Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

domingo, 2 de março de 2025

Fazes me sentir bem. Tem Mal?

 

Mal conhecia Maria, embora me sentisse surpreendentemente confortável na sua virtual companhia em conversas online. 

Gentil, conversadora, sem complicações nem hesitações, com o seu modo docemente directo de falar.

Mais que tudo tem uma presença simplesmente simpática.

Sentia vontade de lhe falar sem segredos, de ignorar os constrangimentos, por não nos conhecermos há muito tempo, e de lhe perguntar tudo o que a curiosidade suplicava mas a timidez não permitia.

Após um fim de semana, no seguimento da cordial mas interessada pergunta, de como o tinha passado, respondeu-me que tinha estado em limpezas.  

Permiti, inadvertidamente, algum protagonismo à minha atrevida curiosidade. 

- E protegeste bem o cabelo?

- Sim, coloquei um lenço. - Respondeu sem hesitar.

Era a resposta que sonhara ouvir mas não estava pronto para lidar. Tentava não ficar embaraçosamente mudo nem descontroladamente falador, para não confessar que me seduzira com uma singela frase.

Surpreso pela acutilância, derretido pela sensualidade e sem rumo definido deixei-me levar pelo raro e delicioso momento.

- E como o prendeste?

- Em triângulo, com nó atrás. - Sem ter consciência do quanto me provocava.

- E que cor é? - Aprofundando o tema

- Azul. Gostas?

- Muito.

- E porque gostas do lenço? 

- É muito sensual. Demasiado... - Confessei o que tinha há muito vontade de confessar, mas não tinha encontrado a quem.

- E eu gosto que gostes. E gosto de saber disso - Gentilmente respondeu quase em trocadilho.

Saber que tinha usado um lenço na cabeça em triângulo, atado atrás, na forma que mais me seduz, já era desconcertante. Sentir que havia alguma curiosidade sua por este fenómeno ainda mais derretido me deixava. Ficava a vontade de passar horas na conversa, de saber mais de Maria mas todos temos os nossos tempos e as nossas tarefas. 

Ansiava pela oportunidade seguinte de conversar com Maria. É tão bom poder falar com quem perfuma a conversa de simpatia e ao mesmo tempo me permite a liberdade de partilhar o meu segredo. 

Era frequente me dizer que ia prender o cabelo. Já tinha percebido que por mais que tentasse resistir tinha de lhe perguntar como.

- Com o meu lenço azul, em fita de nó em cima. - Sabendo que me provocava respondia assim.

- Deves estar tão gira e sensual. Como adoraria ver-te! - Tentando me conter na quantidade de elogios que realmente me apetecia fazer. Temia que a deixasse constrangida ou que achasse forçado.

- Gosto de conversar contigo. - Confessou no seu habitual registo sincero

- Fico mais que feliz por saber. - Tanto que me deixa quase corado.

Com Maria tudo saia naturalmente embora toda a conversa fosse online, por ainda não nos termos conhecido pessoalmente.

O que pode parecer trivial para a maioria é íntimo para alguns quando, passados poucos dias, me disse que tinha 15 lenços. Teve o cuidado de os contar para me dizer. Sabia que me provocava mas certamente não imaginava como. Imaginei-a, passo a passo, a abrir a sua gaveta e suavemente levantando o canto de cada lenço para os contar. Senti-me a partilhar a sua intimidade como se duma confidência fosse. 

Queria saber tudo mais para prolongar esse especial momento mas não tive a coragem de o confessar. Queria saber quantos grandes e quantos pequenos, quantos de algodão, sintéticos ou seda e as respectivas cores ou padrões. Desejava fortemente transformar essa confidência numa imagem mental.

- Sabes que gostei muito do que me contaste. É muito provocador. - Tive novamente vontade de confessar.

- Gostaste? A sério?

- Adorei.

Enquanto me encontrava nesse imaginativo turbilhão oportunamente pediu:

 - Espera um bocadinho. Já volto.

