Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Mão Firme


Pouco passado do nascer do sol era meu hábito chegar a Ermo do Vale, a aldeia mais longe do posto de correio. Por este local, comunitário, exclusivamente rural, o tempo não tinha passado. O isolamento fez com que os aldeões fossem desconfiados e tivessem tradições, no mínimo, estranhas. Muito conservadores nalgumas situações e surpreendentemente liberais noutras. O melhor era ver as mulheres usarem, com frequência,  lenços na cabeça, habilmente colocados, de todas as formas. Parece que havia um padre e sua ajudante que incentivavam...
Após servir, como carteiro, durante anos, já tinha ganho a confiança e a simpatia de todos. Principalmente da bela Isilda com quem já tinha um relacionamento por todos reconhecido.
Pontualmente, em conversas, ouvia uma invulgar expressão como: "Ele tem mão firme", "Não tinha mão firme e mulher deixou-o" ou mesmo "Esse é daqueles que nunca vai ter mão firme".
Nunca consegui perceber essa expressão nem tampouco tive coragem de mostrar a minha ignorância e perguntar.
Isilda era uma mulher muito versátil. Da mesma forma era prática no campo, de lenço a cabeça, enquanto trabalhava, era mais sofisticada no fim de semana usando lenços no pescoço das mias variadas e sensuais formas.
Tendo herdado uma casa velha um dia propôs-me restaurar a casa para irmos lá viver. Era espantoso nessa aldeia conservadora esta opção se tão bem aceite por todos.
Pouco antes da casa estar pronta, em jantar com a sua família, as conversas eram mais íntimas e não foi necessário esperar muito para um tio dela me perguntar:
-Tens a mão firme rapaz?

Perante a minha falta de resposta houve uma gargalhada geral entre os homens. Era certamente o único que não sabia...
- Já percebi que ainda não sabes - Insistiu o tio
- De facto... - Deixei escapar
- A mulher tem de sentir quem manda. É isso que lhes dá segurança. É isso que faz com que não se vão embora. E tens de ter a mão firme. Um correctivo bem aplicado, na hora certa é importante. Nesta aldeia as mulheres abandonam-te se assim não for. E testam o homem. Faz parte da natureza das nossas mulheres. A Isilda não será diferente.

Estava chocado. Nunca concordei com qualquer tipo de violência. Não me perece que consiga viver assim.
Mal tive oportunidade perguntei a Isilda:
- Precisas que tenha mão firme?
- Claro. Todas precisamos - Respondeu sem hesitar.

Se antes estava chocado agora estava incrédulo. Este hábito está tão enraizado que não é com bom senso que se consegue mudar. Até as mulheres o incentivam!
- E quando é que se aplica a mão firme? - Inquiri inseguro.
- Sempre que a mulher não obedece ou não tem o comportamento apropriado.
- E o se o homem entender que não o deve fazer não é bom homem?
- Um bom homem é aquele que deixa a mulher segura, com mão firme, mas sem ferir a mulher. Sem deixar marcas porque ninguém tem de saber o que se passa em casa. O homem deve dar um castigo claro sempre que necessário. É assim. Sempre foi. Porquê? O que se passa contigo? Tens algum problema? - perguntou desconfiada que se passava alguma coisa comigo.
- Não, claro que não. - Retorqui temendo que, se soubesse que nunca lhe aplicaria a mão, a deixasse insegura.

Teria de abordar melhor este tema.
Um castigo claro... Talvez haja uma forma interessante de contornar este costume.
Passamos uns dias a preparar a casa para nos mudar. Isilda com suas calças de ganga, t-shirt e pequeno lenço no cabelo, vermelho, dobrado em triângulo e atado atrás da nuca era sempre uma visão notável enquanto limpava. Não ficava indiferente.
Esporadicamente deixava cair alguma coisa que partia como um vaso ou alguma loiça. Não me parecia dela por ser normalmente cuidadosa.
Fui sempre prontamente ajudar e ouvia um tímido "desculpa".
" E elas testam o homem" foram palavras que ficaram gravadas na memória. Será que me estava a testar em relação à mão firme?
Não conseguia deixar de pensar na conversa e tinha um plano quando, na véspera de mudar Isilda sentou-se comigo para falarmos do futuro. Era uma tradição. Percebi algum receio e uma miudinha ansiedade da sua parte. Era a hora de falar da mão firme.
- Agora conta-me as regras. Como vais querer e fazer?
- Estas a falar da mão firme?
- Sim. Afinal tens mão firme ou não?

