Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Take This Waltz

Estava farto do emprego monótono. Todo o dia o mesmo, num repetido horário de oito horas, sentado atrás de um teclado. Já tinha pensado em aplicar umas poupanças e reservar um tempo para fazer algo realmente diferente, quando soube que havia um curso de mordomo em Londres. Seria, de facto, algo bem diferente. Um impulso aventureiro fez-me inscrever.
Era um curso intenso, muito diversificado e com uma encantadora formalidade inglesa. Os dias de formação passavam num ápice. Conclui o curso bem classificado e regressei satisfeito para casa, sabendo que o teclado seria o meu destino. 
Já cumpria a habitual rotina quando li, num semanário, um anúncio a pedir um mordomo para uma casa em Cascais.
Novamente o impulso levou-me a arriscar. Não tinha experiência mas tinha uma acreditada formação, falava fluentemente diversas línguas, boa educação e larga cultura, boa postura e outros conhecimentos que aprendera com hobbies que tivera. O processo de selecção não foi longo e a concorrência parecia ao meu alcance. Quase todos aparentavam ser empregadas de mesa de restaurante, à caça do generoso salário que era prometido mas ainda por conhecer.
Depois de uma primeira entrevista, com uma senhora que aparentava vir de uma agência de recursos humanos, muito orientada para saber experiência e habilitações, veio uma segunda, com apenas a nata dos candidatos, que teriam sido seleccionados.
Era a dona da casa - Dona Constança Maria de Albuquerque – que pedia para caminhar, para dizer umas frases em inglês e francês e conversava querendo saber sobre outros conhecimentos.
Foi breve a conversa. Não pude deixar de reparar discretamente no seu sedutor lenço de seda muito bem dobrado e atado no pescoço, apresentando um perfeito acabamento. 
Voltei para a sala onde, juntamente com os outros candidatos, esperara pela entrevista. Uma biblioteca repleta de livros antigos mas meticulosamente limpa, sem cheiros nem imperfeições.
A responsável pelos recursos humanos apareceu novamente entregando um pequeno envelope a cada. Aparentemente continha um cartão presente, para compras e uma nota de agradecimento mas o meu apenas continha um cartão-de-visita onde estava escrito, nas costas: "Por favor aguarde. Obrigada"
Os outros candidatos saíram enquanto eu mantive-me discretamente sentado.
Pouco esperei. 
Indicou-me que me sentasse numa mesa, sentou-se perto e foi muito directa ao assunto.
Sr. Leonardo a posição de mordomo desta casa é sua, caso pretenda. Oferecemos residência, alimentação e este salário anual mais plafond para custos de representação - Entregando novamente um cartão-de-visita, com um número bem simpático.
- Quando tem disponibilidade para iniciar? - Perguntou confiante com a sua irrecusável proposta.
- No primeiro dia do próximo mês, senhora. Tenho ainda de documentar e passar o meu trabalho actual. - Dadas as essas condições respondi sem hesitar.
- Parece-me muito bem. Tem alguma questão?
- Para já apenas uma. Qual é o tratamento que prefere? Talvez por título académico?
- Como lhe foi recomendado na sua formação?
- Por ter tido formação em Londres o tratamento recomendado era por "Madam" mas aqui em Portugal é seguramente mais diverso.
- Que chique! - Respondeu após uma breve pausa.
- Deseja dessa forma? - Um pouco surpreso.
- Sim, porque não?
- Certamente, Madam.
- Então no próximo dia 1 inicia funções.
- Muito obrigado. Até breve.
- Obrigada.
Voltei a casa a pensar se não me iria arrepender. 
Chegado o novo mês, precisamente às oito horas do primeiro dia, apresentei-me ao serviço. Foi a empregada mais antiga que me apresentou a todo o staff, à grande mansão, aos meus aposentos, à sala de trabalho e até aos imponentes cães de guarda. Fiquei a saber que para além das tradicionais funções de mordomo como gerir o pessoal, supervisionar o serviço e refeições, garantir o aprovisionamento, receber e acolher convidados seria também dinamizador dos chás com as amigas. 
Era um selecto grupo de mulheres, todas casadas com importantes homens de negócios muito ausentes em viagens, desocupadas e com filhos fora ou já independentes. No fundo muito solitárias. A minha patroa não era excepção. Tinha a maior casa, adorava entreter e, talvez, exibir a sua riqueza. Seria por isso que ter mordomo a fazia sentir ainda mais importante.
Os primeiros meses, plenos de aprendizagem e trabalho, permitiram-me ganhar a confiança dos empregados e a minha própria. Foram estabelecidas regras métodos que permitiam gerir a grande casa de forma mais práctica e eficiente. As recepções às amigas tornaram-se mais frequentes e até faladas. 
Usava algum tempo de gabinete para aprender sobre chás e infusões, suas propriedades e efeitos, sobre scones, que dão um estilo mais inglês à mesa ou mesmo para encontrar músicas para se ouvir de fundo. Foi numa destas horas que me surgiu a ideia que Leonard Cohen seria apropriado. Mais apropriado que alguma vez imaginara.
Na seguinte recepção, com três ilustres convidadas, o programa seria o habitual: Canasta, chá e novamente Canasta. Enquanto servia os diversos tipos de chá discretamente tocava Leonard Cohen que havia seleccionado de véspera quando, subitamente, uma das convidas, ao ouvir Take This Waltz, se dirigiu a mim sem cerimónias:
- Leonardo, sabe dançar valsa?
- Quero acreditar que sim, Madam - Usando o tratamento semelhante à patroa.
- Adorava saber e poder dançar. - Iniciando uma conversa sobre esse tema entre as senhoras.