Passados dois minutos voltou.

- Fui buscar um lenço para prender o cabelo. - Prontamente declarou

- Como adorava ver-te. E como o prendeste?- Não conseguindo evitar de o dizer.

- Fiz uma fita e dei um nó em cima. 

- E que cor é o lenço. - Sem conseguir conter a minha curiosidade.

- Azul. Gostas? - Em tom ligeiramente provocatório.

- Mesmo sem ver tenho a certeza que sim. Muito...

Sabia como fazer a minha imaginação voar, deixando-me pontualmente sem palavras. Era um silêncio que muito dizia.

O tempo e as múltiplas conversas sem preconceitos, aproximavam-nos intimamente, pouco a pouco. 

A minha vontade era expor o meu segredo cada vez mais e o desejo de um encontro crescia em proporção.

De qualquer modo o mistério de ver apenas sua escrita era provocador.

Estava a ficar louco para saber como era nem que fosse apenas seu contorno ou ouvir sua voz.

As nossas conversas cresciam. Tanto em tempo como em intimidade. Provocávamos-mos frequentemente até limites que fariam corar meio mundo.

Sabia como me inflamar e como usa-lo.

- Sabes que estou com um lenço na cabeça? - Propositadamente me seduzia.

- E como ataste desta? - Inquiria ansioso enquanto criava uma imagem mental.

- Apenas em fita com nó atado em cima. - Respondia com sensual simplicidade.

- E que cor? - Desejando ver mais

- Rosa. 

- Adoro

- E que farias se estivesses aqui?

- Não me provoques

- Que farias? - Insistia perversa.

- Brincava com o teu lenço em ti.

- Como me colocavas? - Impedindo-me de fugir à questão

- Desatava o lenço, abria a fita e dobrava em triangulo e punha-te como camponesa.

- Gostas?

- Adoro.

- Paravas ai?

- Não era capaz.

- E?...

- Voltava a desatar o teu lenço. Não resistia a vendar-te.

- Eu deixava-te vendar-me. - Sabendo que assim me tinha na mão.

- Coloco-te pesadamente as mãos sobre os ombros - Passando a falar no presente.

- Tão bom...

- Desço as mãos pelas costas e por cada vez que subo, pela frente desaperto um botão da tua blusa. Aos poucos exponho a tua barriga até desapertar todos

- Estico-me para ti...  

- Deixo cair a blusa... Olho bem para ti agarro o teu corpo e encosto ao meu por uns instantes. Desprendo discretamente o teu soutien que cai indefeso.

- Contorço-me para que vejas bem a minha sensualidade.

- Atrevidamente respiro quente sobre o mamilo esquerdo. Aos poucos aproximo-me em silencio aproveitando estares vendada. Até que envolvo o mamilo com os lábios.

- Empurro o meu peito para ti.

- Lambo imoralmente o teu mamilo alternado com o outro enquanto te desaperto o botão das calças.

Nesta altura já tinha sido passado o ponto do não retorno. Virtualmente envolvidos, num pecaminoso cenário que nos humedece e descontrola. Maria deixa-se ir e eu, que nunca imaginara ser capaz desta virtual intimidade, sou arrastado pela sua profunda sensualidade.

- Tiro-te a Camisa - Contra-ataca Maria

- Coloco-te os dedos pelo interior das cuecas rendadas forçando-as pelas tuas pernas abaixo. Percorro avidamente todo o teu corpo com as minha imorais mãos.

- E eu puxo-te para mim.

- Com as duas mãos agarro fortemente as tuas nádegas puxando-te também, de frente contra mim. Vais ser o meu prato principal.

- Vem para mim.

- Empurro-te, ainda vendada com lenço rosa, para a cama e abro-te bem as pernas expondo-te à minha imoralidade. Com os lábios mordisco o interior das tuas coxas.

- Vem mais...

