Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Vista do Cais

Por ainda estar na hora de sol alto, com o almoço bem presente, era muito apetecível percorrer o vetusto cais até à ponta. Ainda na zona dos pilares sobre a areia lá estava sentada, de cabeça dobrada para baixo, descobrindo seu elegante pescoço dos seus volumosos e ondulantes caracóis. Despertado o radar instintivo, a minha atenção ficou cativa desse movimento de quem parecia ir atar o cabelo. Os óculos de sol permitiam que fosse discreto evitando denunciar meu olhar potencialmente constrangedor. Lá estava, na sua mão, um lenço de algodão, deliciosamente dobrado em fita, pronto para cumprir a sua função de dominar aquele rebelde cabelo. Passou o lenço sobre a linha do cabelo, esticou pela nuca e finalizou com um nó seguro. Um momento tão simples como sensual. Levantou-se em seguida, ajeitou o lenço, recolocou os óculos e voltou à sua leitura. Consumi esta visão, imerso por esse delicioso instante, como se toda a restante praia desaparecesse numa densa névoa
Na mesma tarde, não passara muito tempo, voltei à praia. Não resisti a estacionar a minha toalha por perto mas sempre com o cuidado de evitar desrespeitar seu espaço. Mantive a distância de admirador secreto. A tarde passou entre sol, mar e esta sedutora imagem dos largos caracóis sob um lenço muito bem atado em fita.
Cheguei cedo à praia no dia seguinte. Muito cedo. Estendi a toalha não muito longe do local da véspera. Tinha esperança de reviver a mesma visão. Mais tarde apareceu. O lenço, sempre perfeitamente dobrado em fita a prender o cabelo, era outro, igualmente sensual. Linda.
O calor apertava e era o segundo motivo que me pelo qual já precisava arrefecer no mar. Sem pressa entrei deixando a água fluir por entre os pés. Sem dar por isso também ela tinha entrado. Mais afoita já tinha a água pela cintura mas não parecia querer entrar mais. Mantinha o lenço a prender o cabelo. O mar estava forte.
Subitamente uma onda, vinda do nada, agiganta-se, enrola-a sem piedade, derrubando-me quando colidiu com as minhas pernas.
- Obrigado Neptuno por esta oportunidade. - Pensei de imediacto.

Caídos na água pouco profunda, após o recuo da onda e um pouco atordoados pela rapidez do incidente, recuperávamos a postura. Ela desfez-se em desculpas pela placagem. Sorridente, quase excessivamente, descansei-a. Nada de mal acontecera. De pé, completamente despenteada, com os seus caracóis esticados pela água e perdidos sobre a face, passava a mão no cabelo para repor a apresentação quando, subitamente, ao se apercebe que algo falta
- O meu lenço! - Lamentou olhando para o mar
O meu olhar instintivamente virou na mesma direcção e o meu radar natural olhou abertamente à procura de um lenço sem risco de me denunciar.
Uma das pontas percebia-se no meio da espuma das ondas, a ser puxada para fora de pé
Corri para o mar, furei umas ondas e nadei com a força que tinha até o conseguir apanhar.
Sorridente entreguei-lhe seu lenço, na mão, olhando-a nos olhos.
- Obrigada, muito obrigada. Não era preciso arriscar. E só um lenço. - Agradeceu com sinceridade.
- De nada. Estava a precisar do mergulho - Respondi tirando importância ao incidente, empenhado em ser simpático.
- Mas agradeço na mesma - Insistiu enquanto espremia o seu sinistrado lenço, junto ao corpo, logo abaixo do peito
- Tive todo o gosto em ser útil - Saiu-me assim em jeito quase comercial

As palavras certas faltavam-me. Desejava, com enfase no desejo, prolongar a conversa. Queria dizer qualquer coisa sobre o seu lenço molhado mas nada saia.
- Vou voltar para a toalha - adiantou-se.

