Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Perigo que paira ao Lado

Sempre fora pacífico o prédio onde morava. Integrado numa zona habitacional simples e antiga, ruas estreitas e sem automóveis, de edifícios de três andares, com telhados vermelhos a combinar com os revestimentos de tijolo do exterior, estreitas varandas, de ferro forjado com floreiras de fora e longe da zona comercial agitada. 
O silêncio reinava, por vezes demasiado.

Pouca passava das sete da tarde mas, por estarmos no pico do inverno, a noite já nos envolvia completamente, há bem mais de uma hora e uma penetrante brisa fria corria nas ruas.

Algo estranho se passava com a fechadura da minha vizinha da frente que tentava abrir a porta. Nunca foi meu hábito mas algo me fez espreitar pelo óculo da porta. Estava acompanhada por duas figuras, aparentemente femininas, com ar friorento, pela quantidade de roupa que vestiam. Luvas grossas, botas ainda mais grossas, casacos imensos, e cachecóis estilo manta, às voltas sobre do pescoço, quase até ao nariz já pareciam exagero. Uma de grande chapéu e outra de gorro grosso acentuavam esse exagero. Mas o que me deixou desconfiado foram os grandes óculos escuros, como se vira no verão, que ambas usavam, no inverno, já de noite.

Georgina era uma vizinha muito cordial e simpática. Como é natural, com os vizinhos, nunca tivemos grandes conversas ou convívios para além da assembleia de condóminos ou observações, de  circunstância, relacionados com o nosso prédio. Mesmo assim, por sermos da mesma geração,
tratávamos-nos informalmente por tu.
Era comum vê-la usando lenço no pescoço em diversas formas de nó. Devia ter uma larga colecção. Combinava diversos com os diferentes tipos de roupa. 
Eu nunca comentei, elogiei ou denunciei o menor indício, de como eu a via atraente de lenço. Partilhávamos um respeitosamente distanciado relacionamento de vizinhança.

Aquele incidente da chave não me saia da cabeça agravado pelo volume da televisão, da Georgina, que estava invulgarmente alto para quem, como ela, tinha todo o respeito pelos vizinhos.
A porta bateu e não me contive. Espreitei novamente. As duas mulheres saíam apressadamente. 
Desconfiado bati à porta. 
Não tive resposta. 
Insisti...
Continuei sem resposta.
Não me consegui conter e fui à minha varanda que, por estar a menos de um metro da varanda dela, dava para olhar o interior do quarto. Nunca me imaginara a fazer isto mas, muito cuidadosamente e com a possível discrição, espreitei. Era possível espreitar por uma fresta da cortina fechada. Muita desarrumação e, atrás da cama, viam-se pés atados com um lenço.
Estaria Georgina em apuros?
Seria uma brincadeira?
Será que ela apenas o fez para se entreter ou será algum fetiche seu?
Porque alguém ataria seus pés com um lenço?
Teria sido atada pelas misteriosas mulheres?
Aquele lenço vermelho sensualmente atado nos tornozelos deixava-me simultaneamente preocupado e curioso. Muito curioso...
Não me saia da cabeça e voltei a espreitar. Agora ainda mais esticado, embora pouco mais vislumbrasse. A incerteza consumia-me. Não era possível ver nada a partir dos joelhos.
A forma como se movia indiciava alguma aflição. Algo teria de fazer.
Respirei fundo, e preparei-me para saltar para a varanda dela. Estava mais preocupado pela hipótese de, eventualmente, estar enganado e ficar sem explicação do que pela altura do terceiro andar.
Voltei a ver mais de perto e tentei escutar. Movia os pés de uma forma que parecia estar a tentar soltar-se. Estava certamente presa.
Não foi difícil forçar a porta, por baixo, até abrir. Já o tinha feita na minha quando acidentalmente fiquei fechado do lado de fora.
Passei a cortina e entrei no quarto. Percebia-se que Georgina estaria ainda mais assustada pelo barulho que não sabia de onde vinha.
Estava deitada de barriga para baixo entre a cama e a parede, sobre uma colcha, num quarto completamente desarrumado, com todos os conteúdos das gavetas espalhados. Tinha os pés e as mãos atados, com um lenço sintético vermelho médio e um grande estampado de fundo branco respectivamente, os olhos vendados com um lenço de algodão preto e a boca amordaçada com um lenço sintético azul e muitos mais espalhados pelo quarto. Um trabalho experiente.
A preocupação e vontade de ajudar eclipsou totalmente o erotismo de ver a vizinha tão bem atada com tantos lenços.
- Fica descansada sou eu o teu vizinho. - enquanto, cuidadosamente, lhe desatava o lenço dos olhos.

