O fim-de-semana
começara mal. Um denso e frio nevoeiro encobria a manhã de sábado. Parece ainda
mais impenetrável quando se tem planos de passear com a companheira, embora nos
dê alguma privacidade, porque ainda há quem olhe de lado quando passam duas
mulheres de mão dada, enamoradas.
Acordadas
bem cedo não seria o clima que nos impediria de caminhar até ao Guincho.
Durante o
nosso reforçado pequeno-almoço, enquanto planeávamos o trajecto, eu tinha uma
meia surpresa para a Carla. Um Amor-perfeito, que tinha acabado de dar flor.
Ela sabia que eu tinha as sementes, que as tinha plantado, cuidado e regado até
nascer esta obra-prima da natureza. A meia surpresa foi apenas por eu ter
insistido em lhe oferecer sem um aparente motivo.
- É um
presente para ti.
- A flor já
abriu! Está linda. Que querida. Obrigada, Rita. - Agradeceu espantada.
- Queria
muito dar-te antes de sairmos.
- Há alguma
razão escondida? - Questionou muito curiosa.
- Há.
- Conto-te
pelo caminho. Na volta abres este envelope que deixo na mesa.
Agora vamos
preparar para sair e aproveitar a manhã. - Ordenei despachada.
- O que tem
o envelope? - Curiosa perguntou.
- Na volta
abres. Só na volta. - Insisti.
Descemos, no
elevador, até à garagem e partimos para a curta viagem até ao percurso pedestre
junto ao mar.
O nosso fiel
Fiat 500 ficou estacionado num local sossegado e aparentemente seguro, junto a
umas vivendas, a poucos quilómetros do nosso destino.
Carla, muito
práctica, de fato de treino e de lenço em fita a lhe prender o cabelo, que lhe
fica muito bonito e feminino. Eu preferi as minhas calças de corrida, sweater e
rabo-de-cavalo. Gosto de ver mas não tenho o seu jeito para colocar lenços.
Arrancamos
decididas penetrando o nevoeiro, que até dava um ar místico à manhã e já
começara a se dissipar.
Aproveitei
para apresentar a minha ideia com subtileza.
- Gostaste
do meu presente? - Iniciei discretamente.
- Claro que
gostei. Não fazia ideia que a tinhas semeado propositadamente para mim.
- E de tudo
o que mais te faria feliz? - Perguntei manhosa.
- Tu sabes
mas porque perguntas agora?
- Porque
quero que me digas novamente.
- Estás
estranha... - Suspeitou.
- Vais
perceber mais tarde. Dizes-me?
- Está bem.
Quero ter um filho. Quero engravidar. Tê-lo naturalmente. E quero ter contigo,
faze-lo por gosto mas isso não é possível
- E
alternativas?
- Porque são
essas perguntas todas? - Ainda mais desconfiada.
- Só quero
perceber uma coisa e que também vais perceber. Segue-me desta vez. Peço-te.
- Pronto.
Diz lá.
- E
alternativas? - Insisti.
- Adoptar é
complicado para duas mulheres e queria também passar pela gravidez, como te
disse antes; banco de esperma parece muito artificial e quero fazer por amor.
Tentar arranjar um voluntário para me engravidar seria quase tão mau como uma
violação. Não vejo forma.
Já chega? Respondi a tudo? - Um pouco tensa
com as perguntas
- Já.
Obrigada. - Apertando carinhosamente a sua mão enquanto caminhávamos.
Percebia-se
o seu desconforto por esta minha insistência e, por isso, andamos largos
minutos em silêncio.
Ficou a
tentar encontrar um sentido na minha conversa até que não resistiu a quebrar
esse silêncio.
- Rita. Que
perguntas foram aquelas? Que mistério é esse? E o envelope? Até a flor que
plantaste para mim foi inesperada. Podes explicar tudo isso?
- Claro que
posso. Foi uma ideia que tive. Explico depois de me responderes a uma última
questão.
- Mais uma?
Diz lá.
- A flor que
eu semeei e te ofereci fui eu que recolhi a semente e deixei secar. Era a
semente de uma flor de um amigo. Agora que sabes pensas neste amigo quando
olhas para a flor?