Teria perdido a oportunidade de conversar por não ter sido capaz de iniciar um tema interessante. Apenas me apetecia dizer que adorava a ver com o lenço e quão atraente ficava.
A hora de almoço aproximava-se e o calor apertava. No preciso momento em que saia do areal também ela saia. Sorridente, com o lenço atado no saco de para secar mantinha o seu ar sensual.
- Também vai? - Atrevi-me a perguntar.
- Vou. Como no hotel e volto para caminhar até ao fundo da praia.
- Parece muito bom - Respondi confessando o meu interesse.
- Se gosta de caminhar venha também.
- Gosto imenso. A que horas combinamos?
- À uma e meia a partir daqui. Pode ser?
- Claro que pode. Até logo - despedi-me ansioso.
Cada um foi ao seu almoço
Não havia muito tempo até à hora combinada mas, mesmo assim, cheguei adiantado.
Não conseguia deixar de questionar se viria de lenço.
- Olá. Vamos? - Oiço uma voz vinda de trás
- Olá! - Respondi surpreso
- Vim pelo caminho de baixo. - Justificou ao perceber o meu espanto.
- Por isso não a vi chegar. Vamos para que lado da praia? - Adiantei-me a perguntar.
- Para sul. - Determinada respondeu.

Iniciamos a caminhada mas, ao contrário do que imaginara e sonhara, não vinha de lenço. Mesmo assim ter companhia para caminhar vale sempre a pena. Ainda pouco tínhamos caminhado quando me pediu para parar por um minuto
- Quase me esquecia do sol. - Retirando a mochilinha que trazia as contas
Do fundo saiu um lenço paisley, de algodão, azul, muito bem engomado. Fui apanhado com alguma surpresa.
Desdobrou cuidadosamente e dobrou num triângulo desnivelado deixando uma ponta mais longa, certamente para proteger melhor o cabelo do sol
Estava deliciado, a derreter-me, não pelo sol mas pela forma inocente como me seduzia.
Dobrou-se para passar o lenço na testa e atar atrás da nuca com precisão. Ajeitou para passar ligeiramente a linha do cabelo e soltou os caracóis por baixo
- Ficou bem? - Perguntou ignorando todo o seu erotismo.
- Sim. Perdoa-me a franqueza. Não quis ser inconveniente. Fica fantástico com as pontas a dançar com o movimento, enquanto realça a expressão da face. E assim, tão bem posto, vê-se que sabes usar.
- Obrigada. Quase me fazes corar. E tu como sabes tanto de lenços? - Percebendo que havia mais.
- Sempre achei muito versáteis e atraentes - Respondi simplificando para não desvendar demais antes que lhe parecesse estranho.

Inadvertidamente já nos tratávamos por “tu”.
Um misterioso sorriso, estampado nos seus lábios, deixava-me na dúvida se gostou do que lhe disse ou se achou disparatado.
Seguimos viagem pela areia quente da praia, rumando a sul como planeado.
No ar ficou uma curiosa sensação. Ela percebera que eu gostava de a ver de lenço ajeitando-o intuitivamente, com frequência e eu percebi que ela percebera.
Com o percurso e a conversa alguma cumplicidade surgia naturalmente. Andamos muito. Mais que o habitual dela. O sol já não estava tão agressivo. Nesta zona a praia estava deserta e mar plano. O areal entre rochas e poças reflectia uma luz fantástica. Decidimos ficar por lá.
Colocamos as toalhas na areia, mochilas sobre uma rocha plana e despimos as t-shirts.
Ansioso por saber o que faria com o lenço da cabeça não me desiludiu. Parecia ter planeado a provocação.
- Só falta guardar o lenço - Comentou atenta à minha reacção ao desatar denuciadamente o nó da nuca.
- Guarda bem. Não vá molhar-se também - respondi, novamente a tentar ser natural e prolongar o tema.
- Irias novamente salva-lo?
- Claro. Fica tão bonito que vale a pena o esforço.- Respondi a tentar perceber até onde podia levar a conversa.
- E porque gostas tanto?
- Nao sei como explicar. Sei, apenas, que fica muito atraente.
- Então fico atraente de lenço? Mais que se fosse de vestido justo e decotado com saltos?
- Do meu ponto de vista muito mais. - Respondi algo envergonhado.
- Isso é muito engraçado. - Passando a mão pelo cabelo instintivamente.
Aproximávamo-nos com naturalidade. Ambos estávamos a gostar do desenrolar da conversa que, passo a passo, queríamos ver onde chegava.
- E tu porque gostas de usar? - Arrisquei perguntar, respirando fundo.
- Sinto-me bem. Gosto de adicionar cor ao cabelo, é muito práctico, acho que fica bonito e prático. Gosto de usar no pescoço que é elegante e aconchegante. Completa qualquer roupa em qualquer situação.
Tenho muitos, sabes?
- Isso é tão sedutor. - Escapou-me inusitadamente.
- Achas mesmo? - Perguntou ainda incrédula.
- Sim. Deixam uma mulher deliciosamente irresistível. - Sentindo que já nada tinha a perder.
Um misterioso sorriso crescia de seus lábios sem nada mais dizer. Espero não a ter assustado por ter sido tão directo.