Percebia-se a pelo postura corporal e principalmente pelo olhar o alívio que sentira.
Continuei a desatar as mãos, muito bem seguras com diversos nós, feitos por quem sabe, da mesma forma cuidadosa enquanto ouvi um longo gemido, em forma de protesto, que só podia ser para retirar imediatamente a mordaça que, um pouco perversamente, não resisti a deixar para depois. 
Mãos soltas, passei aos pés ao mesmo tempo que Georgina puxava a mordaça para baixo ficando o lenço à volta do seu pescoço.
- Obrigada... - suspirou abraçando-me qual herói.
- O que aconteceu? Como estás?
- Melhor. Estou a ser roubada. - Soltando o abraço mas a segurar as minhas mãos
- Estás?! Ainda não acabou?
- Elas saíram com a chave, o meu multibanco e o VISA. E vão voltar aqui porque me obrigaram a dar os códigos para levantar. Certamente vão querer levantar, novamente, após a meia noite porque acreditam que eu ainda estou amarrada.
- Quando voltarem eu agarro-as. - sugeri sem hesitar.
- Já foste herói o suficiente. Elas têm uma pistola. Achas que eu as deixava entrar assim em casa?
- Claro. Então vamos para a minha casa e chamamos a polícia.
- Vamos mas não podemos chamar a polícia. Nesta rua estreita elas percebem e voltam noutro dia. Tenho medo.
- Não queres fazer queixa?
- Não posso. Nem sei as consigo descrever. Vinham de óculos e chapéus. E lá dentro foram logo ao meu quarto. Exigiram-me que lhes mostrasse os lenços e vendaram-me logo. Depois amarraram-me como me encontraste.
- Eu vi-as e desconfiei. A forma como abriste a porta com a chave também foi muito estranha.
- Que bom que percebeste.
- Vamos pensar o que fazer na minha casa. Da janela da cozinha consegue-se ver se elas vêm ao fundo da rua.
- Está bem. Vamos - respondeu agarrando uma segunda chave de casa.

Na cozinha, sem luz acesa, olhávamos para a rua enquanto tomávamos uma infusão para aquecer e acalmar.
- Temos de conseguir apanha-las. Caso contrário vais viver sempre com medo. - sugeri.
- Mas como? Se chamarmos a polícia eles fogem antes.
- O ideal seria chamar com ambas lá dentro da tua casa. Elas vão voltar e ficar até à meia noite para levantar. Chamava-se a polícia e pedia-se para virem sem sirene e estacionar antes da rua. Assim não davam por nada e seriam apanhadas no local, em flagrante.
- Mas se perceberem que eu fugi certamente que não ficam à espera. Não são amadoras.
- Pois não... Então ligamos agora, pedimos para estarem alerta e voltamos a ligar quando entrarem, embora seja um período de tempo muito curto para acertar.
- Não me parece. A única solução seria eu não ter fugido... Nem acredito estar a dizer isto mas consegues pôr tudo como estava? E chamar a polícia na altura certa?
- Pôr tudo com o estava? Queres dizer...  - ia perguntar muito hesitante.
- Sim. Quero dizer se me consegues amarrar como estava - perguntou adiantando-se.
- Isso é muito perigoso. Ficas ali indefesa.

Esta situação seria muito complicada. É arriscado ter Georgina assim à mercê daquelas marginais.
Ainda mais pedir-me para a amarrar, como estava, implicava usar os seus lenços. Para além de arriscado para ela é demasiado erótico para mim. Situação demasiado complicada mas tinha a minha vizinha a me pedir irresistivelmente para lhe colocar lenços vários.
Subitamente vemos o vulto delas à distância.

- Não podemos perder tempo. Vamos. - ordenou-me no mesmo instante.
- Só espero que corra bem. - respondi hesitante, sem tempo para discordar.

