Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Espinhos e Veludo


Uma radiante luz entrava pela janela da cozinha e a matinal brisa fresca fazia-se sentir lá fora. O dia estaria perfeito para passear não fosse Rosa ter acordado mal.
Há quem tenha mau acordar e há a Rosa. Rosa que eventualmente acorda com todos os espinhos de fora, com uma raiva embutida como se estivesse contra tudo e todos. Nestas alturas de bloqueio nada há a fazer. Não se consegue conversar, tentar apelar ao bom senso ou, muito menos, negociar. Embora lhe seja incontrolável, depois de passar, tem consciência dos estragos que fez. Por trás deste escudo está uma mulher doce, requintada, inteligente, séria, cumpridora e bem-disposta. 
Da última vez a fúria atingiu um nível que pode colocar em risco tudo o que nos une. No dia seguinte, como é costume, falamos do que aconteceu, das vezes que repetiu "quem esta mal muda-se", dos silêncios, das respostas em forma de pergunta e das agressões verbais.
Mesmo assim abracei-a fortemente que é a única forma que encontro de lidar com esta situação. Consolo, acaricio, beijo e evito demonstrar desgaste ou vingança pelo descontrolo da véspera, que sei ser mais forte que a sua vontade. 
Escorreu-lhe um infindável caudal de lágrimas por não se conseguir controlar e pelo que causa. 
- Faz qualquer coisa. - Suplicou como pedido de socorro. 
- Já nem sei que fazer. De dia para dia tudo se agrava tornando evidente a única solução. E tu sabes qual é, não sabes?
- Sei. É desistires de mim. - Respondeu sem medo de usar as palavras certas.

Em silêncio concordei ficando especado apenas a olhar.
- Não desistas. Não desistas de mim. Faz o que quiseres para me ajudar.
- Não desisto facilmente. - Abraçando-a forte e ternamente.

Permanecemos imoveis, durante longos minutos, tentando acreditar que tudo ficará bem.
- Vou propor-te algo pouco ortodoxo - Subitamente sugeri.

Arregalou os olhos expectante.
- O que quiseres. - Numa mescla de desespero e esperança.
- Nos dias em que tudo fazes para me afastar eu vou fazer tudo, mesmo tudo, para ficar perto.
- E se não conseguires? 
- Vou ter de te amarrar com lenços.

Ficou sem perceber se estava a brincar ou se estaria a falar a sério.

- Para que isso aconteça terás de concordar. E mais: como sei que nunca faltas à tua palavra, quero que me prometas que, nessas alturas, em que é preciso, me vais permitir que o faça. Quero que o digas agora olhos nos olhos. - Reforcei a intenção para não deixar dúvidas.

- Eu prometo que sempre que for preciso me podes fazer isso dos lenços. - Comprometeu-se, sem hesitar um momento, embora sem conseguir pronunciar a forte palavra “amarrar”.

Abracei-a novamente num longo e íntimo abraço.

Este acordo, selado semanas atrás, não ficara esquecido embora não tenha sido mais mencionado.
Neste tão belo dia, era natural ter a esperança que o tempo a contagiasse com alguma boa disposição.
- Já viste como está perfeito este dia? Apetece-te ir passear?
- Achas? - Respondendo com a corrosiva pergunta.
- Acho. Por isso perguntei. - Pacientemente justifiquei.
- Temos mais que fazer. 
- Então o que temos? - Num tom cuidadosamente suave
- Compras.
- É verdade. Mas é possível deixar o supermercado para mais tarde. 
- E depois ficamos sem nada.

Lá vinha o exagero que corta a conversa. Não vale a pena argumentar.

- Seja o supermercado. Quando saímos? - Desistindo de melhores ideias.
- Quando estiver pronta.
- E falta muito?
- Falta o que for preciso.