Remeti-me ao silêncio como é meu dever quando, subitamente, a mesma convidada, resolve ir mais longe.
- Constança, achas que o Leonardo poderia nos ensinar a valsa?
- Leonardo? - Redirigiu-me a pergunta.
- Se for esse o seu desejo, Madam. Apenas necessito preparar uma sala.
- A sala de jantar grande. - Ordenou sem dúvidas.
- Certamente Madam.

Chamei quatro empregados e solicitei que todas as cadeiras fossem encostadas às paredes, a mesa desviada para o canto e um leitor de CD, com comando, sobre a mesa. Em escassos minutos fui informado que estaria tudo pronto.
- Quando as senhoras assim desejarem podemos nos deslocar à outra sala.
- Obrigada Leonardo. - Levantando-se calmamente liderando as convidadas.

Levei comigo o CD de Leonard Cohen. Era o único que tinha uma valsa e estava por perto.
Coloquei "Take This Waltz" em modo de repetição e posicionei-me de frente para as senhoras. Após um breve explicação passamos à práctica. Andar no tempo da valsa, 1, 2, 3, 1, 2, 3... postura e finalmente, duas a duas, dança. Fazia correcções e pontualmente dançava com quem necessitasse, para exemplificar. No final dancei uma valsa com cada uma e repeti. Assim se passaram duas horas. Antecipadamente tinha mandado fazer limonadas que foram servidas à minha discreta indicação.
Para minha satisfação e brio era claro que tudo fora muito apreciado.
Nos dias que se seguiram as recepções foram sempre, sem excepções, concluídas com a aula de valsa. Agora mais requintadas, com verdadeira valsa de Viena, e tudo prévia e rigorosamente preparado, como era o meu hábito. No reduzido círculo de amigas aristocráticas ficaram conhecidas as aulas e até alvo de invejas.
Com a prática ao longo do tempo notavam-se claros progressos. As senhoras dominavam a técnica e já dançavam com uma leveza, como se flutuassem sobre o piso de madeira escura, envolvidas pelo charme da valsa. Só havia uma excepção.
No final de mais uma tarde de convívio, após a saída das ilustres convidadas fui discretamente chamado:
- Leonardo. Gostava de lhe colocar umas questões.
- Certamente, Madam.
- Se não se importar sentamo-nos no salão.
- Como preferir. Permite-me que o mande repor? Ainda não deverá estar pronto após a aula de valsa.
- Não é necessário. Pode ser assim como está.
- Certamente, Madam.