- Quero saborear-te.

- Saboreia

- A minha língua percorre o perímetro da tua intimidade. Sinto o teu delicioso cheiro a mulher. Até que sem mais resistir procuro o teu sabor.

- Faz-me feliz.

- Provo superficialmente a tua intimidade. 

- Eu abro-me mais para ti, puxando a tua cabeça para mim.

- Aos poucos aprofundo a imoral exploração juntando os lábios à língua.

- Vem mais fundo.

- Obediente persigo o limite até onde o posso esticar. Adoro todo o teu gosto. 

- Não pares.

- Com as pontas de dois dedos cuidadosamente aperto o teu volume do prazer e sugo-o levemente com os meus lábios. 

- Aí também gosto tanto...

- Vou e volto sempre ao ponto de partida. Entre os lábios e a língua mordisco esse delicioso clitóris com a cabeça bem encaixada entre as tuas pernas.

- Aperto-te com as pernas pedindo mais. - Empurrando-se contra a minha boa. 

- Mais e mais fundo saboreando-te profundamente. Puxo-te para mim pelas nádegas introduzindo minha língua, lentamente, explorando o teu húmido fundo.  

- Contorço-me.

- Pouso pesadamente as minhas mãos sobre teus seios sem tirar a língua do teu interior lambendo e sugando repetidamente.

- Ai...

- Estou a tocar-me enquanto escrevo. - A confessar o que fazia no real enquanto me perdia no virtual.

- Eu também. Igualmente confessa.

- Toca-te fundo, minha querida, imagina ser eu. Vem-te comigo.

- Estou quase...

- Também estou quase a pingar.

Um longo momento sem escrita deixa perceber que ficamos incapazes de teclar.

- O que te aconteceu. Questionou-me curiosa.

- Molhei-me. Por tua culpa. - Acusei com provocação.

- ...eu também. E a culpa é tua. - Ripostou da mesma forma.

- Levas-me ao céu mesmo sem nunca nos termos visto.

- Bigada!

- Como te sentes?

- Cansada.

- Só cansada?

- Fazes-me sentir bem. Tem mal?

- Claro que não. Adoro saber e participar.

- E tu?

- Sinto-me nas nuvens. És deliciosa. Quero ver-te.

- Um dia...

- Eu espero. Tenho a certeza que vale a pena.

- Vai valer.

- Agora voltamos. Falamos em breve

- Sim tens razão.

- Beijinhos. 💋💋💋💋💋

- Mais beijinhos para ti. 💋💋💋💋💋💋💋💋. 


Não fora acontecimento único. Pontualmente repetíamos estes virtuais e apimentados encontros. Em cada um tentava visualizar como atava o sensual lenço que usava para me provocar, a sua doce expressão, o seu corpo a contorcer, o seu aroma, o seu gosto, a sua voz...


Até hoje não sei se Maria é real. É, no mínimo, a minha melhor fantasia virtual. Espero que nunca acabe. 


QT


quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O Lenço: O Guia Definitivo


O Lenço: Guia definitivo para a mulher que não está aqui para agradar ninguém — mas que o vai fazer com muito estilo.

Toda mulher tem o direito inalienável de usar um lenço — seja para se proteger do sol, para não lavar o cabelo, para parecer misteriosa, ou apenas para disfarçar o facto de que está exausta de tentar salvar o mundo antes do pequeno almoço.

Já se passaram 10 anos desde a última grande crise (ou talvez só desde ontem), e sinceramente, não há desculpa para uma mulher não usar um acessório fabuloso — mesmo que esteja só tentando sobreviver ao supermercado com dignidade. Uma ida à modista? Caso exista ainda uma, ótimo. Se não, o Pinterest está aí para isso.

O lenço é o acessório mais versátil, mais dramático e mais “deixa-me em paz, estou fabulosa” que existe. E sim, já foi subestimado por séculos — assim como as mulheres.