Com o lenço e mochilas seguros sobre a rocha lisa e toalhas estendidas aproveitamos para mergulhar no mar que, hoje, era mais calmo.
Voltamos refrescados e não conseguia deixar de pensar se o voltaria a usar.
Estava completamente derretido. Vencido pelos seus sedutores lenços. E ela tinha noção disso.
Não voltou a colocar o lenço como antes mas quando o cabelo perdeu parte da água foi buscar outro, dentro da mochila. O que fora salvo na véspera. Sempre atenta à minha reacção enquanto cuidadosamente o colocava, em fita, no cabelo. Divertia-a essa forma recém-descoberta de ter mais atenção.
- Gostas? - Em jeito de provocação.
- Adoro. - Confessei abertamente.
- Então vou usar todo o tempo.
Mas era hora de voltar. A caminhada tinha sido mais longa e passamos bastante tempo na água. Havia crescido alguma química entre nós.
Pelo caminho passou diversas vezes mão no cabelo pelo lenço. Torcia ligeiramente a ponta deixada depois do nó. Já certa do efeito provocador.
Chegamos ao ponto de partida. Estendemos as toalhas e antes de voltarmos ao mar tirou o lenço e colocou sobre a toalha.
- É para não ser preciso ser salvo novamente. - Em tom de pura provocação atenta à minha reacção.
- Há que ter cuidado.- Respondi apenas para não ficar calado e disfarçar o embaraço de falar de algo tão sensual em público.

Passávamos bem o tempo. Havia tema de conversa e disfrutávamos da companhia.
Depois de deixar o cabelo secar um pouco voltava a por o lenço em fita e retomava a leitura. Basta estar ao lado deliciado com essa imagem para ser uma tarde feliz.
Na hora de ir soltava o cabelo, atava o lenço na mochila e, como se habituara, registava a minha reacção, enfeitiçado pela sua sensualidade.
- Voltamos a caminhar amanhã?
- Claro.- Previsivelmente respondi.



No dia seguinte voltou de lenço já posto em triângulo sobre a cabeça com os seus óculos. Linda e sensual. Trazia, as costas, uma mochila maior. Parecia carregada. Vinha com um segundo lenço atado na mochila. Era declaradamente provocatória. Uma provocação absolutamente eficaz.

- Olá. Tenho uma sugestão: o que achas de irmos já caminhar e ficar naquele lugar óptimo onde paramos ontem? Trago picnic para dois.
- É uma excelente ideia. Vamos.
- Trocamos as mochilas? És mais forte e a minha veio carregada.
- Claro. Tenho de merecer o almoço. - Não resisti à ironia.

Trocamos as mochilas e seguimos a rota da véspera.
Sentia algum peso do picnic mas havia outro peso maior que não se media em quilogramas. O lenço, mais sensual e feminino, atado na mochila, que eu agora carregava, deixava-me desconfortável e notava-se.
- Já percebi que há um detalhe que te está a perturbar. É espantoso esse efeito. - Observou atenta.
- Não faz mal. - Respondi intermitente.
- Eu tenho solução. - Retirando o lenço da mochila sob o meu curioso olhar.

Atou no seu pulso esquerdo soltando um brilhante sorriso de missão cumprida.
Com um lenço no cabelo e um segundo atado no pulso irradiava uma indisfarçável sensualidade que não me deixava nada indiferente.
- Ficas mesmo enfeitiçado quando uso lenços? - Perguntou muito directamente sem cerimónias.
- Fico. E combinado com esse sorriso ainda mais. - Respondi da mesma forma directa com um piropo incluído.
- Obrigada. - Ligeiramente surpresa pelo elogio.
- Espero que este meu fascínio não te cause desconforto.
- Clara que não. Gosto de me sentir sexy. E adoraria testar o poder que esta espécie de feitiço dá. Se não te deixar incomodado.- Agora mais reservada.
- Não deixa. Podes testar de todas as formas que quiseres.
- Ansioso pelo que dali poderia sair.