Entramos no salão e rapidamente aproximei duas cadeiras da mesa encostada e puxei a sua para que se sentasse. Mantive-me de pé. Com as portas fechadas e os dois sós continha-me rigorosamente concentrado para não desviar o olhar para o seu pescoço sensualmente arrumado com um pequeno lenço de seda atado na perfeição.
- Por favor sente-se. - Ordenou
- Com a sua licença, Madam. - Sentando-me à sua frente.
- Há algo que não esteja de acordo com o seu desejo, Madam? - Perguntei sem demoras.
- Não Leonardo. Pelo contrário. Está tudo muito bem. Era mesmo por esse tema que gostaria de iniciar. Faz quase um ano que serve esta casa. Sei que a sua licença, de um ano, cessa em breve. O seu serviço superou todas as expectativas e gostaria que ficasse definitivamente. Se precisar dias para pensar diga-me. 
- Não preciso. É com muita honra que agradeço e aceito a proposta, Madam.
- Excelente Leonardo. - Respondeu num tom como se algo a preocupasse.
- Falta algo, Madam?
- ...Sim. Há qualquer coisa na valsa que não está bem. - Disse pela primeira vez que a vi hesitante.
- Pretende que faça alguma alteração nas aulas, Madam?
-Não, Leonardo. Sou eu. Todas as minhas amigas já dançam lindamente e apenas eu não consigo. Notará, certamente, toda a leveza delas enquanto eu tenho de ser quase arrastada.
- Nem toda a gente tem os mesmos tempos de aprendizagem, Madam. Com tempo e práctica atingirá a perfeição.
- Então pratiquemos para descobrir o que estou a fazer mal. - Desatando o lenço do pescoço e colocando-o sobre a mesa.

Num esforço para ignorar o seu sensual gesto liguei, novamente, o som e deixei o CD das valsas mais clássicas a tocar. Colocamo-nos em posição e iniciamos a práctica personalizada.
Fazia algumas, poucas, interrupções para fazer ajustes mas o problema era claro e, numa das paragens, afastou-se oportunamente confrontando-me.
- É possível perceber onde estou a falhar?
- Sim, Madam. É apenas um detalhe. Está desconfortável. Faz com que não consiga se entregar à música e consequentemente à dança.
- Porque acha isso?
- É natural, Madam. Eu sou seu empregado e, como tal, uma patroa, da sua classe, fica constrangida ao existir contacto ocular de tão curta distância e se submeter à minha condução. Por este motivo foi mais fácil para as convidadas que, facilmente, me viram como professor.
Fez uma reflectida pausa, acompanhada pela valsa ainda a tocar, denunciando alguma preocupação.
- Perdoe-me se o fiz sentir assim. Não era minha intenção.
- De modo algum, Madam. Não há razão para se preocupar. Tenho todo o gosto e orgulho em ser empregado desta casa e sou muito bem recompensado. 
- Obrigada, Leonardo. É, como sempre, um cavalheiro. Fico mais descansada. Mas então se o meu problema é vê-lo assim perto... - Olhando para a mesa à procura do seu lenço, deixando-me muito preocupado com o desfecho.
- Certamente com a práctica... - Tentando não ficar numa situação complicada.
- Quero tentar sem ver. - Interrompendo-me e entregando o lenço.
- Como preferir, Madam. - Aceitando algo que me provocava secreta e profundamente.

Atei muito cuidadosamente o lenço á volta dos seus olhos e dirigi-a a uma cadeira para que os seus sentidos apenas se focassem na valsa enquanto eu recuperava do tão erótico e inesperado momento.
- Apenas escute e sinta.- Indiquei, em tom suave, deixando propositadamente o "Madam" de parte.