A rua era a subir e relativamente comprida. Assim teríamos uns curtos minutos.
Entramos para o quarto e Georgina sentou-se no chão, no local onde tinha ficado presa. Desatava o lenço que a tinha amordaçado e ainda estava preso no pescoço enquanto eu lhe atava os pés com o lenço que estava desatado no mesmo chão.
Seguidamente virou-se para baixo e colocou as mãos atrás das costas.
- Não percas tempo. Ata-me as mãos. - pediu corajosa.
- Tens mesmo a certeza? - questionei-a enquanto a amarrava.
- Ainda tenho. Continua enquanto podemos. - Olhando para o lenço que a ia amordaçar

Cuidadosamente peguei no lenço e atei na sua boca as dois tempos: coloquei suavemente sentindo a sua textura e, em seguida ajustei com alguma força para ficar como antes. Soltou um gemido de medo quando sentiu apertar. Agora já estava indefesa e nem podia pedir para desistir. 
Peguei no último lenço olhei-a nos olhos que ia vendar, novamente assustados. Fechou-os devagar autorizando-me a finalizar o trabalho. 
Dei-lhe um leve beijo na testa e com muita hesitação vendei-a com carinho.
- Fica bem... - sussurrei, naturalmente sem obter resposta.

Entre a adrenalina do risco e o erotismo do momento de lhe colocar os lenços foi uma montanha russa de emoções.
Saí rapidamente, tranquei a porta como tinham deixado e entrei em casa mesmo a tempo. A porta do prédio rangia ao abrir. Elas estavam a chegar.
Como planeado liguei para a polícia, indicando as cautelas planeadas e realcei que estava uma pessoa sequestrada sob a ameaça de arma.
Não levou muito tempo a tocarem para a minha casa ocuparem a varanda, a minha casa e a entrada.
Por razões de segurança fiquei retido na minha sala enquanto a operação decorria. Fui informado que estas deveriam ser duas senhoras já procuradas por vários crimes deste modo. Os momentos que passaram pareceram um eternidade mas sem mais violência Georgina foi salva. 
Após prestar declarações a policia retirou-se. Georgina ficara em casa. Queria saber como estava e resolvi aquecer e levar o que restava da infusão que tínhamos bebido há pouco.
Bati porta e esperei
- Mais uma infusão para descontrair? - perguntei sem saber como abordava.
- Sim. Quero. Entra. Já tinhas visto a desarrumação. - disse baixinho.
- Estás bem? - perguntei após pousar as canecas na mesa da sala.
- Vai passar - abraçando-me e desfazendo-se em lágrimas.
- Vai, de certeza. Elas vão ficar muito tempo presas. - assegurei.
- Obrigada... - agradeceu num tom quase inaudível.

Mantivemos longamente o abraço e quando, finalmente, se desfez sugeri:
- Vamos arrumar isto. Não podes ficar assim. Mas bebemos a infusão antes que arrefeça .
- Está bem. Obrigada. - agradeceu reconhecida.
- Foste muito corajosa ao voltar.
- Achas? Eu agora só quero sair daqui.
- Não penses assim. Tu conquistaste-as. Podes desfrutar do teu "reino". Elas vão ficar presas muitos anos.A policia disse-me que tinham longo cadastro.
- Mas tudo me lembra. Até os lenços que usaram para me amarrar eu vou deitar fora.
- Pelo contrário. Eu ajudo-te a encontrar um lado positivo para esqueceres o mau momento provocado pelos lenços.
-  E como vais fazer isso? Por mim nem usava mais lenços nenhuns.
- Não digas isso. Ainda mais porque ficas tão bonita e sensual de lenço. - deixei inconscientemente escapar muito mais que queria, envolvido na sedutora conversa dos lenços.
- A sério?
- Bem... Sim.. Perdoa-me não quis deixar-te constrangida. - sentido-me completamente embaraçado. 
- Não faz mal. Não sabia que pensavas assim.
- Nem eu seria capaz de o dizer. 
- Mas disseste. E falavas a sério sobre o lado positivo.
- Sim e começamos hoje. Presumo que ainda não jantaste. Ainda são onze deve dar tempo.
- E que faço?
- Usa o lenço que te ataram nas mãos. 
- Uso como? 
- No pescoço, por exemplo. Mãos atadas dificultam o jantar - brinquei conquistando-lhe um sorriso.
- Está bem, acho eu.