Tinha, realmente, andado a testar-me.
Durante todo este tempo planei uma resposta a esta difícil questão e optei por uma abordagem que soava a autoritário.
- Tenho mão firme, claro.
- Diz-me.
- Não vou dar regras para tudo por não ser possível. Por isso há só duas regras:
Caso faças alguma coisa errada ficarás, durante uma hora, impedida de fazer seja o que for, casa fales o que não deves ou me contraries passarás essa hora impedida de falar. Fui Claro?

Isilda fez uma pausa silenciosa. Não estava à espera de uma resposta assim. Nem percebia bem o que implicava.
- E como vais aplicar a mão firme? - Era a pergunta mais grave...

Tinha preparado no quarto uma cadeira com uma caixa em cima.
- Abre a caixa.
- Está cheia de lenços!
- Sim, Está. Quando mandar vens buscar a caixa e dás-me. Depois sentas na cadeira onde serás rigorosamente amarrada com estes lenços. Não quero deixar marcas porque os nossos problemas serão privados e resolvidos com "mão firme mas sem ferir a mulher" e "ninguém tem de saber o que se passa em casa"  (como na sua definição de bom homem). Serás vendada para que, no isolamento, reflictas. No caso  de falares o que não aprovo mais um lenço tapará a tua boca, para que saibas quando ficar em silêncio. Alguma questão?

Isilda estava atónita com esta resposta. Com a cabeça indicou que não havia questões. Parecia-lhe que, de facto, teria mão firme mas de uma forma diferente de tudo o que já tinha ouvido. Sentia-se agora mais segura embora ainda com muitas dúvidas.

Passaram-se semanas desde que partilhamos a casa. Era delicioso quando estava de lenço na cabeça nas tarefas domésticas ou quando aconchegava o pescoço, nas mais diversas técnicas de se produzir, quando saíamos. Estávamos muito bem juntos e a mão firme era algo que não se aplicava até um dia...
Após Isilda ter estado com as mulheres da família certamente que alguma lhe perguntou pela mão firme. Terá ficado sem resposta, imagino. Eu teria quase esquecido. Suspeito que estaria a nascer alguma insegurança.
Subitamente um cheiro a fumo apodera-se da sala. No forno queimavam bolinhos de forma algo displicente. Não percebi se foi um descuido planeado ou um grande azar. Parecia, novamente, falta da mão firme.
Depois de abrir o forno e resolver o problema Isilda olhava-me sabendo - ou a querer saber - o que a esperava.
- Senta na cadeira e dá-me a caixa - Ordenei.