Três valsas passaram e aproximei-me em dois lentos mas audíveis passos.
- Dá-me a honra desta valsa? - Discretamente convidei.

Levantou-se cautelosamente por estar vendada e aproximou a sua mão esquerda procurando orientação, sob a escuridão da seda.
Muito leve e lentamente coloquei as costas da minha mão sob a sua mão como se desse início a um baile real.
Dirigi-a ao centro da sala, posicionei-me à sua frente, assumimos a posição de valsa e com curtos passos tentávamos entrar no compasso. Sentia-a inicialmente receosa e perdida mas o que a prendia rapidamente se sublimava. Passadas algumas músicas os passos tornaram-se largos e fluidos. O enguiço fora quebrado. Dançava com a leveza e graça de bailarina. Tudo o que tinha aprendido, durante as várias aulas aplicava, agora, sem constrangimentos. Os olhos vendados libertavam-na em vez de a restringir. A cada valsa que seguia o abraço compactava-se, a cada movimento mais se entregava e em cada momento mais disfrutava. Mais de uma hora passou. O lenço de seda, por ser escorregadio, já perdia a posição sobre seus olhos e, ao permitir que me visse, cordialmente afastou-se numa improvisada vénia. Puxou o lenço para o pescoço, agradeceu sorridente e retirou-se da sala. Percebia-se facilmente a sua satisfação.
A prática de valsa passou a ser regular após as recepções e a aula com as convidadas. D. Constança voava na dança mais e melhor que as outras, quando vendada. Adorava dançar assim, com o lenço encobrindo os olhos, e eu partilhava muito desse sensual gosto. Desligava-se completamente do universo, embalada pelas valsas, esquecendo a sua solidão camuflada pelo luxo.
Com o tempo a aula privada criou uma forma de ritual. Sempre após a saída das amigas ela voltava à sala que se mantinha preparada, dobrava meticulosamente um lenço, adquirido somente para este fim, de algodão muito suave e fino, médio, padrão simples num fundo escuro. Atava justo sobre os olhos e mantinha-se sentada enquanto a valsa aveludava o ambiente. Eu preparava-me deixando o casaco e gravata, na sala de biblioteca anexa e, em mangas de camisa, aproximava-me. 
A formalidade do arranque era sempre a mesma:
- Dá-me a honra desta dança?
- Sim, com todo o gosto.

Um lento abraço que nos prepara para a valsa dançada durante mais de uma hora sem paragens. Sem nada ver entrega-se ao tacto e audição. O abraço aproxima-nos a cada valsa que passa. Quando sente cansaço ou apenas desejo a sua mão direita prescinde da minha mão condutora. Discretamente é pousada sobre o meu peito. Seus dedos, pouco acidentalmente e muito atrevidamente, penetram entre os botões de cima da camisa, entreabertos. O escuro do lenço dá-lhe uma falsa sensação de inocência que lhe permite esticar limites, para onde o seu status proíbe mas a solidão suplica. A última valsa das prácticas, pelo meu homónimo Cohen indicava claramente que era hora de voltarmos às nossas formais posturas, sem despedidas ou qualquer intimidade. Fica sentada, ainda vendada, atenta ao fecho da porta da biblioteca para onde me retiro e reponho a indumentária. Finalmente desata o lenço dos olhos e, friamente como se nada tivesse passado, recolhe-se a seus aposentos.
Tenho sempre presente o risco profissional que corro se estes momentos escalarem para outros níveis.
Entretanto, nos encontros seguintes, suas amigas facilmente notavam os seus extraordinários progressos que, agora, exibia com orgulho.
Na recepção seguinte esse era o tema da conversa.
- Como conseguiste evoluir assim? Pareces profissional.
- Treino, minha querida.
- Assim não vale. Tens o professor em casa.
- É apenas uma questão de saberes seleccionar bem os teus RHs. - Respondeu Maria Constança segura de si.
- E como é que fizeste? Puseste um anúncio a procurar um mordomo que saiba valsa ou um dançarino que saiba ser mordomo?
- Estás muito irónica querida. A minha gestora de recursos humanos seleccionou e eu o escolhi entre os melhores.
- E parece que te fez maravilhas.
- Faz o que lhe compete.
- Mas como conseguiste ultrapassar o constrangimento de dançar com um empregado assim tão próximo? Todas percebemos que estava a ser mais complicado para ti.
- Há segredos que não se partilham, minha querida. Agora vamos lanchar. - Nada como um lanche para abreviar o tema.