- Obviamente
que não. Nem o conheço e tu tiveste todo o trabalho de recolher, semear e
cuidar da planta até dar flor, para me ofereceres. Foi muito mais especial que
imaginei. Foste muito querida. Obrigada. - Colocando a sua mão direita na minha
cara e docemente beijando os meus lábios.
- E se eu te
plantasse um filho ias pensar no amigo, que ofereceu a semente, quando o bebé
nascesse?
Carla parou
no meio do caminho, muda, imóvel e quase inexpressiva, olhando fixamente para
mim. Processava toda aquela informação tão envolvida em mistério como nós pela
névoa.
- Tens algo
planeado que não me tenhas contado? - Um pouco atordoada.
- Estou a
contar-te agora.
- Há quanto
tempo começaste a planear?
- Muito.
- Foi tudo
premeditado neste passeio?
- Quase
tudo. O Amor-perfeito por sorte abriu. Tinha esperança que fosse hoje.
- E o
"fornecedor da semente"?
- Tenho.
- Como o
conseguiste?
- Graças ao
que tens na cabeça.
- Mas não
tenho nada. - Passando a mão pelo cabelo.
- Vê melhor.
- O lenço?!
- Ainda mais confusa.
- Sim. Eu
conto pelo caminho - Esticando a mão num convite implícito para continuar a
passear.
- Quando me
pediste um lenço emprestado, para usares, já fazia parte do plano?
- Sim,
fazia. Como te lembraste? Foi quando o persuadi. Já foi há meses.
- Lembrei-me
porque tu nunca usas lenços e fiquei surpreendida.
- Também não
te escapa nada.
- Como se
convence alguém para algo como isto, apenas com lenços?
- Nem
imaginas o poder que os lenços podem ter sobre raras pessoas. É aquele velho
amigo que já te falei e contei-te desse fetiche.
- Lembro-me
de me falares em alguém assim.
- Ele é saudável,
normal em tudo excepto nesse segredo, advogado de profissão e não é feio.
- Falas como
se tivesses tudo combinado. - Reagiu renitente.
- Não está
nada agendado. Apenas te quis mostrar que era possível se quiseres. Eu conto-te
como se procederia caso assim decidas.
Pelo caminho
conto os detalhes. Encontrei forma de o fazer sem teres nenhum contacto com
ele. Eu recolho a semente e planto em ti, só entre as duas.
Todo o
caminho foi um monólogo enquanto lhe contava todos os pormenores detalhando um
minucioso plano. Carla manteve-se em absoluto silêncio, quase em estado de
choque pelo cenário que se desenhava.
De volta ao
carro, cansadas, suadas e sedentas, enquanto terminávamos as nossas águas,
subitamente diz:
- Rita...
Quero fazer isso. - Calando-se de seguida.
Não esperava
já a resposta. Sem palavras abracei-a longamente.
Entramos no
carro e voltamos a casa com um indisfarçável sorriso.
- Vou
preparar tudo e a partir de agora medimos-te a temperatura todos os dias.
- Combinado.
- Respondeu num tom prudente.
Ao entrar em
casa virou, de imediacto, para a cozinha. Ainda havia o misterioso envelope.
Rasgou-o
energicamente e retirou uma missiva, muito bem escrita por mão de advogado,
declarando prescindir de direitos sobre uma criança que possa nascer de uma sua
doação de esperma.
- Não
descoles o post it. Não vais querer saber o nome. - Supliquei
- Não. Não
vou.
- Obrigada.
- Agradeci preocupada
- Isto foi
escrito pelo teu amigo com o fetiche dos lenços?
- Foi. Tudo
conforme a lei para não haver imprevistos. Dá jeito que seja advogado.
- Nunca
imaginaria que premeditarias nada deste género. - Respondeu num tom sarcástico.
- Nem eu. -
No mesmo tom.
Passada uma
semana, logo de manhã, num oportuno sábado, fui acordada suavemente.
- Rita... Já
estou com mais meio grau. Devo estar fértil.
Abri os
olhos, sorri-lhe docemente, dei-lhe as duas mãos e carinhosamente apertei.
- Vou já
ligar e preparar tudo. - Avisei de seguida.
- E o que
faço eu? - Perguntou ansiosa.
- Ajudas-me
na preparação. Trazes-me os teus lenços para escolhermos? - Pedi decidida.
Tinha o
guião muito claro na minha mente.