Obedeceu imediatamente sentando-se com as mãos já atrás da cadeira à espera.
Retirei um lenço castanho, grande e dobrei em triângulo e depois em fita com um ar sério e impenetrável.
Amarrei-lhe as mas atrás das costas com um vigoroso aperto. Peguei em mais dois lenços e fiz as mesmas dobras lentamente e começava a ficar "quente".
Ambos os tornozelos foram apertados aos pés da cadeira. Estava imóvel. Discretamente forçava as amarras  para testar os nós e percebeu que estaria completamente presa. As suas ténues torções eram tão sensuais...
Retirei mais um lenço. branco, médio e macio.
Após dobrar aproximei-o, muito lentamente, dos seus olhos. Encostou a cabeça mais atrás, submetendo-se ao meu domínio, aceitando o seu fado.
Amarrei o lenço sobre seus amendoados olhos castanhos selando a sua prisão. Isilda soltou um ligeiro gemido de consternação.
Está, agora, certa da firmeza da minha mão. Sem violência, sem dor, mas com vigor e segurança.
Era toda minha. Estava indefesa sujeita aos meus desígnios...
Rendida ao cativeiro só lhe restava deixar o tempo correr até esgotar a hora, embora não tivesse forma de saber quanto passara.
Fiquei a observar Isilda. Cada movimento, cada suspiro tudo era uma tentação naquela linda mulher presa e vendada com lenços. Sem resistir comecei a tocar seu corpo junto aos joelhos, sob a saia. O reflexo inicial de Isilda foi desviar-se mas as suaves carícias conquistavam-na lentamente. Percorria o seu corpo sem limitações como se fosse seu dono mas com a leveza de uma pena. Primeiro as pernas, depois a barriga e depois subia, subia...
Ao chegar ao pescoço torcia-se. O gemido já era diferente. Por ser castigo não a beijava mas as carícias eram evidentes.
Subitamente os lenços que a amarravam folgaram e caiam para o chão, com a excepção do lenço que a vendava. Atingimos a hora.
Percebera que tinha chegado o fim. Surpresa e confusa por ter uma mão firme tão invulgar. Sentia-se submissa mas não castigada, acariciada em vez de corrigida. Não sabia que dizer.
Prendada e cuidadosa como era não havia motivos para  ter mão firme.
Aconteceu um dia em que se distraiu, na casa de uma vizinha, que tinha novo neto. Cheguei a casa e não tinha a mesa posta. Jantamos mais tarde. Sabíamos que teria de ter mão firma. Isilda só esperava a ordem.
Findo o jantar e a mesa levantada, disse-lhe, em tom grave:
- Vai buscar a caixa.
- Sim...

Num ápice tinha a caixa nas mãos.
-Tira o lenço branco.
- Sim...

Retirou o lenço e percebeu, no meu olhar que não era para ficar por aí.
Esticou-o sobre a mesa e dobrou-o em triângulo. Dobrou varias vezes para fazer a venda. Pegou no lenço, olhou novamente nos meus olhos e, cuidadosamente, atou o lenço sobre os seus.
- Deixa aqui a saia e a blusa antes de ires.

Suspirou, pausou uns segundos e deixou cair primeiro a blusa e depois a saia. Virou-se e lentamente, às cegas, com a mão na parede para se guiar e dirigiu-se ao quarto. Procurava a cadeira com a mão esticada e joelhos flectidos.
É tão sensual o seu prudente movimento, à procura da cadeira com o lenço nos olhos!
Sentou-se com cautela, colocou as mãos atrás do encosto deixando-se cair, ligeiramente, para a frente, expondo os seus pulsos para serem amarrados.
Como na vez anterior, atei firmemente os pulsos com um lenço grande e os tornozelos, individualmente, a cada pé da cadeira, com lenços grandes também.
Estava segura. É sempre fantástico olhar a sensualidade do seu corpo, desta forma, novamente seduzido pelos seus suspiros e restritos movimentos.
Não me é possível aguentar muito tempo sem que as minhas mãos a procurem.
Tudo recomeça. Desta pelos pés. Será uma escalada dos pés ao pescoço, lenta como numa montanha.
- O que vais fazer? - Teve coragem de perguntar desta vez.
- Tudo o que me apetecer. Não me podes impedir, pois não?
- Não...

Tocava-a de forma mais atrevida que na intimidade da noite. Quase abusiva. Procurava pontos sensíveis, não tinha pudor nem contemplações.
Não lhe dava folga. O seu corpo era todo meu naquela hora que se esticava.
Como da vez anterior mas muito após o tempo esgotar, as amarras eram retiradas e a própria Isilda desatava o lenço que a vendara e arrumava todos na caixa.

Percebia que era já olhado com outro respeito, na aldeia. Seguramente as mulheres da família souberam a partir da Isilda e discretamente ventilaram para os homens da aldeia.
A própria Isilda espelhava, na sua expressão, um orgulho e segurança indisfarçável.

