Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Contos e Lenços

Passava das 22:00 e ainda estávamos a limpar e a arrumar a loja para abrir, no dia seguinte. A antiga retrosaria, há muito abandonada, de balcão e estantes de madeira escura que, com pequenos reparos e limpeza, se tornaria no nosso empreendimento.
Lara, quase esgotada, terminara de arrumar a montra. Com cabelos caídos, fugindo do lenço branco que, na cabeça os protegia, irradiava sensualidade.
Faltava apenas colar a placa com o nome: Contos e Lenços.
A loja oferecia lenços novos, lenços vintage, adquiridos em leiloes, contos e workshops.
Lara venderia contos de lenços que eu escreveria, seria a modelo nos workshops e venderia, ainda, uma infinita panóplia de lenços.
Eu ficaria encarregue de escrever, dar os workshops, procurar e adquirir os stocks de lenços e partilharíamos os trabalhos administrativos.
A farda de Lara era composta por calças ou saia e blusa sempre em preto ou branco para realçar  um imprescindível lenço.
O dia da abertura chegara. Mais que esperávamos a loja esteve sempre cheia.
Vendemos lenços e houve interesse pelos contos mas foi ter havido procura pelos workshops que nos surpreendeu. Os preços eram pouco mais que simbólicos. Serviam, principalmente, para criar empatia com as clientes.
Com uma duração de 4 horas de manhã, o programa era simples:
- Imagens de lenços
- Lenços nas fardas
- Tipos de tecidos
- Formas dos lenços
- Dobras
- Nós
- Versatilidade

- Extra, duas horas de tarde.
O extra ficou propositadamente sem descrição. Apenas seria indicado pessoalmente:
Aplicações eróticas dos lenços
- Sensualidade
- Aplicação dos nós para dominar (scarf bondage).
- Vendas
- Mordaças
- Provocações e estímulos sensoriais.

Deliciava-me com as perguntas das clientes e com sua curiosidade.
No final do dia inaugural Lara, estava novamente esgotada.
- A cama da sala de formação está montada?
- Está. Porque perguntas?
- Vou esticar o corpo um pouco. Fechas a caixa?
- Claro

A sala de formação era o elemento diferenciador do nosso projecto.
No andar inferior, com uma enorme mesa no centro, uma parede com espelho como se fosse sala de dança, uma cama de ferro decorada com muitas almofadas a fazer de sofá, iluminação por candeeiros, para tornar o ambiente acolhedor, um armário baixo, com um serviço de chá e respectivos equipamentos, uma pequena aparelhagem de som compacta, uma poltrona de leitura, uma estante para mini-biblioteca de livros, revistas e artigos relacionados com lenços e, obviamente, a colecção de contos que eu escrevia.
Após fechar tudo, na loja, desci à sala de formação. Lara estava esticada na cama, descalça, de barriga para baixo. As almofadas descuidadamente empurradas para o chão. Retirara o lenço do pescoço e deixou-o pendurado na grade da cama.
Coloquei o Canon de Pachelbel, no mínimo, a repetir e aproximei-me silenciosamente.
Agarrei o seu lenço pendurado e, muito cuidadosamente, como de fosse de cristal, atei-o à volta de seus olhos. Nem tinha forças para me perguntar o que ia fazer, deixando escapar apenas um ínfimo "ai".
Percorri lenta e pesadamente, com as palmas das mãos, todos os seus músculos, dos pés ao pescoço, Gemia com alívio desligando-se do corpo a cada pressão. Passada mais que uma hora sentei-me na poltrona e deixei-me ficar enquanto descansava e olhava para Lara que tinha ficado imóvel e ainda vendada.
- Já é tarde, Lara. - disse após a desvendar
- Deve ser. Obrigada...
- Vamos. Amanhã temos de voltar.