Fiz o
telefonema e combinei para as dez. Tínhamos cerca de duas horas. Arrumamos o
quarto, tomamos um generoso e saudável pequeno-almoço antes do banho, vestimo-nos
confortáveis e prácticas, preparamos a sala, posicionando o cadeirão de braços
de frente para a janela e de costas para a porta que dá para o hall, colocamos
as colunas de som junto a essa porta e ligamos a aparelhagem num volume
suficiente para criar uma barreira musical entre a sala e o resto da casa mas
sem ser excessiva nem desconfortável.
Apenas
faltavam os últimos mas mais importantes detalhes: o inseminador - um tubo
arredondado na ponta, com um êmbolo - e os lenços.
- Vamos
escolher lenços?
- Vamos. -
Respondeu abrindo a sua gaveta.
- Primeiro
escolhes um para eu usar na cabeça?
- Em fita? -
Perguntou em tom de afirmação.
- Não. Em
triângulo estilo camponesa. Deixa-o mais preparado para a doação.
-Ele fica
excitado ao ver-te de lenço à camponesa? Tu é que sabes. - Acutilantemente
comentou tão surpresa como divertida.
Rita
escolheu um lenço pequeno e vermelho para ser ainda mais vistoso e provocador.
- Pões-me? -
Docemente pedi por ter muito menos experiência que Rita no que toca ao uso de
lenços.
Cuidadosamente
dobrou o lenço num triângulo, puxou o meu cabelo para trás, colocou-o sobre o
meu cabelo deixando de fora um pouco da franja e atou bem justo atrás da nuca,
deixando as pontinhas ligeiramente visíveis do meu lado esquerdo. Muito séria
verificou todo o trabalho e corrigiu pequenos detalhes. Afastou-se ligeiramente
e abriu um iluminado sorriso.
- Ficou-te
tão bem. Tens de pensar em usar mais vezes.
- Obrigada.
A arte é tua. Vamos escolher outros de acordo com o plano? - Novamente pedi.
- Vamos,
claro. - Concordou sem hesitar.
- Estes dois
pequenos, mais velhos, de algodão muito fino e gasto. São muito macios e não
escorregam.
Pareciam
perfeitos para vendar. Um lenço todo castanho, escuro, de borda ligeiramente
acetinada e outro em riscas vermelhas e azuis escuras. Ambos muito anos
setenta. Rita percebia a dinâmica dos lenços e escolhia determinada.
- Faltam
mais dois. Bastam estes.
Eram dois
lenços, também quadrados, grandes, sintéticos que, em diferentes promoções,
teriam sido oferecidos como complemento de alguma peça de roupa. Nunca os usara
mas por serem de fácil arrumação deixou-os guardados.
Retirei do
saco, muito bem lavado e desinfectado, o aplicador vaginal. Era este o meio
para lhe semear. Enrolei-o numa toalha húmida e morna tanto para o deixar
escondido como para que não sentisse incómodos no momento principal. Tudo fora
meticulosamente planeado.
Ambas de pé,
começo a despi-la, frente a frente, olhos nos olhos, peça a peça. Por baixo
agarro a t-shirt e começo a subir lentamente. Rita levanta os braços num implícito
consentimento. Não usava nada por dentro revelando logo os seus seios. Beijo-os
longamente. Pela cintura baixo-lhe as leggings até retirar e repito com as
cuequinhas, sempre docemente arranhando sua tez. Sento-a na cama e descalço-a
rapidamente.
Agarro no
lenço castanho fazendo cuidadosamente uma fita.
- São estes
que nos vão ajudar - Comentou Rita ainda incrédula.
- Vão. Vão
mesmo - Insisti
Beijei-lhe
cada olho e suave e firmemente atei o lenço.
Continuei
percorrendo seu corpo com beijos. Tinha vontade de me despir. Não podia. Ainda
não...
Empurrei-a
com cuidado deixando-a deitada, receptiva ao que viria. Percorria levemente o
seu corpo com os dedos, em todo o comprimento, do pescoço aos pés e volta, com
uma mão de cada lado, de forna previsível e repetitiva. A meio caminho o meu
dedo cuidadosamente explorava toda a sua profundeza e retomava o percurso.
Toca a
estridente campainha. Coloco um dedo sobre os seus lábios como se selasse o seu
silêncio.