Embora muito compatíveis e cúmplices algum dia haveria de surgir um qualquer desentendimento. Isilda era mais emotiva e embora não estivesse sem razão, num momento acabou por falar mais alto. Algo que não podia ser. Não podia deixar passar.
Percebera pelo meu súbito silêncio e olhar que não tinha gostado. Sabia o que se iria passar em seguida mas desta não estava nada convencida.
- Vai buscar a caixa... - disse-lhe em tom grave
- A caixa? Achas mesmo necessário? Achas justo? Não tenho razão? - protestou veementemente.
- Sim, acho necessário.

Muito contrariada foi ao quarto e voltou com a caixa dos lenços, sempre a protestar.
- Pronto aqui está. Faz como quiseres. - sempre resistente enquanto lhe retirava a blusa e soutien.
- Que vais fazer? - perguntou enquanto lha amarrava firmemente as mãos atrás das costas com um lenço grande dobrado à pressa.
- O que tem de ser. Na casa só um é que manda. Sabes que é assim.
- E vais me vendar com esse lenço? - inquiriu enquanto dobrei outro lenço para, obviamente, cobrir seu olhos.
- Vou - respondi enquanto atava um lenço preto, de algodão, sobre os seus olhos.

Estava incrivelmente sensual despida da cintura para cima, mãos amarradas, lenço a vendar os olhos e a lutar em todos os movimentos. Era uma gata rebelde presa.
- Não achas que estas a reclamar demais?. - provoquei a a ver lutar mais.
- Porque? Não tenho razão? Vais me amordaçar?- antecipando as minhas intenções.
- Vou. - novamente respondi de imediato.
- Não quero. Tenho razão ou não? - insistia indignada.
-Schhhhh. - enquanto lhe lha apertava um lenço por entre seus deliciosos lábios.
- HUUUMMMMM. - protestou energicamente.

Já estava nas nuvens, ao ter Isilda assim na minha frente e ainda não estava como queria.
Retirei toda a roupa que lhe sobrava. Reclamava energicamente, em amordaçada surdina, por cada peça que caia do seu corpo.
Esperneava em cada toque no seu corpo que já era todo meu.
Os meus dedos percorriam-na sem lei. Era mordiscada com os lábios onde menos esperava. Era provada com a língua onde nem imaginava. Era um entrar e sair aleatório.
O seu corpo começava a ceder aos estímulos. Agora era explorada mas já se expunha. O corpo contrariava a sua rebeldia. O protesto cedia ao desejo.
Mudava-a constantemente de local e de posição. Os estímulos surpreendiam-na, sem regra ou lógica.
Agarrada, de costas e de frente, sobre a mesa da sala, sentada numa cadeira, encostada contra uma parede, Isilda era levada pela casa, que já lhe parecia um infinito espaço, num tempo que não esgotava.
Toda ela explodia em húmidas sensações. Já usava o meu corpo, discretamente despido, para a afagar com toda a intensidade.
Sem pré-aviso soltei as suas mãos. Imediatamente baixou o lenço que a amordaçava, até ao pescoço , para me beijar, enquanto a levava para o quarto, ainda vendada. Os nossas línguas batalhavam os desejos nascidos nesta tentação.
No quarto os suados corpos concretizavam o que a imaginação criara, até a esgotamento.
Finalmente terminou esta batalha em silêncio. Desatei o lenço dos seus olhos oficializando o fim da "mão firme".
- Porque é que a tua mão tão firme só me dá prazer? - perguntou carinhosamente
- Porque tinhas razão.


QT

1 comentário:

  1. Este conto foi realmente lindo!A prinicípio noto até um pouco humor.Me surpreende cada dia mais o autor!A doçura fica clara em cada linha,podendo ser até ouvida durante a frase final que imagino ter antecedido ao um longo e delicioso beijo!Não me farto de parabenizá-lo por teu talento!

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