Como sempre, nestas fases, sou brindado com respostas subjectivas.
Após longa espera lá conseguimos sair.
Realizada a curta viagem de carro, num sepulcral silêncio, chegamos ao destino.
Mais de uma hora a colocar compras no carrinho com o mínimo de comunicação. Mesmo tentando estabelecer contacto foi impossível receber melhor que um sim ou não.
Enquanto passava todas, as muitas, compras para a esteira da caixa uma suave voz feminina perguntou:
- Importa-se que passe? Só levo uma caixa de ovos. Espero que não incomode.
- Faça favor. Não incomoda nada. - Gentilmente autorizei sem reparar em quem.

O olhar de Rosa não deixava qualquer espaço para dúvidas. Só faltava ter os olhos raiados de ódio.
Virando-me discretamente apercebo-me que a mulher, que eu deixara passar e que se apressava em pagar, apresentava formas muito vistosas e demasiado curvilíneas para a curta blusa que usava. 
Segui com a colocação das compras na esteira.
Paga a factura e colocadas as compras no carro era fácil prever que vinha aí tempestade.
Seguimos para casa novamente em silêncio até metade do caminho. Todo este tempo afastou o olhar de mim desviando-o para a sua janela.
- Achas que estiveste bem? - Não conseguiu conter a pergunta.
- Bem como? - Retorqui para que tudo expurgasse, sabendo perfeitamente do que falava.
- Não te faças desentendido. A fulana para quem foste muito simpático. – Disparou.
- Apenas fui cordial. Só a vi porque me apercebi, pela tua expressão, que ficaste contrariada. Não fez mal nenhum nem nos atrasou. Certamente faria de novo a qualquer pessoa. Homem ou mulher.
Pelo menos alguém foi gentil comigo hoje. – Satirizei.
- Deves pensar que tens graça.

Não respondi mais até chegar a casa, logo de seguida.
Guardamos as compras mas ainda era cedo.
Fiz calmamente o almoço, arrumei a mesa e fui chama-la. Tarefa arriscada mas que tinha de ser feita.
- Vamos almoçar? - Convidei tentando ter o mais suave tom de voz para não despoletar nada mais. 
- Não sei se tenho fome. - Responde novamente amarga.
- Eu vou começar para não arrefecer.
- Faz como quiseres.

Estava mais fria e agressiva do que era normal. Era cada vez mais difícil mas paciência...

Prestes a terminar o almoço quando Rosa finalmente aparece e serve-se. 
- Queres que te faça companhia? Apetece-te conversar? - Como se não soubesse...
- Deixa-me sossegada.- Novamente descartando-me.

Afastei-me calmamente mas com ideias arriscadas. 
Desloquei-me ao quarto e escolhi alguns lenços da gaveta. Dois muito grandes e semitransparentes, que nunca a vira usar. Ambos dobrei em triângulo e seguidamente em fita estreita. Um médio, todo preto seguramente herdado de alguma sua familiar viúva, que também não usava. E dois, mais prácticos, pequenos, de algodão. Deixei estes, três últimos, dobrados, sem os abrir. Coloquei-os todos sobre a minha mesa-de-cabeceira após retirar a garrafa da água, o candeeiro e um livro deixando apenas o radiodespertador com CD.
Os lenços arrumados ocupavam visível e propositadamente todo o espaço libertado.
Desloquei-me para a sala e pouco esperei para que finalizasse o seu almoço. Não era difícil prever que, comigo sentado na sala, voltasse ao quarto.
Aguardei que lavasse os dentes e se acomodasse. 
Voltei para o quarto. Lá estava de livro na mão, encostada à almofada na cabeceira. Sentei-me suavemente a seu lado. 
Deixei-a ler durante algum tempo. Pontualmente contemplava-a mas era clara a sua vontade de me manter afastado.
Num momento de pausa baixou livro e reparou que eu tinha um dos lenços grandes na mão olhando-a sorridente.
- O que foi? Para que é esse lenço? E aqueles que desarrumaste da gaveta?
- Lembras-te do nosso acordo?