Pelo caminho, notava-se que queria saber até onde iria o feitiço. Os seus toques frequentes nos lenços, tanto no atado no pulso como no atado na cabeça denunciavam a sua curiosidade.
Era mais que óbvio que se notava que eu estava completamente seduzido à chegada ao nosso local de praia. Pousamos mochilas e ela, qual cientista, testaria os limites da minha resistência.
Estendes as toalhas enquanto eu desato o lenço do pulso? - Pediu em jeito de irrecusável ordem.
- Jå está. - Cumpri rapidamente enquanto redobrava o lenço numa fita mais larga.
- Não estão bem estendidas - reparando nas rugas que ficaram por ter sido demasiado rápido e subtilmente indicando que queria que eu perdesse mais tempo.
- Tens razão. Vou corrigir. - Desta com todo o cuidado e bem devagar.

Virou-se de costas para mim e, por baixo da t-shirt, atou o lenço sobre o peito.
- Posso abusar um bocadinho? - Perguntou desafiante após despir a t-shirt demonstrando o seu prático e muito sensual top feito com o lenço.
- Tudo…  - Poucas palavras e muito dito.

Estava quase fora de mim. Já preocupado que se pudesse perceber fisicamente através dos calções.
Ela ficara absolutamente sedutora de lenço na cabeça e outro sobre o peito. Naquele momento era a rainha do erotismo frente a este fiel súbdito.
- Abres a mochila e tiras as uvas? - Emitiu a sua primeira ordem
- Claro - Apressei-me a cumprir retirando cuidadosamente um generoso cacho de uma gelada lancheira.

Ia entregar-lhe na mão mas, sorridente, indicou-me que não, num suave gesto de cabeça.
Por um momento andei perdido sem saber o que esperava. Desvendou o mistério quando se colocou deitada, de costas, apoiada nos cotovelos e discretamente abriu a boca.
Era óbvio que ali estava uma rainha e deveria ser tratada como tal.
Gentilmente coloquei-lhe uma uva na boca. Recuou a cabeça para trás, fechou os olhos e trincou a uva sorvendo o fresco e regenerador sumo. O seu movimento criava um suave sensual ondular nas pontas do lenço, que me deixa ainda mais seduzido.
Uma a uma, lenta e docemente, disfrutávamos daquela especial ocasião. 
Subitamente uma uva que acabara de ser colocada entre seus lábios cai. Rolou, sem vergonha, até ao vale entre os seios, travada pelo lenço que os cobria. Presa num enclave tão erótico e ao mesmo tempo arriscado julguei nada poder fazer.
Ela olhava para mim de provocante sorriso, pacientemente à espera, sem me dizer de quê.
- Para ti... - Finalmente de uma pista após um longo e misterioso momento.

Com o maior cuidado aproximei as pontas dos dedos mas, pelo caminho, já me sinalizava que não. Parecia contraditório. O mistério adensava-se mas nada, agora, me faria desistir. O seu silêncio multiplicava o enigma. Voltei a tentar da mesma forma mas insistiu na recusa. O seu enigmático sorriso e os seus redondos olhos combinavam numa expressão que era realçada pelo lenço, que expunha a sua face, mas em nada me ajudava. Até que, muito discretamente, passou a língua nos seus dentes incisivos superiores. A chave estava aí. Posicionei-me encostado, com uma mão de cada lado, seguramente ancorado, para não cair sobre ela. Com rigoroso cuidado aproximei-me do seu peito e, milimetricamente, segurei a uva com os lábios. Não houve nenhum sinal vermelho mas não tinha forma de saber se tinha livre-trânsito.
A minha respiração quente percorria intensamente o seu vale entre seios. Muito lentamente levantei-me mordendo, vitoriosamente, a uva.
Já era capaz de interpretar o seu sorriso. Era óbvio que devia continuar. Mais uvas sensualmente entreguei. Frequentemente caia alguma que se alojava precisamente no mesmo local. Não era ocasional. Havia uma perversa e bem-sucedida intenção de me provocar.
Por cada nova uva os meus lábios discretamente aumentavam o tempo e área de contacto com a sua pele.
Chegou um momento em que recusou. Será que fui longe demais? Novo enigma.
- Não queres mais? - Perguntei sem obter resposta do seu intocável sorriso.