A seguir, o uso do lenço nas três situações principais da mulher moderna: em casa, na selva social e no safari emocional das viagens.


🏠 No Domicílio

Use diariamente — se quiser. Ou não. Mas se usar, que seja com categoria.

Na cozinha: Um lenço na cabeça evita cabelos na sopa e pensamentos homicidas enquanto faz o jantar. Combine com o avental ou com sua aura de “já fiz demais hoje”.

Na limpeza: Amarre um lenço como se fosse uma heroína doméstica dos anos 50 — só que agora com podcast feminista nos fones e zero vontade de agradar ninguém.

Em tarefas mais leves, como organizar a estante de livros que você comprou mas nunca leu: use um lenço em fita, no melhor estilo intelectual-chique, e finja que é francesa.


💅 Socialmente

Aqui a criatividade reina — dentro da sua própria república independente de bom gosto.

Entre amigas: liberdade total. No cabelo, no pescoço, no tornozelo, na cintura. 

Em reuniões familiares: O lenço pode suavizar perguntas como “E os namorados?” ou “Não vais ter filhos?” ao ser dramaticamente posicionado sobre os olhos, em sinal de desespero elegante.

Na igreja: Use um lenço sóbrio, se quiser. Ou então, use um com estampa de unicórnio para lembrar que acredita em milagres — tipo respeito às mulheres.

Em eventos formais: Nada de ofuscar o vestido com o lenço? Por favor. Ofusque quem quiser. Só não se esqueça de tirar o casaco, o trauma e o patriarcado na entrada.


✈️ Passeios e Viagens

Aqui é onde o lenço brilha — e protege do vento, do sol, da poluição e de comentários de desconhecidos.

Praia: Lenço na cabeça, óculos escuros, com a cara de quem vai escrever um romance a qualquer momento.

Frio: Lenço enrolado no pescoço tipo diva soviética pós-guerra fria. Óculos escuros opcionais, sarcasmo obrigatório.

Descapotável? Se o homem quiser que entre num carro sem teto, que traga também um lenço, uma manta e um chocolate quente.


💣 Variações Arrojadas

Na cintura, como cinto revolucionário contra a ditadura estética.

Na bolsa, para dar aquele toque “estudei design em Berlim, mas só por hobby”.

À pirata? Com certeza. Saia para apanhar sol como se fosse enterrar um tesouro 


👜 Essenciais

Toda mulher moderna deve ter uma panóplia de lenços: pequenos, médios, grandes e gigantes (caso lhe falte uma vela para o barco).

Leve sempre um na bolsa — nunca se sabe quando o vento se vira contra si ou quando uma microagressão precisar ser abafada com classe.

Em caso de situação inapropriada? Coloque o lenço na cabeça, ergua o queixo e saia como uma estrela de cinema que não tem tempo para esse tipo de disparate.


🎯 Considerações Finais

Roupa colorida: lenço sóbrio.

Roupa estampada: lenço neutro.

Duas peças com lenço ao mesmo tempo? Apenas se estiver lutando contra o capitalismo ou for estilista com manias de artista.

O lenço não é só um acessório: é uma armadura de tecido. É o grito silencioso de quem escolheu ser livre — com charme.




quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Intenção e Culpa

 

Cansada de não ser desejada, de não sentir nada que a leve mais longe, de não ter a adrenalina de quem quebra as regras e de não ter mais que uma enfadonha rotina. Era assim que se confessava a minha doce e grande amiga Lúcia que ia sobrevivendo a um casamento que já nada tinha para dar. Ignorada por um marido que, só muito pontualmente, cumpre as suas "obrigações matrimoniais", sem qualquer interesse e apenas como dever. Rápido e eficaz.
Por vezes porque ela pediu outras porque ele apenas precisa descarregar a sua íntima energia, embora com carinho e com absoluto respeito. Demasiado respeito. Invariavelmente sem duração, sem paixão, sem perversão, sem intenção, sem culpa...