Teve um momento de silêncio relembrando-se e implicitamente aceitando sem o reconhecer formalmente.
Com uma mínima resistência deixou que a colocasse em posição sentada, sobre o lado da cama.
Calmamente passava o lenço, entre os dedos denunciando a minha perversa intensão. Por trás, com ambas as minhas mãos, suavemente puxei as suas para as suas costas. Por um momento resistiu torcendo-se e gemendo contrariada mas logo cedeu ao compromisso.
Passei o lenço em voltas cruzadas, na forma de oito, firmemente ajustando a cada contorno. Finalmente enrolei as pontas entre os pulsos, em sentidos opostos, mantendo a firmeza e selando com dois fortes nós. Peguei no outro lenço grande e ajoelhei-me aos seus pés preparando-me para os atar igualmente.
- É preciso tudo isso? - Contestou impaciente.
- É. - Sucintamente respondi enquanto atava os seus tornozelos.

Sentei-me a seu lado e coloquei, num suave abraço, a minha mão sobre seu ombro, indicando que minha intenção era pacífica. Virando-se para o lado oposto abanou-se demonstrando que não quer nenhuma aproximação. Mas desta vez não pode sair. Sente-o claramente e pressente que eu não vou facilitar.
Pego no lenço preto. Calmamente abro-o sobre a cama e dobro em triângulo.
Quero propositadamente provocar para que sinta que desta tenho todo o controlo sem lhe dar escolha.
Aproximo o lenço. Como reflexo - mais pela minha proximidade que pelo lenço - desvia-se para o lado sem conseguir se afastar, por estar limitada nos movimentos.
Tento atar o lenço na sua cabeça mas resiste abanando-se sem conseguir fazer-me desistir.
- Para com isso. Que jogo é esse? - Reclama veementemente.
- É porque quero. E agora é tudo da minha maneira. - Demonstrando o meu domínio enquanto apertava o nó abaixo do seu queixo.
- Não quero isto na cabeça. - Abanando-se para o soltar sem ter nenhum sucesso.

Conseguia ver-se no espelho sobre a cómoda. Não gostava nada de se ver assim.
- Não gosto. Tira-me já isto. Pareço uma velha - Abanando a sua cabeça ainda mais energicamente.
- Uma rabugenta e teimosa velha. – Satirizei.
- Tira-me. - Novamente ordenou irritada.

Mesmo assim gosto demasiado de a ver de lenço e este domínio contém um irresistível erotismo e está a dificultar a minha concentração para seguir o plano.
Deixei-a contorcer durante largos minutos embora insistentemente repetisse a ordem tirar o lenço da cabeça e para a soltar.
- Tiro da cabeça mas mudo-o de posição. E soltar-te só quando eu entender. Foi o combinado.
- Desde que tires essa coisa da minha cabeça. 
- Ok. - Com um perverso sorriso concordei

Propositadamente devagar desatei o duplo nó do lenço sob o seu queixo.
Com os lábios pressionados um contra o outro formando um biquinho e a cabeça ligeiramente inclinada para o lado era clara a demonstrar a sua ira enquanto lhe removia o sensual acessório.
Coloquei o lenço sobre a cama, endireitei a dobra em triângulo e dobrei-o numa fita larga. Sentado a seu lado, com o lenço na mão e Rosa sempre virada para o lado oposto, estava ciente que arriscava passar o ponto de não retorno.
Rapidamente atei o lenço sobre os seus olhos.
- O que estas a fazer? Já chega. Solta-me imediactamente. - Furiosa ordenou
- Eu disse que mudava o lenço como pediste. - Respondi suavemente.
- Mas eu estou farta desta brincadeira.
- Não é brincadeira. Acredita que é sério. E foi o acordado por ambos como tu sabes. Se quiseres que te solte agora tens duas opções: dizes-me que não gostas nada de mim e que queres que me vá embora para sempre. Hoje saio de casa sem olhar para trás. Ou dizes-me que gostas muito de mim e que queres ficar para sempre comigo. Vou acertar o nosso rádio despertador para daqui a um minuto tocar um CD. É todo o tempo que tens para pensar e responder.

