Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Amiga especial

Acabara de chegar ao sexto andar, que se encontrava sem iluminação. Com o fio de luz que escapava do elevador orientei-me, com dificuldade e as apalpadelas, até carregar o botão da campainha. 
- Só um segundo. - pediu Lisa, antes de abrir.
Que prepararia ela?
Sem ter tido tempo para me alargar na imaginação a porta abriu e um lenço era instantaneamente atado sobre os meus olhos. 
- Vais ter ficar assim por um bocadinho. Tenho a casa num caos e não quero que vejas toda a minha desarrumação. 
Nem consegui perceber como era este lenço, de textura suave, que me deixa tão curioso sobre o que se passa a minha volta.
- Senta-te para ficares confortável. - indicou Lisa guiando-me até ao seu sofá.
- Estas a provocar-me? Sabes o efeito que estes lenços têm sobre mim? Especialmente quando vendado.
- Claro que sei. Não tens segredos que eu desconheça. Ou ainda tens? - provocou como gostava.

Lisa era amiga de longa data. Passávamos horas a conversar sobre tudo. Normalmente em casa dela mas, às vezes, um mero passeio ou ida ao cinema adicionava mais descontraídas horas de conversa. Não era uma utilizadora frequente de lenços mas, esporadicamente, usava um prático lenço em fita a segurar o seu cabelo que não me deixava indiferente mas sempre tentei disfarçar a minha fraqueza ao vê-la assim.
Mas, mais que uma vez, muito subtilmente, introduzia o tema dos lenços nas nossas longas conversas ou tentava fazer com que mostrasse ou  usasse algum. Sempre tive uma infinita confiança em Lisa mas, mesmo assim, tinha algum constrangimento em revelar o meu segredo.
A primeira vez que abordei o tema falávamos dos filmes de cinema e não resisti a contar as cenas em que Kim Basinger era vendada com um lenço, primeiro um branco e depois um preto - que na verdade eram echarpes - realçando a sensualidade e provocação que criava. Passei tempos a magicar como a faria usar lenços até que um dia, entre nossas longas horas de conversa, falávamos da sua técnica de desenho - Lisa tinha um grande talento para desenhar - e de como fazia nas respectivas aulas. Contou-me um exercício em que fixava objectos e tentava desenhar de olhos fechados. Foi a minha oportunidade de ouro.
- Quero ver isso. - desafiei.
- Um dia mostro. 
- Está combinado?.
- Claro.

Passados vários dias, na sua casa, relembrei-a:
- E os desenhos?
- Quais? - perguntou surpresa.
- Aqueles que fazias sem olhar. Mostra-me.
- Está bem. Vou buscar papel e lápis.

Enquanto esperava pensava como ia conseguir que se vendasse com um lenço. Não queria uma fita qualquer ou algo como mascara de dormir.
- Aqui está. Que queres que desenhe?
- Espera assim vais espreitar. - perguntinha tudo menos inocente.
- Eu fecho os olhos.
- Mas quero ter a certeza que não vês mesmo nada.
- Queres que tape os olhos? - perguntou algo espantada.
- Claro. Assim é mais verdadeiro e tem mais graça.
- Está bem. Vou buscar algo. - e foi ao quarto sempre muito avontade.

Estas esperas eram curtas mas deixavam-me incrivelmente ansioso.
- Aqui está. Serve?

Trazia um lenço grande semi-transparente em tons de azul. Que sorte! O plano corria muito bem.
- E um pouco transparente. Assim podes ver. - provoquei muito propositadamente.
- Não se vê depois de dobrado. Espera.

Dobrou o lenço em triângulo e fez uma fita. Atou sobre os seu olhos e verificou que era eficaz. Em seguida atou sobre os meus olhos e perguntou:
- Vês alguma coisa? É bom não é?
- Perfeito. - concordei.
- Então queres que começe a desenhar? - perguntou enquanto desatava o lenço dos meus olhos.
- Vamos.
- Escolhe o que quiseres.
- A minha mão.

Fixou-a durante um minuto e disse:
- Estou pronta. - dando a perceber que a podia vendar.

Vendei-a lentamente para saborear todo o momento. Desenhou com muito rigor, tendo em conta que não via nada. Pude olhar para ela indiscretamente. Não me via, nem percebia o meu estado.
Repetimos com mais desenhos, vendado-a igualmente para todos. Foi espectacular.
A partir desse momento, e sempre que estávamos juntos, tinha vontade de inventar outra brincadeira. A conversa e o convívio eram sempre excelentes mas este precedente deixou a minha imaginação em brasa. Era bem mais forte que eu.
Finalmente, uma nova oportunidade surgiu, num dia em que casualmente se falou de penteados, com segundas intenções sugeri:
- E se eu te fizesse uns penteados? - como se fosse inocente.
- Queres? O que precisas? - respondeu sem hesitar, como era seu hábito.
- Deixa-me pensar. Umas coisas para o cabelo. - hesitei para ganhar coragem e dar um ar ocasional.
- E que coisas? - retorquindo de seguida.
- Uma escova deve dar jeito. - ainda a tentar ganhar coragem...
- Calculo que sim. E mais?
- Ganchos, fitas, lenços e elásticos. O que achas? - propositadamente os lenços não foram nem primeira nem última sugestão.
- Vou buscar. Espera.