- Shhhhh. Já
volto. - Levantando-me prontamente para abrir a porta.
Como
previsto era o meu amigo. Disponível para nos oferecer o melhor presente.
Abro a porta
sem disfarçar o meu sorriso e curiosa em saber se o meu acessório tem o
pretendido efeito.
Os seus
olhos denunciam-no no mesmo instante que o cumprimento.
- Olá. - Num
tom médio grave a tentar criar um ambiente sensual.
- Olá. -
Respondeu tentando não parecer constrangido.
Não resisti
a dar-lhe um profundo e sentido abraço consciente que o teria persuadido
fazendo uso do seu mais íntimo segredo e do valor da sua oferta.
Não ficara
nada indiferente a sentir o lenço assim tão perto.
- Gostaste?
- Referindo-me subtil e implicitamente ao meu lenço na cabeça.
-Muito.
Devias tentar usar mais vezes. - Elogiou com a mesma frase que já hoje tinha
ouvido.
Dei-lhe a
mão e levei-o para a sala. Já sabia o que tinha a fazer.
Deixei-o a
se preparar enquanto voltei ao quarto para manter Carla quente. Vendada,
coberta apenas com o lençol, expectante e um pouco perdida transbordava
sensualidade. Retomei exactamente onde tinha parado. Voltei a percorrer seu
corpo de cima a baixo. Voltei a procurar a sua profundidade. Sentia o seu corpo
a contorcer-se mas ainda não podia ir mais longe.
- Já volto.
- Avisei.
- Volta depressa.
- Respondeu em tom de desejo.
Peguei nos
lenços e no aplicador bem envolvido na toalha morna, e dirigi-me à sala. Lá
estava perfeitamente preparado como havia sido combinado: sentado no cadeirão
virado para a janela, com a toalha sobre o colo, as calças e boxers dobrados e
colocados sobre a mesa, pronto para os finais detalhes.
O seu olhar
fixado no lenço que uso na cabeça é sinal que está a ficar como me interessa.
Em silêncio
dobro o lenço azul e vermelho em fita e de forma provocadora ato sobre os seus
olhos. Com os dois que sobram ato cada pulso a cada braço do cadeirão. Apenas
uma volta e um nó justo para sentir que não quero que participe nem me toque e,
principalmente, por saber que o deixam ainda mais descontrolado.
- Faço eu
tudo. Não digas nada - Confirmei embora estivesse previamente combinado.
Ficou
obedientemente em silêncio mas a toalha já não era suficiente para esconder a
sua rigidez. Estava no ponto certo.
Retirei a
toalha. Lá estava pronto para a colheita. Não estava certa de como faria mas as
dicas de uma amiga casada e o meu amigo Google foram ajudas perfeitas. Agarrei
com alguma hesitação, por ser a primeira vez que agarrava um homem, mas
rapidamente observando as suas reacções percebi como funcionava. O estado
provocado pelos lenços, durante a sua aplicação deu-me um ponto de partida e,
em pouco tempo, já escorria a preciosa semente, cuidadosamente recolhida no
aplicador. Voltei a enrolar esse aplicador na toalha morna
Coloquei a
toalha, que o cobriu inicialmente, no seu colo e soltei-lhe um pulso.
Fui de
imediacto para o quarto e, novamente percorri o corpo de Carla carinhosamente
de cima para baixo. A primeira volta foi uma repetição das anteriores mas à
segunda, a sua profundidade fora conquistada pelo aplicador em vez do dedo. Ao
chegar ao fundo era completamente despejado e o percurso retomado.
Ele saíra só
e discretamente.
Estava, por
mim, plantada a semente. Ficamos longamente disfrutando do momento até ao
esgotar da energia.
- Fica mais
um pouco sem tirares o lenço dos olhos.
Mesmo sem
perceber Carla deixou-se assim ficar, ouvindo-me movimentar pelo quarto e casa.
Finalmente,
após a breve espera, concluída com um leve beijo nos lábios, desatei o lenço
que a mantém no escuro com um suave cuidado.
Não havia vestígios
nem de desarrumação, nem da preparação, nem do meu amigo. Sobre o parapeito da
janela coloquei, muito intencionalmente, a planta oferecida.
Sentia que
tudo acontecera como se fosse apenas entre as duas.
- Agora
percebo o amor-perfeito por ti plantado.
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