Passaram os anos, agravava a carência. Passou de desculpável e, mais tarde, tolerável,  até se tornar perturbador. 

O divórcio foi a natural consequência de um casamento que em tudo arrefeceu.

A primeira vez que se abriu comigo foi depois de um jantar, com algum desinibidor excesso de álcool. No meio de animada conversa sobre prazeres da vida ironicamente deixou escapar que: "há quem queira muito e nada tenha"
Mantivemos sempre uma íntima amizade, falando-nos frequentemente sem constrangimentos. O tema surgia abertamente, em alturas de maior fragilidade,  embora com algum lamento.

Num sábado, de manhã, encontramo-nos na marina, pouco depois do nascer do sol, a convite de amigos comuns, para um dia no veleiro deles.  
Todos os anos acontecia este encontro. Embarcação grande, com mais de 15 metros de convés, partilhados por 10 pessoas. É sempre fantástica a navegação costeira, por entre ancoragens em praias inacessíveis por terra e um salutar convívio. Também é bom ter amigos assim.  ...e oportunamente ricos.

Sempre tive facilidade em navegar á vela. Por isto os ajudava muito a bordo com a manobra. 

Lúcia não estava indiferente. Gostava de ver e de navegar. Pontualmente perguntava-me sobre como fazer alguma coisa. E cheguei a lhe ensinar alguns nós. 
Numa simples brincadeira ato-lhe os pulsos para a testar.

- Tens jeito. - Verificando a eficácia.
- E dá jeito. - Devolvi segurando-lhe as mãos em cima.
- Assim fico mesmo presa. - Comentou baixinho, gemendo e contorcendo-se muito discretamente.
- Eu salvo-te. - Desatando-a rapidamente

Houve um subtil momento em que Lúcia pareceu diferente. Uma inusitada entrega. Qualquer coisa no seu corpo que, inocentemente, ainda me escapava.

Já depois do sol posto atracávamos, de volta à marina. 

Naturalmente cansada veio ter comigo.

- Estou um bocadinho cansada. Achas que me podias levar a casa? - Timidamente perguntou
- Claro que sim. Sabes que tenho todo o gosto. - Respondi sem hesitar
- É um grande favor que me fazes. 
- Não favor nenhum. Sabes muito bem que comigo não há absolutamente nada que não possas pedir. Somos tão próximos há uma eternidade. - Afirmei muito convicto.
- Pois somos. Obrigada mesmo assim... - Fazendo uma inusitada pausa como se tivesse ficado algo por dizer.

Sós no carro, a caminho da sua casa, a conversa aprofundava-se como frequentemente acontecia.

- E como tens passado? Já lá vai mais de um ano. - Discretamente referindo ao seu divórcio
- Não me perturba. Foram tantos anos inócuos que a única coisa que mudou é que as compras no supermercado são menos.  O mais emocionante que me aconteceu com ele, nesses últimos anos, era ir a um restaurante e comer um prato com excesso de picante. - No seu estilo mais sarcástico.

- O que te falta é picante. Vou te oferecer um Tabasco. - Não resisti à leve piadinha
- Tonto! - Protestou sorridente.
- Ou melhor: um cato. Picos não faltam! - Ironicamente insisti.
- Chato. - Dando uma palmada no meu ombro.
- Então que te faz falta? - Provoquei.
- O que me faz falta é intensidade e culpa. Faz falta que me façam tudo sem eu ter de suplicar. Faz-me falta ser possuída sem dó nem piedade, sem poder resistir nem opinar. - Num inesperado tom sério.
- Só se fores bem amarrada. - Sarcasticamente respondi.
- Quero. Quero ver o que valem os teus nós. Com lenços - Respondeu de imediato, séria, olhando-me nos olhos sem nada mais dizer.