Lisa veio com uma caixa de ganchos e elásticos e uma embalagem de plástico transparente com fecho onde dava para espreitar um conjunto de lenços.
- Aqui estão. Só faltam as fitas. - sempre no seu estilo descomplexado.
- Não te preocupes, já tenho mais que suficiente. - os lenços já lá estavam, pensei.

Gostava que lhe mexesse no cabelo e, tentando dominar a minha ansiedade, comecei por a pentear. Experimentei  uns ganchos em diversos locais da cabeça, elásticos de forma a fazer penteados divertidos. Retirava tudo voltava a pentear e repetia. Parecia entretida enquanto eu tentava encontrar o momento certo par lhe colocar lenços sem me denunciar. 
Após passar algum tempo, que senti eterno, como se nada fosse diferente abri, finalmente, a embalagem dos lenços.
- Vamos ver sei fazer alguma coisa com isto. - tive de dizer disfarçando a minha vontade.

Era tão difícil dominar o meu desejo e cada vez seria pior. Cresceria exponencialmente quando lhe colocasse os lenços.
Retire-os todos e abri um a um. Encontrei um lenço branco, de algodão, com riscas em tons de vermelho. Dobrei em fita e usei para lhe amarrar o cabelo em rabo de cavalo. 
Tinha começado e agora já podia por de toda a forma. Experimentei de varias formas no cabelo.  Em fita larga ou estreita, de nó atrás da nuca ou em cima, em triângulo estilo camponesa, invertido estilo retro ou "working woman", os maiores estilo Grace Kelly, combinava mais que um e desci ao pescoço, onde pude explorar uma outra panóplia de formas; nó à frente, atrás, de lado, mais que uma volta, numa infinidade de combinações. 
Mais importante que tudo Lisa estava a gostar de tudo isto.
A minha vontade de ir mais longe agravava-se. 
- Agora à tenista. - sugeri, nada inocente.
- Como é? - perguntou curiosa.
- Em fita na testa.
- Ah! Claro. Não tinha pensado.
- Viras-te? - sugeri.

Usei um vermelo azul escuro que, ao atar sobre a testa, ficou "acidentalmente" mais abaixo que esperado deixando-a vendada. Levei, propositadamente, tempo demais a dar o nó, a ajeitar-lhe o cabelo e verificar  o resultado mas Lisa nada dizia esperando que eu desse por aquele "erro".
- Ah! ficou mais baixo. Assim não vês o que fiz! - exclamei como se estivesse enganado.
- Pois é.
- E agora? - provoquei
- Agora não sei. Não vejo. - sempre de pronta resposta.

Cada vez com mais vontade de ir mais longe lutava comigo próprio para me manter controlado. Estava deliciosa - vendada com um lenço e outro no pescoço - mas não queria provocar nenhum constrangimento.
Levantei-a e passei-a um pouco pela apertada sala. Lisa estava, agora, ligeiramente perdida sem perder a postura, curiosa mas sem perguntar nada. Assim podia olhar deliciado de todos os ângulos.
Voltei ao sofá onde a sentei. Já não conseguia resistir mais. as minhas mãos escorreram levemente pelo seu corpo expectante, desciam a partir do seu pescoço pelos braços, subiam pelas costas, voltavam a descer pelas costelas e rodeavam seu peito sem lá chegar. Subitamente os lábios encontraram-se. Quase por casualidade, quase por destino. 
Por um momento paramos os dois temendo que fosse longe demais, comprometendo a nossa antiga amizade agora mais "colorida". Sem pronunciar palavra Lisa inclinou ligeiramente a cabeça para que lhe tirasse a venda. Desatei o nó muito lentamente. Sorrindo uma para o outro como duas crianças que tinham acabado de fazer uma marotice. Continuamos a conversa noite fora como se nada  acontecera.
Passaram vários dias até nos reencontrarmos. Tudo voltara a uma normalidade algo suspensa. Muitas visitas e saídas passaram. Talvez mais de um ano. Eu não nunca tinha coragem de falar no que tinha acontecido e Lisa não associara aos lenços. Teria sido um acaso. A vontade de falar já era muita até que numa noite de conversa longa resolvi contar a partir do nada.
- Sabes que tenho um segredo?
- Tens? E vais contar-me? - desafiou.
- Vou. Eu tenho algo que me deixa louco. Descontrolado. 
- Há?! Tu que costumas ser tão controlado. O que é? - agora muito curiosa.
- ...Lenços. - após longa hesitação.
- Lenços?! 
- Sim. Algumas coisas "diferentes" que aconteceram connosco tiveram lenços pelos meio. Nunca reparaste?
- Se juntar as peças todas agora, até me lembro mas nunca associara.
- Só podia ser contigo porque és uma amiga excelente.
- Mas conta-me mais. - pediu
- Algo que me persegue desde cedo. Este fetiche por lenços que torna as mulheres super atraentes.
- Vais me contar tudo que adorava saber.
- Claro. E quero contar-te tudo. Queres me trazer os teus lenços?
- Quero, quero. Venho já.