Orientou o seu olhar na direcção do mar. Seria esse o destino?
- Para os peixes? - Novamente inquiri intrigado.

Desta abriu o sorriso confirmando. 
Embora sem perceber o sentido atirei, com inspiração. Com a inspiração que a própria me dava.
A uva caiu distante mas, ainda visível, voltou à tona.
- Afinal é para ti. - Finalmente falou.

Sem questionar, percebi o que queria. Entrei no mar sem hesitar. Faria o que me pedisse assim enfeitiçado. Estava á espera de ver o vapor sair da água como acontece com o ferro em brasa. Era em brasa que me tinha deixado.
Não era certo se me enviou ao mar para me arrefecer ou para testar o poder dos lenços. Ou ambos...
Rapidamente voltei, sentindo o mesmo sabor contraditório do doce da uva com o salgado do mar, enquanto ardia de desejo mas estava controlado pelo sua vontade.
Nas toalhas estavam sumos e sanduiches. 
Período de tréguas estava declarado.
- Muito obrigado - Agradeci ao ver a gentil refeição.
- De nada. Tens de recuperar a energia. - Retorquiu sem conseguir perceber se haveria uma segunda intenção dissimulada.

Estava em permanente provocação. Premeditada ou não. Frequentemente colocava-se em meio perfil agitando o seu lenço da cabeça ou, simplesmente, ajeitava o lenço sobre o peito.
Terminada a refeição abanou a toalha e retirou o protector solar da mochila.
Olhou para mim, com o habitual sorriso, esticou o braço com o protector na mão e posicionou-se na toalha deitada de barriga.
Com a mão esquerda, colocou o polegar sob o nó do lenço que cobria o peito, levantando-o ligeiramente, indicando, com clareza, que queria que desatasse. Mesmo assim aproximei-me com cuidado e suavemente coloquei os dedos sobre o nó, sempre atento aos sinais. Com a precisão de relojoeiro e a leveza de uma pena desatei o primeiro nó. Da mesma forma desatei o segundo mantendo as pontas do lenço seguras nas mãos. Afastei-as para os lados esticando totalmente o lenço entre a toalha e o seu peito, expondo as suas costas. Gentilmente afastei o seu cabelo da nuca preparando todo o corpo para o creme. Fiz um risco de protector solar em cada perna e braço, sobre todo o seu comprimento, dois riscos nas costas paralelos, simétricos em relação á coluna e passei um pouco nas mãos, preparando-as.
Suavemente, iniciando pelo tornozelo direito, espalhei o creme. Subi lentamente até chegar ao limite da nádega. Repeti metodicamente na perna esquerda. Voltei á direita e, no mesmo sentido, com as dez pontas dos dedos em simultâneo percorri igual caminho, ainda mais lentamente. Repeti previsivelmente na esquerda respeitando a fronteira. Após uma ligeira pausa, com ambas as mãos sincronizadas, colocando o meu peso sobre as duas mãos, voltei a espalhar creme. Sentia ínfimas torções e discretos gemidos. Entregava-se por cada vez que, repetidamente, lhe percorria as costas. Sorrateiramente chegava ao pescoço. Retirei o peso e navegava, com suavidade entre o pescoço e os ombros. 
Após uns momentos desci pausadamente até às mãos e, com toda a leveza, percorri os dedos um a um. 
Deixei-me ficar, algum tempo, a admirar, deliciado. 
Peguei numa das pontas soltas do lenço que lhe cobria o peito e passei sobre as suas costas. Repeti com a outra ponta como se estivesse, novamente, a dar o nó indicando subtilmente estar a terminar a primeira parte da tarefa.
Colocou a sua mão sob o seu peito, segurando o lenço, com as pontas caídas de lado e o ar de quem não vai deixar ver nada, só por provocação.
Virou-se com cuidado e, lentamente, deitou-se esticada de costas na toalha. Virou novamente a cara em meio perfil, combinando o seu sorriso com a expressão, realçada pelo lenço na cabeça. Era a licença para continuar. Voltei a passar um risco de protector em cada perna e em cada braço, dois riscos verticais, paralelos, simétricos ao umbigo até junto ao peito e um risco horizontal abaixo do pescoço de ombro a ombro. Passei as minhas mãos para preparar.