Fomos, muito agasalhados, a um pequeno take away junto ao miradouro. Comemos a ver as luzes da cidade. Georgina estava linda de lenço no pescoço com duas voltas atado na frente. Do constrangimento inicial aquele lenço lentamente era esquecido como agressor e entendido como vitória.
Voltamos não muito tarte. Ainda havia muito a arrumar.
A sala foi rápido mas o quarto estava num caos.
Georgina dobrava a roupa, enquanto eu recoloquei as gavetas e objectos nos devidos locais.  Arrumou as suas roupas sobrando para mim a minuciosa tarefa de dobrar todos os seus imensos lenços, pelos vincos das dobras, sentindo, um a um, as suas sensuais texturas. 
Embora tivesse disfarçado posso ter criado alguma suspeita pelo extremo cuidado em dobrar os lenços.
O molhado lenço que a amordaçara fora colocado em água e detergente suave. Os outros que a enclausuraram ficaram num conjunto separado.
 Era muito tarde mas ficou, finalmente, tudo arrumado e em paz.
- Está tudo. Ficas bem? - perguntei antes de sair para a minha casa
- Fico. Agora fico. Obrigada. - Agradeceu-me com um breve beijinho na cara.
- Então volto a casa. Até amanhã.
- E depois vais me contar melhor isso dos lenços. Até amanhã.

No dia seguinte foi Georgina que me bateu à porta. Ela tinha tirado meio dia de férias para recuperar e rearrumar a casa.
- Olá. Venho novamente agradecer. Queres ver como ficou a minha arrumação?
- Quero mas não precisas agradecer.

Estava perfeitamente arrumada. Deverá ter sido uma forma de ultrapassar o trauma. O lenço que estivera na agua já estava estendido.
- E agora que mais ias fazer com os outros lenços? - questionou entre a curiosidade e a provocação
- Já volto.

Voltei com o óleo de coco aquecido.
- Pões o lenço que te atou os pés a atar bem o cabelo estilo pirata. E eu faço-te uma longa massagem. Gostas?
- Ai, adoro.  - enquanto atava o lenço na cabeça inclinada para trás.
- Estendes-te no sofá.
- Tiro a blusa?
- Se te sentires confortável, sim.
- Sinto.

Desapertei, muito precisa e cuidadosamente, o gancho do soutien, afastando as pontas e escorri-lhe o óleo morno numa massagem que durou mais de uma hora. 
As costas foram palmeadas, de baixo para cima, de um lado para o outro, com pressão, compressões, amolgamentos e batimentos. Trabalhei meticulosamente o pescoço para aliviar a tensão.
Sempre muito lento e intenso.
Sentia-a a descontrair gradualmente até que finalizei percorrendo suavemente todas as costas com as pontas dos dedos e deixei-a ficar.
- Não te levantes. Não digas nada. Até amanhã. - despedi-me enquanto sorria.

No dia seguinte deixei-lhe uma pequena mensagem no correio "Só falta exorcizar dois lenços com algo agradável. Quando chegares do trabalho avisa-me"

A final da tarde tocou a campainha. Era sexta-feira. Lá estava Georgina sorridente com os dois lenços que faltavam, na mão. O que tinha estado a secar já estava bem dobrado e engomado.
- Olá faltam estes, não é? - mostrando os lenços
- Pois é. Tens alguma coisa para fazer? Podemos dar uma volta?
- Não tenho nada. Vamos.
- Vai buscar um casaco bem quente e luvas.
- Vamos à neve?
- Quase..


Voltou como indiquei. Também fui pesadamente encasacado.
Descemos as escadas, e saímos à rua e após engolir em seco para encontrar coragem pedi:
- Emprestas-me o lenço preto?
- Claro. - aceitou, sem hesitação retirando-o do grande bolso do casaco onde o colocara.
- Vamos a uma pequena surpresa? - desafiei enquanto dobrava o lenço, em fita, com precisão.
- Vamos?! Vais vendar-me? - inquiriu entre receio e curiosidade. 

Aproximei-me devagar e atei, com suavidade, atento por estar em público embora a rua estivesse deserta como habitualmente.
Cruzei o braço com ela e descemos cuidadosamente até ao largo onde tinha o carro estacionado.
-Espera mais um minuto sem tirar o lenço. - pedi-lhe deliciado.
 