Enquanto Lara se calçava recoloquei as almofadas no sofá.
Voltamos a nossas casas com a satisfação de quem sente o gosto do sucesso.
Durante a semana a loja teve sempre clientes. Não tantos como na inauguração mas o suficiente para fazer valer o negócio.
Os lenços vendiam-se mais facilmente que se esperava. Lara dava muita atenção indicando valiosas sugestões estéticas e técnicas gerando uma saudável proximidade. O seu empenho fazia com que algumas clientes ficassem tentadas pelas possibilidades dos workshops. Alguns contos foram, também, alvo de interesse. Esta procura fez esgotar o primeiro workshop, limitado a seis alunas, logo no primeiro domingo após a abertura da loja.
A nossa ansiedade era tanta que, embora o início do workshop estivesse agendado para às 9:00, ainda não eram 8:00 eu já estava na loja e Lara chegou pouco depois. Recebia, com um chá, todas as formandas, enquanto se reunia toda a classe. Fiquei na caixa da loja para receber as inscrições e vender alguns lenços indicados como material, caso não tivessem seus adequados a este fim. E não foram poucos a ser vendidos nesta altura.
Por vezes insólita, noutras inexistente era a reacção quando as formandas eram informadas, por Lara, que seria eu a dar a formação. "Foi ele que me ensinou", justificava para as mais cépticas. 
Finalmente pude iniciar o workshop. 
Iniciei com uma conversa para criar ambiente. Perguntei a cada uma se já usavam lenços, se possuíam muitos, como gostavam mais de ver e usar lenços e o porquê de vir ao workshop. Rapidamente se quebrou o gelo e pude abrir a "Caixa de Pandora" cheia de lenços. Mostrei formas, tipos, dimensões, tecidos, texturas. Indiquei para que estado do tempo usar (calor, frio, vento) e fotografias de celebridades que eternizaram lenços como Grace Kelly, Jacqueline Kennedy ou Audrey Hepburn; muitas outras de anónimas apenas belas e obviamente o impacto dos lenços nas fardas como nas assistentes de bordo das companhias aéreas.
Tirei mais lenços da caixa para demonstrar as dobras e as respectivas situações de uso, aplicar diferentes nós e a sua utilidade. Tudo acompanhado com muitos exercícios práticos, após ter agrupado as formandas duas a duas. Lara sentada era a minha modelo que recebia lenços de todas as formas: Na cabeça, no pescoço, na cintura, no pulso. Dobrados em triângulo, em fita, em triângulo com dobras de fita para reduzir a sua dimensão, etc. Foram dezenas de diferentes combinações demonstrando toda a versatilidade deste acessório. Tive momentos de dificuldade de concentração por não conseguir ficar indiferente à sensualidade de Lara ao colocar-lhe os lenços e ao ver as formandas habilmente a experimentar.
Na recta final do workshop não resistiram a perguntar pelo workshop extra. Qual era o seu conteúdo. O mistério aguçou a curiosidade. Estava na hora de desvendar.
- O conteúdo é "Aplicações eróticas dos lenços"

Entres risos e sorrisos as reacções foram de surpresa e curiosidade. Com algum cuidado, quase pé ante pé, as perguntas surgiam.
- Vai ser nesta sala?
- Vai. Temos aqui tudo.
- E, como hei de perguntar, é muito erótico?
- Não se preocupe que não terá nada que comprometa. Não há nudez.

No final da conversa Ana, Carla, Rita e Sandra quiseram voltar para o extra.
- Às 15:00 iniciamos. Combinado? - inquiri
- Até logo.

Lara ficara comigo a preparar a sala e a pequena exposição. Regulamos a luz para um ambiente mais intimista. Colocamos um candeeiro ao nível da cama para a nossa estátua viva, que seria o ex-libris desta exposição. Fotos emolduradas de mulheres com lenços de várias formas realçando a sua sensualidade. Simples, vendadas, amordaçadas ou atadas, ou combinações destas. Sobre a luz da cabeceira ficaria Lara deitada ,com as mãos amarradas à grade da cama, com um grande lenço vermelho e um fino lenço negro vendando seus doces olhos. Foi quase cruel resistir à tentação de a deixar assim exposta, sem lhe tocar, percebendo que, também ela, não ficara indiferente.
A hora do workshop chegara e prudentemente entraram as quatro formandas. Em silêncio observaram toda a exposição. Tiveram tempo para observar Lara detalhadamente. Ela não as podia ver. Não era constrangedor observar os detalhes dos nós.
- Estão preparadas para começar? - Inquiri as quatro.
- Não sei se estou mas sei que quero. - Disse Rita
- Sim estou. - Afirmou Ana com segurança
- Acho que sim... - Respondeu Carla com cautela
- Sim. - Sem hesitações de Sandra
- Então começo. - Afirmei
- Os lenços para além de serem os mais versáteis acessórios promovem uma sensualidade muito visível mas frequentemente despercebida. As hospedeiras são disso um grande exemplo; são belas, tem fardas elegantes e o lenço que muitas usam dão um charme e uma especial sensualidade. Uma mulher quando desata um lenço do pescoço é como se fosse um breve despir sem ficar nua, movimentando-se com uma fantástica sensualidade. Um lenço no cabelo que faz realçar uma expressão facial ou um olhar especial. O lenço adiciona uma aura de mistério que torna a mulher mais sensual. E, é raramente conhecido, há os homens que se derretem quando uma mulher ata, usa ou manipula um lenço e ficam completamente seduzidos. É o erotismo que estes quadrados de tecido transportam.
Até agora só falamos dos lenços que se vê mas vamos conhecer melhor os lenços que interagem. O melhor exemplo é o lenço que se usa para vendar, como aquele que está colocado na Lara há algum tempo. Nada melhor que um suave lenço para vendar. Tem tudo de erótico. O escolher um lenço, o dobrar e o atar sobre os olhos. É sabido que ao limitar um sentido apura os outros. Estar vendada faz com que o tacto, a audição e olfacto se tornem mais poderosos, o corpo mais reactivo o efeito de surpresa mais acentuado e a curiosidade mais aguçada. Tudo contribui para um grande aumento do erotismo. Vamos fazer umas experiências.