Embora respondesse sempre no seu estilo seguro e dominador não era nada indiferente aos elogios. Principalmente num dia, como hoje, em que falara em vídeo chamada, com o marido, cada vez mais distante e indiferente.
Algo a afectara mais que o habitual.
Após a, já tradicional, aula de valsa e de se despedir das amigas era tempo para a práctica mas não estava seguro que hoje fosse essa a sua vontade. 
Estava mais tensa que habitual. O dia não lhe estaria a correr bem.
- Fazemos a práctica, Madam?
- Claro que fazemos. - Respondeu imediactamente.
- Certamente, Madam.

Como sempre seguimos para a sala mas algo a inquietava. Embora mantivesse a postura seus húmidos olhos confessavam uma solitária tristeza. Sentou-se numa cadeira, junto à mesa, onde estava pousado o lenço ainda arrumado sobre a mesa. Quebrando o protocolo fez um inesperado pedido:
- Prepare-me, por favor.
- Certamente, Madam. – Percebendo o sensual risco.

Iniciei a música e, mantendo a postura, abri o lenço sobre a mesa, dobrei-o meticulosamente em fita, sem deixar nenhum vinco ou imperfeição e, com todo o cuidado, aproximei dos seus olhos. Era uma luta interior entre a postura profissional e a provocação a que estava sujeito.
- Com a sua licença. - Sussurrei.

Inclinou a cabeça para trás num submisso gesto, como se estivesse a suplicar para a vendar e abrir o portal que liga o mundo real à fantasia.
Com precisão relojoeiro cobri os seus olhos com o lenço e ajustei o nó com segurança.
Quase de imediacto percebia-se, pela sua linguagem corporal, que se libertava da tensão.
Deixei o casaco e gravata no encosto de outra cadeira.
- Dá-me a honra? - Recebendo a sua mão na minha.