Trazia todos os seu lenços. Como da vez anterior voltamos a brincar com todos. Desta foi a primeira vez que não tive de disfarçar e foi a primeira que fiz tudo o que me lembrei sem nenhuma limitação. Entretanto ia contanto todo e efeito que tinham em mim. Libertando todos os segredos despido de preconceitos.
Era um livro aberto para Lisa que, nos nossos encontros recorrentes, pontualmente provocava-me como eu a provocava.  Divertia-a. Os lenços aproximaram-nos ainda mais a partir da nossa sólida amizade.

Assim partilhei meu segredo mais profundo, no mesmo sofá onde me encontrava sentado, vendado com um lenço, que nem tinha tido tempo para perceber como era, à espera que Lisa acabe de arrumar a sua casa, numa corda bamba para me manter controlado. Sabe bem disso, sabe como fico, sabe que esperar assim me faz ferver ainda mais. Era propositado.
- Já está dado um jeitinho à casa. Queres ver? - perguntou com ironia.
- Quero.
- Ainda não vou deixar. Vou passear-te.

Desta foi Lisa que me fez passear na sala sem ver, ao som se Simply Red. Sem deixar perceber de onde vinham sentia os seus toques, os seus encostos, o seu calor ou sua provocatória proximidade.
Deixava que os meus dedos a procurassem sem nunca se deixar encontrar. Escorregava entre as minhas mãos para me manter neste escaldante jogo.
Parou..., veio por trás de mim, sem que eu me apercebesse como, desfraldou a minha camisa.
- O que vais fazer? - era-me impossível não perguntar
- Schhhh... Só eu... - fazendo uma ligeira pressão, com a sua mão na minha boca, para me silenciar.

Sempre por trás subiu as suas mãos a partir da da minha barriga. Encostou a cabeça nas minhas costas e ficou acariciando infinitamente o meu peito.
Percebi que nessa noite precisara mais que apenas conversar. Ali fiquei em pé, vendado, com Lisa aconchegada, imóveis até que o CD terminasse.
Quando se fez silêncio um inesperado arrepio percorreu-me, na expectativa da continuação, mas levou bastante tempo ate me rodar gentilmente para a sua frente, agarrando as minhas mãos, que eram desviadas para as suas ancas. Fiquei expectante. Tentava perceber para onde me guiaria. Juntou-as no botão de baixo da blusa, denunciando a sua intenção.
Abri o botão pausadamente. Subi ao segundo abrindo do mesmo modo, ao terceiro, ao quarto e a blusa caia. Teria, já, o decote muito desabotoado para qualquer fim. Virou-se de costas para mim, percorri o caminho que não via até chegar à mola do soutien que me custou a soltar. Ouvi, novamente o doce som de tecido a cair no chão.
Quando não se pode ver temos de usar os dedos para ler. Li todo o seu tronco..., barriga..., costas..., seios..., braços..., tudo... Li as linhas e entrelinhas do corpo de Lisa que contorcia respostas.
- Não quero ter mais luz - sussurrou enquanto desatava o lenço que me vendava.

Deixou o lenço nas minhas mãos inclinando a cabeça para trás como a sugerir a troca. Sem pedir licença vendei-a com precisão.
Deitei-a no sofá, expondo-a à minha vontade. Desci sobre os joelhos encostado ao seu lado. Agora via eu. Tocava, amassava, digitava, provocava... Passo a passo alargava o campo de exploração. A pontinha dos dedos já passava debaixo de alguns elásticos.  Nunca demasiado. Apenas o suficiente para deixar a dúvida. Estávamos a chegar ao limite da nossa resistência quando nos apercebemos que o passo seguinte seria mais comprometedor. Escorremos para um longo abraço e ficamos. Baixei, sem desatar o nó, o lenço que a vendava. Seguidamente voltei a subir o lenço passando a testa para deixar em fita no seu cabelo. Fiquei a contemplar e Lisa de volta olhava. Já era muito longa a noite. Devia partir.
- Essas mãos são um perigo imenso. - balbuciou em despedida.


QT





  




   



1 comentário:

  1. Cada vez melhor.Encheu-me de idéias !Tão ...tão cheio de detalhes e tão real! Adorei ,como a todos os anteriores.Parabéns.

    ResponderEliminar