Aproximei-me da Lara, sentando-me junto à cama. Desatei um botão da blusa permitindo um vislumbre do peito. Lara não estava preparada e tentava manter a postura. Já estava vendada há perto de uma hora.
- Agora vão ver o que acontece a quem está assim indefesa e vendada, tentando não denunciar o seu estado. - comentei passando o meu dedo, com uma leveza de pena e extrema lentidão, do pescoço até entre os seios. Em seguida, da mesma forma, desenhei no contorno dos seus lábios. Lara contraia todo e cada músculo. Mas era evidente toda a excitação que a consumia. Em absoluto silêncio e totalmente focadas as alunas observavam este resultado quase incrédulas.
- Vamos a nova experiência: Peguem num lenço cada e dobrem em fita. Coloquem os braços esticados, com as palmas das mãos assentes na mesa e subam as mangas.

Passei o um dedo em todas, à vez,  pelos seus braços até ás suas mãos, sempre lenta e levemente.
- Sentiram alguma coisa especial?
- Não.  - Respondeu Rita que reflectiu a resposta de todas
-Vamos continuar. - Afirmei

Levantei-me e uma a uma, vendei-as com os lenços que estavam na mesa, por elas habilmente dobrados em fita.
Deixei-as estar por uns momentos em silêncio e aproveitei para desvendar Lara e desatar as suas mãos.
- Obrigado. - Sussurrei ao seu ouvido após um discreto beijinho na testa.
Lara, sempre em silêncio, abanou a cabeça como um "não", com um sorriso que transmitia mensagem, como se me dissesse "foste novamente maroto".
Voltei a falar para as formandas mas desta muito mais baixo.
- Este exercício demonstra o estímulo sensorial que uma venda provoca.  E mais: estes silêncios e pausas têm um grande impacto erótico. Há um efeito de antecipação. Estimula a vossa zona mais erógena: o cérebro.

Repeti a provocação anterior escorrendo, muito subtilmente, um dedo ao longo dos seus braços.
- Notaram a diferença?
- Muito diferente. - Balbuciou Carla
- Sente-se muito mais. Arrepia. - Completou Ana
- Ui - Sandra deixou escapar
- Podem desatar os lenços dos olhos.
- Para se fazer uma venda eficaz os melhores lenços são os de algodão fino. Quanto mais velhos e gastos melhor. A textura confortável, a sua opacidade e a capacidade de não escorregar como os de poliéster ou de seda. Recomendo que seja dobrado em fita larga porque permite ter alguma área sobre a testa que o deixa mais firme.
Há um grande número de actividades sensuais nas quais se usam vendas; como a simples surpresa de um presente, local ou uma mesa bem posta para jantar, o gelo imortalizado no nove semanas e meia, provas de sabores ou aromas, massagens, provocações ou mesmo simples expectativa de não se saber o que o/a parceiro/a está a preparar. Uma infinidade que só depende da imaginação e vontade. Muitas vezes ajuda a abstrair do ambiente que nos circunda. Por exemplo: num quarto de pensão com pior qualidade que desejamos ou ao ar livre o ambiente pode criar algum constrangimento e vendar os olhos pode ser uma boa forma de contornar essa questão.
Pode ainda acentuar uma situação de domínio. E, desta forma, já entram outros lenços. Imobilizar com lenços é confortável e eficaz. Não deixa vestígios nem fere. O domínio/submissão tem muito a ver com erotismo. Mesmo no reino animal: o macho dominador tem mais fêmeas. Os lenços permitem um domínio suave, muitas vezes chamado Light Bondage, Love Bondage ou, como gosto mais, Scarf Bondage. Os papeis podem ser invertidos sempre que se deseja.
A técnica é simples e passa por ter lenços grandes, dobrados em fita e sempre que se amarra cruzar o lenço mais que uma vez e dar o nó no meio, depois de uma ou duas voltas. Serve para pulsos, tornozelos ou para ligar a objectos como cadeira ou cama. Este tipo de domínio permite uma entrega acrescida. É uma grande prova de confiança. Nesta fase é importante criar uma palavra de segurança. Por exemplo o nome de uma cidade. Quando citado tudo deve parar. Evita enganos e permite negar algo que na verdade se pretende continuar e permitir ao parceiro lá chegar, aumentando o cenário erótico.
Vamos praticar - Sugeri.
Duas a duas, aplicadas com tanto interesse, seguindo os exemplos que eu demonstrava na Lara. Era indescritível a sensação de o poder fazer desta forma e neste ambiente. Difícil, apenas, foi manter a postura.
- Ainda há um passo mais atrevido no domínio com lenços: as mordaças. Se uma pessoa amarrada e vendada fica indefesa ao adicionar uma mordaça fica completamente impotente. Totalmente nas mãos do outro. Mais uma vez o código de segurança é imprescindível. Três batidas seguidas é o alarme.
Novamente os lenços são ideais para está técnica. Não deixam marcas nem o desconforto das fitas adesivas ou objectos para esse fim.
Podemos fazer de 3 formas:
- Atar une lenço em fita sobre os lábios. Saí facilmente com o movimento e é mais para simular.
- Atar o lenço em fita passando entre os dentes e apertar mais. - Já é mais restritivo mas, embora abafe o som, é ainda possível falar.
- Introduzir um lenço todo dobrado entre os dentes e atar, um segundo, por cima bem apertado, também entre os dentes. - bastante restritivo e impede de falar com razoável eficácia. Pode ser mais incómodo.