Mudo fiquei, desviando o olhar para a estrada que era onde devia estar de qualquer modo. 
Fora apanhado completamente desprevenido.
Fiquei sem escolha. Era incontestável. Fui imediatamente possuído pela vontade de lhe colocar lenços sem limites, impossibilitando-me de ser prudente.

Chegamos logo de seguida sem que antes conseguisse falar.
- Tens a certeza que queres? - Inquiri em esforço e confuso.
- Tenho. Mas não quero falar mais. Não quero pedir. Disso estou farta. Quero que aconteça. Vais para casa e mandas-me um SMS com tudo o que precisas e como precisas e vens aqui ter comigo amanhã de manhã. 

Regressei a casa, atordoado, apenas com a perversa ideia na mente, que já fervia. Ela fora muito clara e conhecia a minha fraqueza. Sabia que não resistiria. Agora fica a questão de como fazer.


Procurei ser direto e escrevi apenas três frases:

Um lenço atado sobre o peito em forma de top.
Robe por cima.
Chego às 10:00.

Nada de importante acontecera entre nós no passado. Subitamente, queimando muitas etapas, temos estes planos muito ambiciosos. Provavelmente demais. Lúcia estaria claramente à beira da explosão causada por todo o tempo de carência.

Rigorosamente cronometrado às 10:00 toco à sua campainha. Leva longos segundos para abrir a porta. Cada tranca que se ouve soltar, nas quatro voltas que lentamente a chave dá, parece que leva uma eternidade. Em contraste a porta abre rapidamente e fecha logo após a minha entrada. 

Frente a frente, em absoluto silêncio, faz um muito discreto movimento de "sim" com a cabeça, fechando e abrindo os olhos lentamente, indicando a sua entrega.

O seu robe de fino cetim rosa escuro, com o cinto mal atado, apenas com um largo nó, consentia um inocente vislumbre das suas cuecas pérola, de renda e do acetinado lenço grande, dobrado em triângulo, colocado sobre o peito, com nó atrás das costas, em forma de top. 
Tudo rigorosamente como combinado obrigava-me a cumprir a minha parte.

Cuidadosamente, com os dedos indicadores sobre a sua cintura, solto o laço nó do robe suavemente retirando o acetinado cinto e colocando sobre o meu ombro.
Abre-se o robe expondo-a um pouco mais. 
Novamente com os dois dedos indicadores sobre os seus ombros, junto ao pescoço, empurro o robe para as costas, fazendo-o cair desamparado sobre seus pés. 
Mantendo silêncio contemplo-a com descaramento e desejo. Surpreendentemente não é constrangedor. É quase natural.

Seguro a sua mão esquerda e pausadamente junto a direita. Pego no cinto do robe e ato uma à outra com firmeza. Tomei posse.
Levo-a para o quarto deixando o robe esquecido no chão.

Tudo estava milimetricamente preparado. Lúcia sabia o que fazia. Na mesa de cabeceira estava um conjunto de variados lenços, uma garrafa de água e uma discreta caixinha com preservativos. A cama apenas com o lençol de baixo bem esticado para que não haja nenhum impedimento.

Sento-a na sua antiga cama de grades. Calmamente empurro-a para o centro. Tenho muito tempo e uso todos os momentos. Sirvo-me das pontas soltas do suave cinto, que lhe prende as mãos, para, sobre a sua cabeça, a atar à cabeceira. 
Está confinada à cama e ao meu desejo.

Sempre devagar, é hora de escolher os lenços. Abro-os um a um, lentamente, selecionando os que melhor vão servir o perverso propósito. Não é inocente. Quero lhe criar desejo e expectativa. Sabe que não pode fugir ao seu destino.
Escolho dois lenços compridos que coloco junto aos seus pés. Mais meticulosamente procuro dois lenços quadrados. Um maior, de escuro fundo preto, acetinado e outro, menor, de fundo branco, de algodão. Dobro o preto em triângulo e, em seguida, multiplico as dobras até ficar numa fita. Repito com o branco de forma que veja e imagine o que vou fazer com os dois.
Pego novamente no lenço preto e aproximo lenta e ameaçadoramente dos seus olhos. Ato cuidadosamente para a deixar completamente no escuro. O lenço branco coloco pendurado sobre a grade da cabeceira.