Removi a capota do MGA vermelho, aproveitando cada movimento consumir a imagem da Georgina sensualmente vendada.
Muito lentamente desatei o lenço dos seus olhos desvendando o pequeno segredo.    
- É tão giro. É teu?!- perguntou-me animada.
- Não. É de um grande amigo que eventualmente me empresta. Pareceu-me adequado para hoje.
- Foi muito simpático.
- E assim já só falta o último lenço. - afirmei desafiante
- Acho que sei. É para usar no cabelo?
- É. Com este frio é muito adequado. Usa estilo Grace Kelly.
- Grace Kelly ?! É muito vintage. Como sabes disso? - posicionando o lenço na cabeça ao inquirir.
- Cultura geral? - respondi sentando-me no carro tentando fugir um pouco à pergunta
- Tu tratas os lenços numa forma invulgar para um homem. Tenho notado que conheces todos os detalhes. Nem consegues desviar olhar agora que o estou a por na cabeça. Já reparavas nos que eu usava quando nos cruzávamos no prédio?
- Sempre, confesso. Já sabia que tinhas uma grande colecção. - já não conseguia escapar, enquanto arrancava o carro.
- E o que te faz reparar?
- É o mistério que cria, o acabamento que dá à indumentária, mas, principalmente, a sensualidade que cria.
- É por isso que tu sabias muito bem como voltar a por-me os lenços naquele dia. Não era?
- Sim... - cada vez mais denunciado
- E quando me descobriste e me desataste não foi tão rápido como podia? Não puxaste a venda. Desataste.
- Senti a textura e o momento. Perdoa-me. - desculpei-me após ter sido descoberto.
- O lenço na boca? Deixaste de propósito para depois? Comigo a protestar.
- Não... Sim... Não foi bem assim... Tinha de te soltar. E desatei as mãos enquanto olhava. Perdoa-me.
- Não peças desculpa. Foste meu herói. Só estou curiosa. Agora até acho delicioso esse teu gosto.
- E estar assim com o lenço na cabeça desconcentra-te? - provocou
- Não. Vamos em segurança. Não te preocupes. Gosto muito, adoro, mas não corro riscos.
- Eu sei. Só queria perceber.
- Não quero te deixar incomodada.
- Fica nada. Até é elogioso.
- Mas agora que sabes não deixes de usar por isso.
- Claro que não. Ia deixar pelo outro motivo mas, graças a ti, não deixo. Até posso usar ainda mais... - novamente provocadora.

Já chegados ao restaurante sobre a falésia. Mesa à janela. Tiramos os casacos e Georgina desatou o lenço da cabeça sempre a controlar o meu olhar, agora que conhecia.
- Tu realmente não resistes, pois não.
- Não mesmo. Ficas tão sensual, desculpa dizer-te - respondi céptico.
- Não peças desculpa. É simpático. Até me ajudou a ultrapassar o trauma.
- Ajudou mesmo?
- Sim. Não vou deixar de usar os meus lencinhos. Era isso que querias saber não era?
- Já conheces o meu segredo.

O tempo voa quando se está bem. Estava prestes a pagar quando Georgina me impediu.
- Deixa-me ser eu.
- Mas eu é que te convidei.
- Deixa-me, por favor. Depois de tudo é o mínimo que posso fazer para agradecer.
- Já vieste de lenço no cabelo. É muito mais que eu poderia desejar. É fantástico.
- Vá, deixa. - pediu-me baixinho.
- Claro. Obrigado - não ofereci mais resistência.
- E volto a usar o lenço para o regresso.
- Não queres ir de capota?
- Não. Temos de aproveitar o descapotável. Gosto de como ficas e da forma como me olhas.

Passava da meia noite quando chegamos. Após subir ao patamar das nossas casas. Georgina desatou o lenço da cabeça, de claro sorriso. Não sei se pela provocação ou por se voltar a sentir bem em casa.
Por um instante ambos hesitamos se continuaríamos a conversa na casa de um de nós. A cortesia de vizinho superou a tentação. 
- Boa noite. Georgina.
- Boa noite. E muito obrigada, mesmo.

Ficamos, obviamente, mais próximos mas não voltamos a sair juntos. Frequente conversamos no patamar. Vejo-a, com regularidade, de lenço. Sem saber se existe uma segunda intenção, ou apenas por gosto e conforto o seu olhar não esconde um sedutor "eu sei que gostas".


QT
 






 













   





1 comentário:

  1. Quanta inveja de Georgiana!
    Superar sempre minhas maiores expectativas. Confesso que a adrenalina passou da conta ao ler-te,! Muito sensual

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