Desta apenas demonstrei na Lara que, mais uma vez, se sujeitou heroicamente a ficar toda amarrada, vendada e amordaçada, vezes sem conta.
Finalmente soltei Lara quase atordoada de tanta experiência.
- Obrigado - Sussurrando, novamente após o beijinho na testa.
As duas horas previstas foram mais que dobradas.
O preço do extra não tinha, ainda, sido divulgado.
Lara pegou numa folha de papel, escreveu algo e dobrou.
- Meninas, o preço está aqui escrito mas antes de o saberem ainda queria algo de vós. Será indicado em dez minutos.
- Dez minutos?! - desta não estava à espera.
- Dez minutos. E caso o David não consiga indicar o preço nesse tempo obviamente que não nos será possível pagar.

Durante uns momentos fez-se silêncio mas, subitamente percebia-se pelos seus olhares e largos sorrisos, descodificaram a mensagem.
Lara como que se encontrasse a "vingança" pelo que passou nas últimas horas deu o mote.
- Meninas, não façam cerimónia. - Empurrando-me para a cama agarrado pelo braço.

Num instante, armadas de lenços, aplicaram tudo o que sabiam deixando-me, em X, completamente imóvel, naquela cama.
- Já passaram os 10 minutos, as contas estão feitas. Vou acompanhar-vos à saída. Finalizou Lara despedindo-se das formandas.

Passado bastante mais tempo que eu previra para uma breve despedida, voltou à sala de formação onde me encontrou, obviamente, como fora deixado.
- Estava cheia de calor e fui por-me bem mais confortável. Perdoa-me a demora contigo assim - Disse sarcasticamente enquanto, sem pudor, me arrancava as calças.
- Depois de tudo vou, agora, me servir de ti. Se tiveres alguma objecção diz. Ah! Não consegues dizer nada. Coitadito. - Ainda mais sarcástica.

No mesmo instante senti a sua pele contra a minha. Sem perguntas nem licenças, sem preparativos nem regras. Lara sentada em mim, mantendo-me infiltrado no seu quente interior sem me ter apercebido como. Lara fervera todo este tempo, tal como eu, e não perdoou nem mais um segundo.
Foram instantes para ambos atingirmos o pico mas Lara continuava outra, e outra escaladas, sem que eu conseguisse fazer nada. Era dona e senhora do momento até subitamente parar, ouvindo-se exclusivamente a sua ofegante respiração, como se terminasse uma maratona.
- Obrigada. - Sussurrou, ainda naquele tom sarcástico, após me beijar delicadamente a testa.

Desapareceu deixando-me sem soltar nenhum lenço. Ouço-a ao fundo. Está a compor-se. Depois de tudo só a vou poder ver vestida. Elas aprenderam mesmo bem. Não consigo mexer um milímetro.
Finalmente volta.
Sentada, de lado, na cama, desatou-me os pés, as mãos, os olhos, a boca, devagar, muito devagar, lenço a lenço, como se estivesse a gozar o momento.

- Agora vou para casa. Podes arrumar a sala da formação?
- ...Sim - Ainda meio perdido.
- Foi um óptimo dia. Até amanhã. - Saindo apressada.
- Até amanhã.

QT



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