Novamente iniciei o percurso a partir de baixo. Desta pelos dedos dos pés. Um a um, sempre lentamente, da esquerda para a direita. Espalhei, do mesmo modo, na perna esquerda até, rigorosamente, à linha do biquíni e repliquei na direita. 
Na barriga arrisquei passar mesmo por baixo do elástico do biquíni repetindo o que já seria provocação de um lado para o outro. Seu corpo respondia em contidas torções. Subi até junto ao peito. Atrevidamente dobrei para destro as pontas do lenço que, com dificuldade, o cobriam ficando no limite da decência, num severamente frágil equilíbrio. Seus olhos abriram perante tal atrevimento mas nada fora proibido. Percorri, com as pontas dos dedos, o perimetro do seu peito tão leve e lentamente que o creme (e eu...) necessitou de diversas passagens para ficar bem espalhado, tendo sempre em mente o tão frágil equilíbrio do lenço que já só cobria a zona crítica do peito. O risco inflacionava a excitação.
Mais tarde subi pelos braços até me perder em repetidas passagens no pescoço e ombros.
O protector solar estava colocado. Mais de uma hora levei para completar esta tarefa. 
Novamente vira a face para o meio perfil sabendo que magnetizava a minha atenção. Agradece apenas com os lábios, sem som. E desvia seus olhos para a minha toalha indicando-me que era para lá ficar.
Deitei-me de costas. Apercebi-me que o meu estado de excitação se notava fisicamente debaixo dos calções. Foi embaraçoso perceber que não seria apenas eu a notar. Ia virar-me rapidamente mas tarde. Já fora descoberto. A sua mão, condescendente, toca no meu ombro como se dissesse "Já vi como ficaste. Deixa estar".
Ficamos estendidos a torrar ao sol. Era impossível deixar de espreitar quando se virava. Aquele lenço que apenas cobria o peito, sem nada segurar, era um risco a cada mudança de posição.
- Podes virar-te um pouco? - Subitamente pediu privacidade, segurando a sua mochila com uma mão e com a outra, muito sensualmente, o lenço contra o peito.

Colocou o que faltava do biquíni preparando-se para um mergulho.
- Estou mesmo a precisar de refrescar. Vamos ao mar?- Sugeriu sorridente enquanto desatava o lenço da cabeça.
- Claro. Também preciso muito. Acho que já fervo. 
- Pois ferves - Satirizou sabendo o que provocara.

Dentro de água estivemos como se nada tivesse passado antes. Estava fantástico este mar.
Após mais de uma hora de tépido molho decidimos sair da água e voltar. Ainda havia muita areia a palmilhar até chegar ao cais.
Arrumamos mochilas e iniciamos o caminho. 
Mais leves, na volta, cada um levou a sua mochila. Seu cabelo, ainda molhado e solto, secava ondulante ao sol, por isso, sem lenço. Esse fora atado, propositadamente exposto, na alça direita da sua mochila. 
À chegada, junto ao cais, era óbvio que queríamos passar mais tempo juntos.
- Queres jantar comigo? - Não resisti a perguntar.
- Quero. - Respondeu decidida no mesmo instante.
- Descobri um restaurantezinho simpático. Tenho comido sempre lá.
- Combinado! Mas deixa-me ir ao hotel tomar banho. E prender o cabelo... - Deixou a provocação no ar.
- Claro. Também preciso. Que tal encontrarmos-mos ali na entrada do cais às sete?
- Está combinado. Até logo.

