Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Apenas um Jogo


Havia combinado um jantar com um pequeno grupo de amigos na minha casa. Tudo fora planeado com cuidado e, mesmo sem grande necessidade, Anabela, uma dos convidados, oferecera-se para ajudar. Chegara a meio da tarde. Entre pôr a mesa, preparar umas entradas e arrumar melhor a sala pouco mais havia a fazer. Com o assado no forno ainda a cozinhar durante mais de uma hora acabamos sentados, frente a frente a queimar tempo até chegarem os demais convivas.
Tudo começou por reparar que estava, constantemente, a mexer nas suas pulseiras. Fazia um calor húmidoe as pulseiras não ajudavam. Anabela tirava-as e punha-as no pulso. Entrei na brincadeira das pulseiras escondendo-as numa das mãos. Tinha de adivinhar em que mão estaria. Passado pouco tempo tornava-se monótono e repetitivo.
Num momento de atrevimento atirei para o ar:
- E se tornássemos este jogo mais desafiante?
- Mas como é queres fazer?
- Procuras sem ver.
- Eu fecho os olhos.
- Mas assim podes espreitar. Como posso ter a certesa que não vês nada? - Arrisquei.
- Eu tenho um lenço na bolsa. Queres que vende os meus olhos? - Surpreendentemente sugeriu.
- Quero. Boa ideia! - Respondi instantaneamente, como se nunca tivesse pensado nisso…

Nunca imaginara que teria esta sorte embora, quando me encontrava num contexto oportuno, tentasse dar a subtil sugestão.
Anabela abriu a bolsa e, sempre segura de si, retirou um simples lenço branco. Dobrou-o numa fita estreita que, divertidamente, atou sobre os seus olhos.
- Estou pronta. Esconde a pulseira - Advertiu.

Enrolei a pulseira no polegar esquerdo só para dificultar um pouco.
Procurou, pelo tacto, a partir do pulso direito. Subiu primeiro até ao cotovelo, deslizando sobre a pele, escalou, da mesma forma, até à axila e desceu, em seguida, pelo braço esquerdo, até à mão, mais lentamente. Estava divertida com esta procura. Passou ao pulso esquerdo e, facilmente, encontrou a pulseira discretamente enrolada no polegar.
Desatou cuidadosamente o lenço e celebrou vitória.
- E agora mais difícil - Sugeri provocador.
- Continuamos? Que bom! Podes esconder - Alegremente aceitou enquanto sorridente voltava a atar o lenço sobre os seus olhos. 

Escolhi a pulseira mais elástica. Discreta e silenciosamente consegui fazer subir do pé até ao joelho. A demora provocou alguma curiosidade e até ansiedade na Anabela.
- Deves estar a esconder bem - Afirmou expectante.
- Melhor que imaginas. - Lancei a provocação.

Por um momento ficou imóvel. Será que fui longe demais?
- Posso começar? - Subitamente perguntou
- Claro. Agora está mais difícil. - Em tom de desafio.

Voltou a percorrer meticulosamente os meus braços sentindo cada centímetro. A camisa atrapalhava e Anabela, sem complexos, desabotoou, um a um, descobrindo o meu tronco aos seus exploradores dedos. Ainda estava longe mas nada a faria desistir. Ajoelhou-se para recomeçar a partir do tornozelo. Era uma visão, incrivelmente erótica, que me levava à loucura. Anabela, naquela posição, privada de ver pelo alvo lenço que lhe cobria os olhos.
Como revista passou as mãos, com firmeza, pelas pernas até cuidadosamente encostar à virilha.
- Detectei qualquer coisa suspeita, pelo caminho, mas as calças não me deixam chegar lá. - Avisou, denunciando o que pretendia, ao desapertar a fivela do cinto.

Delicadamente, com as pontinhas dos dedos, desapertou o botão das calças com um especial cuidado, por o fazer às escuras.
Tirou-me os sapatos e as peúgas, baixou as minhas calças até caírem, deixando-me de boxers e camisa aberta. Finalmente encontrou a pulseira, sorrindo vitoriosa enquanto desatava o lenço dos olhos encontrando-me apenas de boxers.
E se fosses tu agora? - Desafiou sedutora.
- Eu? - Hesitei sabendo o risco que corria.
- Sim. Tu. - Afirmou desafiante com o lenço na mão pronto.

Embora não tivesse dado resposta o meu silêncio deu o consentimento de quem cala. O seu lenço escorreu sobre os meus olhos sendo firmemente atado. Demorou-se enquanto escolhia algum local escondido no seu corpo.
- Já podes - avisou desinibida.