O escuro a que se rendeu quando o lenço cobriu seus olhos pacificou-a quase por completo. Envolta no meu abraço e embalada pela valsa dançava maravilhosamente pela sala. 
Inocentada por não ver, a sua mão, mais cedo que o costume, discretamente deslizou para o meu peito procurando a zona desabotoada. Fazia como se fosse acidental mas procurava o meu calor com toda a intensão. Do abdominal ao peitoral percorria toda a minha anatomia acima da cintura. Precisava desesperadamente de sentir.
Inesperadamente parou e deu um cuidadoso passo atrás e virou-se de costas para mim. Queria fazer algo discreto mas o lenço não lhe permitira ver que um espelho estava na sua frente. Sem que imaginasse via todos os movimentos e toda a sensualidade que pretendia esconder. Hesitantemente, botão após botão, abriu a blusa, quase até ao umbigo, expondo o contorno interior do seu peito livre e os ombros, desconhecendo o meu olhar. Era premeditado! Nada usava debaixo da blusa. 
Esticou o braço esquerdo para que a conduzisse assim como estava, de costas para mim. 
Levemente encostei o meu peito nas suas costas, deslizei lentamente a minha mão, sobre a sua suave pele, do cotovelo até à sua mão e fechei, com o meu outro braço a pousar seguramente sobre seu umbigo. Pousou a sua mão direita sobre a minha entrelaçando os dedos.
Dançamos várias valsas nesta coreográfica posição. Não se ficou por aí. A cada valsa guiava subtilmente, a minha mão, para o interior da blusa, até que a deixou encostada à curva inferior do peito. 
Era óbvio que parar por ali não fazia parte das opções e assim disponível e tão eroticamente vendada, fragilizava a minha postura e resistência.
As pontas dos meus dedos ganharam vida e exploravam o perímetro do seu peito enquanto se retorcia incentivando para que fossem ainda mais atrevidos. Os três tempos da valsa perdiam-se sobrando, apenas, um pendular movimento, sem deslocamentos. O compasso era, agora, outro. A mão, forte e segura, pressionava calorosamente o peito alternando com superficiais carícias nos mamilos. 
Parecia não ter fim a exorcização da sua camuflada solidão. Procurava o prazer contorcendo-se despida de preconceitos.
Eu tinha aceite e possuído tudo o que me oferecera. Sentia a sua intensa respiração. Não era claro de revelava cansaço ou excitação.
Fiz uma pausa momentânea e, subitamente, rodei-a pirueta e meia, num firme movimento de passo doble, ficando encostada pela frente envolvida num firme e dominante abraço. Não quis ficar por aí e demonstrou-o empurrando-me com vigor. Recuei diversos passos caindo, ruidosamente, sobre uma cadeira, sentado. 
Propositadamente mantive-me em total silêncio escondido sob as valsas que ainda soavam. Neste momento de desorientação, perdeu a noção de onde eu estaria sentado. Tinha de me encontrar mas nunca desataria o lenço dos olhos e, muito menos, chamaria por mim. Andou minutos perdida à procura. Estava com uma postura que irradiava erotismo: vendada, de blusa aberta, avidamente à procura e plena de desejo.
Finalmente tocou num dos meus joelhos. Mordendo os lábios, de frente para mim, em pé e colocando uma perna de cada lado dos meus joelhos juntos agarrou na minha cabeça, num movimento único encostou ao seu peito a reclamar seu merecido prémio.
Abri os lábios, tanto quanto podia, e envolvi o seu peito aquecendo toda aquela zona. Era a húmida língua que acariciava o mamilho esquerdo enquanto a mão aconchegava o direito até chegar sua vez. 
Languidamente dirigi a boca ao outro peito, arrastando os lábios pelo caminho. Degustava-o como se fosse o último do mundo. O aperto que fazia na minha cabeça quando me puxava para si até me dificultava a respiração enquanto todo o seu corpo se roça no meu numa suada, longa, e intensa envolvência. Um após outro devorava-os intensa e repetidamente. O seu retorcido corpo faz com que a blusa descaia até à cintura, oferecendo-me maior campo de acção, que a língua e mãos conquistam ávida e lentamente. Inclinada para trás, de braços levantados e mãos atrás da nuca rende-se expondo-se ao meu desejo. Não fica nada por conquistar e degustar.  
Pouco a pouco o ritmo baixa acusando cansaço. Ao atingir o ponto em que a razão volta a assumir o controlo pausamos e levantamo-nos, peguei na minha roupa e retirei-me para a biblioteca para me recompor, sem nada dizer.
Ao sair encontro-a à porta também composta agindo como se nada tivesse passado. 
- Posso ajudar, Madam?
- Pode. Trazia-me um refresco?
- Certamente, Madam. Posso sugerir uma limonada com pouco açúcar? Parece-me adequado.
- Obrigada. Perfeitamente adequado. - Esboçando um subtil sorriso.

Ao contrário do que podia ser esperado nada se alterou depois deste descontrolo. As recepções continuaram e a aula de valsa, com as amigas, no final, também. A prática que se seguia, mano a mano, acontecia sempre que a solidão a perturbava ou quando seu líbido pedia com apenas um detalhe implicitamente adicionado ao protocolo. O lenço que ficava sobre a mesa, para a vendar, não estava preparado. Dobrado e passado indicava que, nesses dias, seria eu a prepara-la a seu pedido, passando a fronteira logo ao início. Sobrava o reprimido desejo de ir mais longe.


QT

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