Contorcendo-se impedida de ver ou mexer, tentando soltar dos lenços e sem vontade de assumir uma resposta ou com vontade de me dar ambas, deixa previsivelmente passar o tempo em silêncio enquanto preparo os dois lenços que sobram, sem que se aperceba do que estou a fazer. Um dobro em fita e o outro diversas vezes dobrado num bem compacto e volumoso quadrado.
O CD dispara com “The Final Frontier” de Iron Maiden. Heavy metal, que detesta. Era a última coisa que esperava, protestando de imediacto.
- Que é isto? Para já com iss... MMMMM... - Gemendo surpresa ao sentir o lenço compacto a ser prontamente empurrado para o interior da sua boca cativando-a num forçado silêncio que agora queria quebrar.

Ato, firmemente, o lenço dobrado em fita, que sobra, por entre os seus lábios, impedindo qualquer tentativa de se livrar do lenço que lhe preenchia a boca. Obrigo a que se deite na cama.
Fica totalmente nas minhas mãos deitada de barriga para baixo, pés e mãos eficazmente amarrados, vendada e amordaçada, sem qualquer saída. Por mais que lute e gema nada folga. Sabe que está dependente da minha vontade embora não se entregue. Ainda...
Não consigo deixar de me deliciar ao ver Rosa assim: tão dominada com os lenços e tão reactiva.
Deito-me sobre as suas costas mas, imediactamente, percebo que me esquecera de um detalhe. Com seus dedos conseguiu beliscar-me dolorosamente a barriga. Aquelas unhas, qual garras, ainda lhe permitem uma réstia de resistência. Não posso deixar nada ao acaso. 
Coloco a almofada sobre as suas mãos e volto a deitar-me sobre as suas costas, escudado pela espuma. Agora o meu corpo ainda mais a restringe e sente a minha presença mais intensamente. Sem a menor hipótese continua, incansável, a tentar soltar e protestar. 
Apoio as minhas mãos sobre os ombros, encostadas ao pescoço, pressionando-a contra o colchão e transmitindo o meu peso. Sob esta forma dominante estava camuflada a intenção de aliviar a tensão que acarreta. 
Afasto ligeiramente as mãos e pressiono, diversas vezes, até ao exterior dos ombros, sigo pelas omoplatas, costelas e ancas. Percorro seu tronco no sentido oposto e repito insistentemente. Sempre lenta e com todo o meu peso. Protesta energicamente gemendo e esperneando a cada pressão. Não desiste, não aceita, não cede...
Viro-a de frente para mim rodando-a sobre a cama. Desaperto um botão da blusa. Tenta contestar num imperceptível e abafado som que a mordaça proíbe e Iron Maiden perturba. Espero que pare e desaperto o seguinte. Um a um desaperto-os, igualmente protestados. Novamente pauso. Desaperto o botão das suas calças em seguida. Por mais que tente resistir nada se altera. Rodo-a para a sua posição inicial, de barriga para baixo e a partir da cintura, por dentro da blusa, com atenção aos seus beliscadores dedos, procuro as molas do seu soutien e solto-as mas sem a esperada forte resistência. Apercebeu-se que não tem escapatória e que não vale a pena se cansar ainda mais, numa inglória resistência.
Desço aos seus gémeos e insisto nos amassamentos com pesadas mãos a percorrer suas pernas até às nádegas. Sigo a pressionante subida até voltar aos tensos ombros. Ainda o sinto sob os dedos mas, subtilmente e aos poucos, rende-se e descontrai, confessando-o finalmente num arrastado suspiro. 
Sem saber ser resultou ou vai resultar recompenso a sua pacificação.
Troco o CD e, no mesmo instante, soa o Canon de Pachelbel. Foi a resposta, positiva e imediata, à sua mudança.
Com a mão esquerda pressiono ambas as pernas, firmemente, sobre os seus gémeos e com a direita desato cuidadosamente o lenço que lhe prende os pés. Largo prontamente, como se estivesse a devolver um animal selvagem ao seu habitat. Deixou-se ficar sem retaliação. Subo com as mãos pressionantes sobre suas pernas até á cintura. Levemente e passo a passo dispo as suas calças sem obter resistência. Coloco a mão direita sobre os seus pulsos segurando-os também firmemente enquanto desato o lenço que os prende. Afasto as suas mãos para o lado das ancas abrindo caminho para a acção seguinte. Aguardo um momento contemplando-a na doce ausência de resistência. Permanece pacífica e expectante.
Coloco, mais uma vez, as mãos sobre os seus ombros e lentamente baixo a sua blusa, a partir do colarinho, até a retirar por completo. Arrasto as mãos até á nuca e desato o primeiro nó do lenço que a amordaça e, embora desconfortável, não demostra pressa para se livrar. Desato o segundo nó deixando cair as pontas do lenço para o lado.
Viro-a para mim e suavemente puxo o ensopado lenço que ainda estava entre os seus dentes e que abafava todo o som. Antes que pudesse dizer alguma coisa encosto levemente os meus lábios aos seus. Sinto a sua mão carinhosamente na minha nuca puxando-me para que prolongasse o beijo selador das tréguas. Com ambas as mãos docemente afasto o lenço dos seus olhos, pela testa, até cair. 
- Podemos equilibrar o jogo? - Discretamente referindo a minha roupa num risonho tom, que, afinal, não estava extinto.