Contemplo novamente em silêncio enquanto me aproximo dos seus pés. Pego num dos lenços e firmemente ato-o ao canto da cama. Faço outra pausa e repito com o seu outro pé.

- Aiiiii... - Suspira longamente.
- Agora és minha. - Colocando a minha mão pesadamente sobre a sua boca, silenciando-a em provocação. 

Faz pouca resistência. Sabe que é irrelevante.

Pego no lenço branco de algodão da cabeceira, já em fita e ato-o á volta da sua boca, entre os dentes, condenando-a a um submisso silêncio. 

Está totalmente indefesa. Sabe que posso impunemente e sem contestação fazer dela meu objecto de prazer. 

Lentamente enfio as mãos por baixo das suas costas. Com minucia procuro o nó que segura o lenço que lhe cobre o peito. Aos poucos folgo esse nó até ficar completamente solto. Puxo o lenço pela ponta de baixo, escorrendo a sua leveza sobre seu corpo, por entre as suas penas afastadas e expostas.

As minhas mãos descem a seus pés. Fazendo uma forte pressão nas suas pernas, com os polegares pelo interior, percorro-as até às virilhas. Agarro as suas gentis cuecas e rasgo-as para as tirar. 

Contemplo impunemente para todo o seu corpo. Tenho todo o tempo a meu favor e uso-o largamente. Adoro as pequenas torções de denunciam o seu desejo. 

- Já te devia ter despido antes. Não sabia que eras assim tão deliciosa. - Sussurrei ao seu ouvido a arder de desejo.

A ironia que quem, assim indefesa, embora segura, sinta que nada pode fazer, nada pode exigir, pedir ou sequer contrariar e tudo terá, mais que espera, até ao limite da sua resistência.

- Vou ter devorar até ao último ossinho. - Provoco intencionalmente.

Seu corpo contrai-se inocentemente num misto de adrenalina e desejo.

O quarto perfumado pelo seu suave aroma a gel de banho e a sua submissão aos lenços multiplica o meu desejo.

Percorria, com as pontas dos meus dedos, todo o seu corpo, de cima a baixo, lenta e repetidamente, sem tocar na sua intimidade mas passando numa imoral tangente. Sentia a sua suave textura enquanto cheirava a sua doce pele.
Por cada volta os dedos tornavam-se mais intrusivos, mais se aproximavam da sua intimidade, mais a faziam contorcer.
Era inevitável procurar o seu sabor mordiscando os mamilos, alternadamente, com os lábios. As suas lisinhas axilas, tão expostas, eram vítimas do desejo da minha língua em saboreá-las e que, depois de liberta, cada vez mais se aventurava nas profundezas do seu corpo.

A vontade de a possuir era, agora, incontrolável. Ambos sentíamos e sabíamos que estava atingido o ponto sem retorno. Docemente descia a minha atrevida língua. Percorreu todo o contorno do seu rijo peito, descendo por entre o seu vale, em atrevidas curvas até ao umbigo. Explorou-o até bem ao fundo, repetidamente, até que desceu até à porta do prazer, escancarada e indefesa. Cerco, com os meus lábios o seu clitóris, que permanece encarcerado enquanto acariciado pela ponta da língua, de cima a baixo, vezes sem conta, sugado como se fosse fatal e mordiscado com leveza, fazendo com que Lúcia se perca descontrolada.

O meu agigantado desejo leva-me a procurar o seu sabor a mulher, a sua humidade e o seu prazer. Mergulho no seu fundo, cheirando-a e saboreando-a avidamente. A língua entra e sai da sua intimidade incessantemente, como e quando quer, independentemente de como Lúcia se contorce descontrolada.