Iniciei pelos pulsos. Um de cada vez. Eram os locais óbvios demais. Subi pelo braço.
- Assim não consegues - Provocou com segundas intenções.

A sua indicação era a clara autorização para ir mais longe. Com redobrados cuidados, por estar inibido de ver, procurei o seu pescoço que foi o farol que orientou a vertical descida até ao primeiro botão da blusa. Desapertei-o com precisão. Desci ao segundo botão, na mais crítica localização. Tudo fora demasiado rápido. Há minutos conversávamos descontraidamente e após a tresloucada ideia de um jogo provocador meus dedos preparam-se para atravessar a fronteira.
- Estás perdido? - Perguntou num tom morno ao se aperceber da minha hesitação.

Sem nada responder desaperto o botão que abre as portas dos seus seios.
Uma longa inspiração, mais intensa e sonora, desmascara o seu estado.
Sem ver o percurso resta-me seguir os botões. Com os dois indicadores abro ligeiramente a sua blusa encostando-os muito de leve aos seus firmes seios e desço ao seguinte botão meticulosamente, agora sem tocar em nada mas demasiado próximo de tudo. Novamente escuto a longa inspiração ao abrir o botão. Um a um a sua blusa é aberta com o cuidado e lentidão de quem pisa em gelo fino. O absoluto silêncio só é quebrado pelas suas profundas inspirações. Procurei minuciosamente a pulseira por dentro da blusa percorrendo repetidamente todo o seu interior com as pontas dos dedos. Apenas me restava um caminho. Teria de abrir o terrível fecho do soutien que é o meu pesadelo desde adolescente. Quanto maior é o desejo mais trancados parecem os ganchinhos. Sem ver e no estado em que me encontro será mais um dos trabalhos de hércules.
Contorno o seu tórax, pela frente, com uma mão por cada lado, suavemente, até que, quase num abraço fechado, detecto os abomináveis ganchinhos. Tenho de vencer esta barreira, sem ultrapassar o limite do confortável.
Não está nada fácil. Sentir a sua vincada respiração junto do meu pescoço dificulta a já débil concentração. Temo a sua impaciência pela minha demora embora aparente estar confortável.
Finalmente se solta o primeiro dos três. O segundo foi surpreendentemente mais simples. Falta apenas o terceiro. Estamos mais encostados, mais apertados, mais curiosos, no meio deste invulgar e provocante abraço.
O seu peito, no meu encostado, movimenta-se num enclausurado serpentear.
Finalmente o último ganchinho é vencido. Abro tímida e lentamente as tiras e, com a ponta dos mindinhos em simultâneo, num longo compasso, desencaixo o soutien do peito, ao passa-los por entre o arame de sustentação e a sua pele.
Cai o elástico na minha mão direita. Não o queria encontrar já. Não queria parar aquela busca no escuro. Mas fiquei a perceber que havia uma clara segunda intenção ao ter sido escondido naquele local. 
- Não tires a venda ainda. - Docemente pediu.

Aguardei conforme pediu. Logo de seguida senti-a a desatar suavemente o lenço dos meus olhos. Ao abrir apercebi-me que tinha composto ligeiramente a sua blusa. Apenas dois botões foram suficientes para ficar bem arranjada.
Ficamos mudos durante algum tempo. Nenhum sabia que fazer em seguida. Nossos olhares cruzavam-se sem se fixarem. Faltava a coragem para confessar a imensa vontade de continuar o jogo. Sabíamos que o tempo corria contra nós. Em breve tocaria a campainha. Os nossos amigos comuns chegariam para o jantar. Eram apenas três mas seria mais que suficiente para nos limitar o um tempo que nós eramos incapazes de estimar. O risco era maior, a adrenalina também e a vontade irresistível.
Por entre este comprometido silêncio a sua mão, a que segurava o lenço, toca de leve a minha passando discretamente o lenço com se fosse ocasional. Prudentemente toco apenas na ponta e sinto o suave acetinado que discretamente aceito. Com uma falsa aparência calma aceito o lenço fixando os meu olhar no seu. Pouco a pouco ergo-o à altura dos seus olhos e vendo-a novamente mesmo sabendo que o tempo se esgota.
A sua inspiração volta a denunciar o seu estado de desejo enquanto fico quase sem respirar inundado de vontade.
Afasto-me um pouco. Quero tornar difícil de encontrar, quero olha-la assim vendada com o lenço e mais quero que procure todo o meu corpo numa longa exploração táctil.
- Está muito bem escondido. - Avisei num muito baixo sussurro.

