contigo. Até isto.
- Tens mais segredos?
- Não. Claro que não.
- Se tiveres eu descubro - Deixou a ameaça no ar.


QT