Todo o corpo de Lúcia respondia com a vontade própria de quem ansiava por esta atenção. Precisava ter cuidado porque navegava no vértice do seu limite de explosão e não o quero, para já.

Atento ao pico do seu prazer, que não lhe consinto atingir, faço pontuais pausas. Fico a observar o seu corpo a retorcer-se para concretizar o desejo, as suas ancas sobem e descem, repetidamente, apenas limitadas pelas pernas atadas. Geme, abafada pelos lenços que a silenciam, suplicando que não pare. Sob o meu controle era propositadamente ignorada.

Está indefesa, submissa e sem direito a escolha. Sujeita à minha vontade, tanto na terra como no céu que está tão próximo.

Mal demonstra um momento de abrandamento é atacada pela imoral língua, que não lhe consente descanso, entrando na sua intimidade. Volto a saborear a sua humidade, a trucidar o seu exposto clitóris, a assumir intencionalmente todo o seu prazer.

Desta não haverá pausas, num renovado sobe e desce da minha língua, que não lhe permite um momento de paz. Invadida perversamente, sem controlo do seu movimento nem do seu corpo, liquefaz-se longamente. Todo o corpo consumido pelo prazer e pelo esforço exigido, aos poucos pede paragem. Esgotada tenta expressar, sem conseguir fazer se ouvir, declarar que já lá chegou, que se rende e precisa repouso.
A fugaz energia que lhe resta só serve para se contorcer e gemer.

- Já chegaste ao fim, meu doce? - Pergunto-lhe ironicamente.
- Hummm. - Tenta confirmar abafada pelos lenços que a amordaçam.
- É apenas o início - Perversamente provoco.
- Hummm, hummm, hummm. - Abanando a cabeça tentando contrariar.  

Sem aviso e sem que pudesse ver ou prever envolvo seu indefeso clitóris nos meus lábios. Acaricio suave e repetidamente com a língua até a sentir novamente no estado de loucura. 
Não leva muito tempo a se perder.
Não há concessões, não há limite. Mesmo ao ligeiro toque encharca-se de prazer. Perdeu o controlo e continua cativa, sujeita ao intenso desejo, do qual assumi toda a culpa. 
Saboreando-a repetidamente, libertando sobre ela a minha língua exploradora, torce-se e retorce-se limitada pelas pulsos e tornozelos atados, virando a cabeça para um lado e para o outro sem padrão. 
Nada mais pode fazer a não ser perder-se em novos orgasmos, durante a longa manhã que só termina quando eu decidir.   

De rastos, mal se apercebe que vou, aos poucos, um a um, libertando cada membro, até que finalmente desato o lenço da sua boca, permitindo uma ofegante e recuperadora respiração. 
Coloco-me sobre ela e muito lentamente invado-a até ao seu encharcado e dilatado fundo. Com os braços e pernas abraça-me puxando-me para dentro até ao fim. Há muito no meu limite, passou apenas um momento até jorrar.
 
Após minutos imóvel dentro dela, saí suavemente, rolei para o lado, desatei o último lenço que lhe cobria os olhos e puxei os lençóis para nos proteger. 
Sem pressa deixei-a adormecer, ficando a disfrutar da sua serena expressão até adormecer também.

Acordo, mais tarde, sem a sua companhia. Já tinha saído deixando-me só no quarto.
Não percebo o que se passa. Será que não foi o que me pareceu?
Na cabeceira estava um bilhete:

"Não sabia que isto ainda era possível! Estou na cozinha"

Lentamente desloco-me à cozinha. Lá estava Lúcia de lenço em top, a preparar um snack.

- É tarde. Comes comigo. - Convidou em forma de ordem.
- Sim. Teria todo o gosto. - Prontamente aceitei.
- Acho que até mereces... - Com um maroto sorriso.
 

QT