Procurou, no mesmo instante a minha mão. Examinou dedo a dedo, subiu pelo braço esquerdo acima, como da primeira vez. Decidida fez do mesmo modo na direita. Retirou a minha camisa, já aberta, largando-a no chão. Seguia pelo pescoço, cabeça e ombros. Tudo muito bem examinado. Faz uma pausa pensativa pensando alto:
- Então está muito bem escondido!

Sem resposta avançou sem hesitar. Colocou uma mão na minha nuca e, após circundar todo o perímetro dos meus lábios introduziu, profundamente, dois dedos na minha boca e explorou rigorosamente todo o interior. Impedia-me de falar ao mesmo tempo que lhe dava uma contraditória sensação de domínio.
Lentamente iniciou a retirada dos dedos tendo, apenas por provocação, voltado a introduzi-los uns segundos mais. Como no jogo anterior explorou costas, tronco, abdómen...
Reiniciou a partir dos dedos dos pés sem esquecer um único milímetro por analisar. Pernas, joelhos, coxas e voltava a abrandar. Vendada, pensativa e parada em frente à zona mais crítica, aparentava estar num impasse.
Subitamente colocando as mãos nos meus joelhos, como referência, sobe-as decidida, pressionando sobre as coxas até atingir o tecido dos boxers. Segurou as extremidades inferiores com firmeza, inspirou à-vontade por nada ver e não invadir a minha privacidade puxou-os energicamente para baixo deixando-me despido num único movimento. Não fora o lenço atado sobre seus expressivos olhos também o meu estado seria descoberto. A pulseira só podia estar num local e Anabela estava decidida a descobrir. De frente para mim agarra fortemente as minhas nádegas, uma com cada mão. Com as pontas dos dedos, examina intensamente a uma profundidade que me deixa muito próximo do desconfortável. Nada descobriu restando apenas o lado oposto. 
- O jogo só termina depois de encontrar a pulseira? - Inquiriu para se certificar que podia continuar a procura, desmascarando a sua inquietação.
- Só depois da pulseira. - Confirmei validando o seu livre trânsito.

De imediacto as suas mãos começaram a se afastar, contornando as ancas, uma por cada lado, lentamente progredindo justamente ao encontro das virilhas. Com as mãos paralelas, encostadas, com quatro dedos virados para cima e os polegares a acariciar o interior das minhas coxas, subtilmente vai fechando o íntimo cerco na tactil exploração que a venda apenas permite.
No preciso momento em que chegaria ao ponto mais crítico toca a campainha. 
- Estão a chegar! - Avisei por instinto.
- Ai... Estão. - Entre a momentânea surpresa e a desilusão de morrer na praia.

Anabela coloca a mão sobre o lenço para o retirar dos olhos. Colocando a minha mão sobre a sua impeço-a carinhosamente.
- Só cinco segundos. - Pedi para que não ficasse constrangida com o meu estado natural.
- Eles ainda estão lá em baixo e o elevador ainda leva um minuto até este andar. - Informei com previsão.
- Vai. Não percas tempo. - Ordenou convicta.

Agarrei em toda a roupa e corri para o quarto. Vesti-me tão rápido quanto pude para lhe dar tempo para se ajeitar.
Meu espanto, quando saio e a vejo composta, de porta aberta,
à espera dos restantes convidados, com toda a naturalidade.
A sua astúcia feminina conseguira tudo resolver num momento de inspiração. Mal saí da sala baixou a venda, apertou o soutien, abotoou o que faltava na blusa compondo-se rapidamente. 
Como o elvador estava prestes a chegar e o nó do lenço estava apertado, sem perder tempo nem a classe e aproveitando que já estava dobrado, puxou o lenço para ligeiramente acima da testa, ficando numa práctica e condizente fita de cabelo como se tivesse sido apenas para ajudar na cozinha.
Parecia que nada tivesse passado e, após a entrada dos nossos amigos, ajudou-me a colocar o assado no centro da mesa. 
Terminadas as tarefas saiu da sala.
- Vou só endireitar o cabelo.

Voltou de cabelo escovado e sem o lenço em fita. 
Tudo correra com a normalidade de um informal jantar de amigos. À saída Anabela ia aproveitar a boleia mas, algo a inquietava.
- Estava prestes a encontrar a pulseira, não estava? - Perguntou discretamente.
- Nunca saberás. - Dando-lhe um beijinho de despedida sem nada revelar.

QT

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