Calado implicitamente consenti, colocando as suas mãos nos botões da minha camisa. De seguida, quase com pressa, desapertou, um a um, todos os botões, sem parar nas calças. 
- Agora é a minha jogada. - Retirando-lhe cuidadosamente o seu soutien, já solto.
- Já jogaste e eu volto a jogar. - Quase arrancado os meus boxers com a vontade de os tirar.
- Falta a minha última jogada. - Despindo-a das suas cuecas, provocativamente devagar

Enroscamo-nos num profundo e longo abraço.
- Até gosto de ti. - Sussurrando, muito baixinho, em resposta à pergunta inicial, no seu delicioso e subtil humor.
- E se voltar a acontecer? - Arrisquei perguntar.
- Fazes o que for preciso. - Dando-me carta-branca para repetir.

O contacto entre os nossos corpos e o crescente desejo apontava num único sentido. Lentamente voltava a explorar, desta com os lábios, todos os seus recantos. O percurso repetia-se mas, agora, o toque era leve e sedutor. A sua ansiedade mudou completamente e agora agarra-me como se suplicasse pela minha proximidade. É recíproco e inevitável a entrega ao prazer.
Passado o longo e intenso momento recuperamos a nossa energia pacificamente deitados e, principalmente, esperançados.

Passam algumas semanas e ambos sabemos que os espinhos podem voltar a qualquer momento. Quando esse dia chegou ficou uma sensação de desilusão. Sabia que aconteceria mas depois do risco corrido e da pontual mudança na sua atitude não era descabido ter uma ténue esperança. 
Voltara do trabalho, com cara de poucos amigos, num dia em que o acordar já fora complicado. Algo correra mal e previa-se outra batalha.
- Tudo bem? - Directamente perguntei à sua chegada.
- Achas? - Naquela forma de resposta, em questão impossível de responder.