Deixou-me a imaginar se vinha de lenço. Este poder divertia-a.
Novamente, no hotel, tomei banho, vesti-me e voltei num instante. Ansioso e curioso.
Cheguei ao cais, onde tudo começara, bem antes das sete.
Enquanto esperava encostei-me ao varandim, de onde a vira pela primeira vez.
Finalmente chegou. Dez minutos após o combinado. De lenço azul, dobrado em triângulo, a condizer com a roupa. Deliciosa!
- Desculpa-me a demora. Levei algum tempo para escolher o lenço que melhor combinava. - Sabendo que esta era a irresistível justificação.
- Valeu a pena. - Seduzido respondi.
- Obrigada. - Abanando suavemente a cabeça de modo a exibir o seu lenço.

Percorremos o curto caminho até ao restaurante. 
Enquanto esperávamos pelos pratos novamente colocou-se em meio perfil a provocar.
- Gostas?
- Adoro. Sabes usar tão bem.
- É tão giro este efeito que os lenços têm sobre ti.

- Fico, como sabes, enfeitiçado.
- Que poder fui eu descobrir!

Não levou muito tempo a chegar a refeição. Pratos simples e saborosos.
No final insisti em pagar. Afinal foi meu convite e tinha sido ela a trazer o almoço da praia.
Já escuro, saímos até ao mal iluminado cais. Um vento forte, vindo do mar, dominava o litoral. Lá estava ela a passar provocadoramente a mão no cabelo, amarrado pelo lenço.
Percorremos todo o cais até ao extremo, por entre escuridão e o bater das ondas.
No limite, virada para o mar, com aquele vento e pontuais respingos a alvejar as nossas faces, abriu os braços como no filme "Titanic".
Levemente, pousei as mãos sobre as suas ancas e encostei o meu peito às suas costas. Abracei-a, por trás, apertando-a com os meus braços sob o seu peito encostados. Apreciamos cada um dos vários minutos até que levantou seus braços sobre a cabeça oferecendo-me livre trânsito. Desci as mãos abaixo do umbigo. Com as pontas dos dedos, como garras, divergi para os lados e intensamente subi, roçando lateralmente o peito, até às axilas. Seus braços esticavam acompanhando o meu movimento. Mais leve, segui aos ombros e, ainda mais levemente deslizei para o pescoço. Contorcia-se à procura de contacto.
Percorria o seu corpo, até aos limites mas sem nunca passar fronteiras, embora já estivesse o visto carimbado.
- Amanhã vou embora. - Sussurrou segurando a minha mão.
- Vem. - Puxando-me com força

Num passo urgente, quase de corrida, levou-me para o seu hotel.
- Espera aqui até eu chamar. - Entregando-me o cartão da porta que fechou quase na minha cara.