Retirei-me para o quarto, sem disfarçar, onde fiz os preparativos da mesma forma que no passado, enquanto lhe dava uns minutos de descanso, embora não pretendesse permitir que o amuo se prolongasse e se tornasse tóxico.
Desloco-me para a sala. Ao ver-me com o lenço maior, levanta-se de imediacto reagindo à ameaça. Logo parou. Em silêncio, olhos nos olhos, sabia que o acordo se mantinha e que deveria voltar a se submeter.
Estava a ser mais difícil que esperava. Nem o erotismo de a dominar com os lenços me ajudava a esconder a lágrima que ameaçava escorrer de um dos olhos.
Sem hesitar coloquei-me por trás e puxei firmemente as suas mãos para trás das suas costas e, mantendo a firmeza, amarrei os seus pulsos com o lenço. Do bolso tirei o lenço preto escondido. Fiz a fita larga.
- Esse não é preciso. É demais. - Desviando a cara para o lado tentando, sem sucesso, resistir a ser vendada.

Firmemente atado sobre os olhos, apesar da resistência, o lenço deixa Rosa nas minhas mãos. Agarro-a pelo braço e encaminho-a para o quarto, apesar de tentar afastar-me. Não perco tempo e prontamente a sento na cama, ato os pés com outro lenço e cuidadosamente descalço as suas sabrinas.
- Não quero. Pára.- Ordenou percebendo que o caminho é idêntico ao passado.
-Tu sabes quando paro. 
- Estou farta das tuas ideias de mer... mmm... - Tentou reclamar numa linguagem menos apropriada para uma senhora, prontamente controlada com um lenço enfiado, à força, na sua boca.

Um segundo lenço é atado sobre esse silenciando definitivamente a agressividade do vocabulário.
Agarro-a firmemente pelos braços e deito-a na cama. Como era previsível ligo o CD e deixo os Iron Maiden fazer o seu trabalho. Como no passado tenta resistir esperneando sem nada conseguir. Também igualmente me deito sobre as suas costas limitando mais ainda os seus movimentos, catalisando a sua ira. 
Mesmo assim, desta vez, não tentou me beliscar e em menos tempo acalmou. Sabia não ter outra saída. Sentia a raiva contida pelo suave tecido que a pacificamente encarcerava. Esmaguei novamente a sua tensão, pressionando todos os músculos do seu corpo até que o mal se dissipou.
Perante a sua rendição troquei o CD no mesmo momento. Leãozinho, de Caetano Veloso, completou o cenário.
Repetindo o método já usado segurei os seus pés e cuidadosamente soltei-os. As mãos também igualmente libertadas.
Desato os lenços que a impedem de falar, rodo-a e encosto os meus lábios aos seus num previsível “dejá vu”. Peça a peça dispo-a muito lentamente.
Propositadamente demoro-me, aproveitando para a observar neste perverso modo, tão sensualmente vendada, libertando o seu desejo enquanto percorro todo o seu corpo com os dedos, exorcizando a sua raiva, até que implore que a possua.
Prescindo de toda a minha roupa e desato o último lenço que a deixara no escuro.
Abraça-me poderosamente indicando que me quer em si. Avidamente responde entregando todo o meu desejo acumulado até agora. 
Perdemo-nos, sem restrições, na profundeza dos nossos corpos.

Estava encontrada a chave que resolve um problema que parecera insolúvel.
A frequência dos seus estados agressivos caíra a pique e por cada vez que é aplicado o nosso acordo a sua resistência é mais ténue, rendendo-se em menos tempo. Até que, num dia de muito mau tempo, em que tudo lhe correra mal, chega a casa esgotada e impaciente.
- Como teu correu o dia? Precisas que faça alguma coisa? - Gentilmente perguntei ao me aperceber do seu estado.
- Não preciso de nada. - Respondeu brusca e friamente sem sequer o olhar para mim seguindo para o quarto.

Acreditava, ao fim de todo este tempo, que o seu estado agressivo já estaria controlado, embora temesse uma recaída a qualquer momento. 

Voltou do quarto com um sereno sorriso e o lenço preto na mão.


QT

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