Esperei, esperei, esperei... Mas passaram apenas quatro minutos e continuei ansiosamente à espera. Ao fim de, aproximadamente, dez longuíssimos minutos mandou entrar. O quarto a meia-luz. Apenas um candeeiro acesso com um lenço vermelho por cima cobrindo e colorindo a pouca iluminação. Na cama deitada, apenas de cuecas vestidas, com o lenço que usara na cabeça agora dobrado em fita, esticado sobre o peito, sem nó e um prato cheio de uvas na cabeceira a fazer lembrar o momento passado. 
Sabia, perfeitamente, o efeito que aquele estudado cenário tinha sobre mim. Não era nada por acaso.
Em silêncio sentei-me a seu lado. Como se houvesse um guião coloquei-lhe uma uva na boca e outra entre os seios, encostada. Devoramos cada uma. Repeti diversas vezes. O seu corpo desfaz-se em suaves torções com o lenço em frágil equilíbrio, sobre o peito, quase em queda, a fazer-me querer ser ainda mais criativo.
Peguei em ambas as mãos e puxei para cima deixando-a mais vulnerável. Os pés juntei para que seu corpo ficasse totalmente esticado. Olhando-a nos olhos segurei a ponta do lenço que cobria o peito. Muito lentamente puxei para o lado expondo os seus tesos mamilos um a um. Seu corpo reagia contraindo-se e torcendo-se num vã tentativa de não confessar a sua excitação. Toda a provocação da praia estava a ser, como na física, uma acção-reacção. Tudo o que fizera estava a ser contido. O feitiço dos lenços virou-se contra a feiticeira.
Estrategicamente posicionei as uvas seguindo uma ordem nada ocasional.
Uma entre os seus juntos polegares dos pés, uma entre os joelhos, uma entre os lábios, uma no umbigo, uma entre os seios e, após subtil pausa de suspense, uma sob o elástico das cuequinhas.
Pela mesma ordem devorei-as demoradamente. A primeira mordendo-a após, delicadamente, beijar seus dedos, a seguinte beijando os joelhos, a seguinte levemente roçando meus lábios nos seus. Continuei mordendo uma, sobre o umbigo, e lambendo o suco que pingara para o interior.
Faltavam as duas mais arriscadas...
Dirigi-me ao peito. Antes da uva mordisquei, com os lábios, longa e levemente cada um dos expostos mamilos. Não ficaria por aqui…
Embora soubesse perfeitamente onde se encontrava a última uva procurei-a, com a língua, sob o elástico, na cintura das cuecas, passando tangente à sua intimidade. Após conquistar a última uva voltei a colocar novas, nos mesmos pontos excepto uma. Usando, muito de leve, as pontas dos dedos baixei-lhe um pouco as cuecas expondo parte seu privado jardim. A fasquia subira sem nenhum impedimento. Levantava as ancas permitindo e desejando que eu fosse mais longe. Já tinha dificuldade em conter o seu impulso, bem como eu.
Voltei colocar a última sob o elástico agora mais descido. Como antes, mordi as uvas, uma a uma, até chegar ao peito. Desta, com a língua, percorri demoradamente o seu vale até encontrar a uva. Desci o seu abdómen perseguindo a derradeira uva. Sob o elástico a minha língua passou repetidas vezes apoderando-se, finalmente, da última.
Peguei em apenas duas uvas e ambas posicionei entre o seu peito.
Uma premeditada e silenciosa pausa antecipava algo mais ambicioso. A partir das axilas desci, novamente, os dedos até à cintura. Milimetricamente fiz cair a sua última peça. Toda a anca se erguia suplicando contacto, quando finalmente exposta.
A primeira uva era, desta feita, pressionada entre os seios e a segunda exactamente sobre o seu ponto de maior intimidade. Posicionado, de gatas, sobre o seu corpo, com joelhos e mãos a afastadas, dominante, percorri com os lábios todo o perímetro do peito e logo conquistei o seu interior lenta, repetida e intensamente. No cume, apenas com os lábios, puxava suavemente seus mamilos saboreando a sua textura. Mais tempo ficava, mais provocava até que mordi demoradamente a uva.
Puxava-me a cabeça ao peito abdicando do controlo.
Parei tudo. Respirei audivelmente fundo e iniciei paciente descida por linhas tortas.
Resisti a chegar à uva. Mordiscava, alternadamente, o interior das coxas e circundava com os lábios toda a sua intimidade. Sentia a sua urgência provocada pelo desejo mas, propositadamente, demorava. Trinquei, finalmente, a última uva. Deixei, intencionalmente, pingar algumas gotas sobre a sua intimidade. Era ponto de não retorno. Limpei, com a língua, todos os seus húmidos recantos. Tremia dilatada confessando a sua excitação. Seu intenso travo e sensual aroma levavam-me para lá de longe. A incansável exploradora língua entrava e saía, acariciava e degustava, sem tréguas nem piedade. Toda a sua profundidade era percorrida alternando com saídas de escalada ao seu vértice clitoriano, estimulando, sugando, pressionando, até mais para lá do limite da sua resistência.
Derretia-se numa enxurrada de prazer e, mesmo assim, não se rendia, trancando, com as pernas, a minha cabeça e os meus lábios selados no seu íntimo, quando necessitada de uma breve pausa para recuperar. Mesmo, naquela particular posição, com dificuldades em respirar insisti. Quando se contorcia eu recuperava o espaço e repetia todo o ataque.
Tornara-se numa batalha de titãs onde ninguém queria içar a bandeira branca mas, encharcada de suor e outros fluidos, tão ofegante como esgotada, quando, por entre as cortinas, já raiava o sol nascente, puxou-me rendendo-se a um pacificador abraço. Provavelmente, já devia ter parado duas ou três insistências atrás.
Acordamos, tarde, na mesma posição. 
Era hora de ir. Despedimos-mos carinhosamente. Não trocamos contactos, nem chegamos a saber os nomes em todo este tempo enfeitiçado.

Fiquei apenas na esperança de a ver num verão próximo.



QT
















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