Quadrado Textil

Quadrado Textil
Lenço (latin linteum, -i, pano de linho) s.m. Peça de roupa, que consiste num pedaço de tecido, quadrado, com que se abriga o pescoço ou a cabeça.

terça-feira, 29 de junho de 2021

Uma visita cordial

 


Já os tinha mencionado no passado. Seus amigos de longa data: um casal experiente, culto, que vivera as emoções dos anos 70 na sua plenitude. Um casal sem preconceitos mas, sobretudo, um casal simpático. 

- Falei de ti à minha amiga Aurora. - Confessou-me Maria sorridente.

- A que propósito? - Curioso por ter sido efemeramente o foco da atenção.

- Surgiu o tema no meio de conversa e pareceu-me apropriado. - Fiz mal?

- Claro que não. Tens sempre carta branca comigo. Mas que tema? - Inquiri desconfiado.

- Nada de especial. Gostava de lá ir passar um bocadinho com eles e levar-te comigo. - Aparentando não querer contar tudo.

- Comigo?!

- Sim contigo. Vês mais alguém aqui? Pode ser interessante.

- Está bem... - Hesitante aceitei.

- Vais gostar deles. São um casal muito interessante. - Assegurou Maria.

- Certamente que sim. Mas porque tiveste essa ideia? - Tentando descobrir mais.

- Na conversa lembrei-me. Porque? Não te apetece?

- Conversa de quê? - Tentando novamente levantar a ponta do véu.

- Conversa de mulheres. Não sejas cusco. Então? Vens?

- Foi inesperado. Não sabia... 

- Estou a ver que tenho de usar um lenço para ires comigo. - Provocou deliberadamente.

- Tenho todo o gosto em ir contigo. Vais mesmo usar? - Disparei no mesmo instante.

- Logo de vê. Pode ser amanhã?

- Pode. Se eu não soubesse ficava a pensar que já estava combinado.

- Há muitas coisas que não sabes... - Afirmou misteriosa.

- Se tu o dizes...

- Fica combinado eu vou buscar-te à tarde.

- Está bem 

No dia seguinte aguardei que Maria me viesse buscar. Usava um sensualíssimo lenço no pescoço atado de lado, como as assistentes de bordo frequentemente usam. Não era comum nela usar assim. Parecia deliberadamente provocador. Sabia muito bem como me deixa quando usa os seus lenços e quando me faz perceber que a intenção é mesmo subtilmente provocar.

É deliciosamente perversa e seduz-me infalivelmente com muita classe.

A viagem foi curta mas não consegui deixar de espreitar o seu sensual pescoço.

- Para onde olhas? - Inquiriu tentando um ar sério.

- Nada de especial. - Tentando escapar.

- Eu sei muito bem para onde olhas. Não resistes a ver-me de lenço.

- Sabes que não. - Confessei muito baixinho.

- Estamos a chegar. É neste prédio - Avisou ao estacionar.

Um prédio antigo, com elevador de grades que usamos para subir ao terceiro andar.

Um suave arrepio de ansiedade rapidamente percorre meu corpo ao sair do elevador. Dirigimos-mos a uma porta já aberta.

- Olá Aurora. Este é o meu amigo Mário. - Apresentando-nos de imediacto.

- É um prazer Mário, bem vindo. Entrem.

- O prazer é meu - Cumprimentei algo trémulo e surpreso. 

Não queria dizer "prazer" quando uma mulher está de sensual lenço mas, repentinamente, nada mais me surgia. Não queria ficar sem palavras e dar uma má impressão. 

Aurora usava um inesperado de lenço colorido na cabeça atado de forma clássica sob o queixo. Transbordava sensualidade mesmo já não sendo jovem. Havia, aqui, qualquer coisa que certamente não seria obra do acaso.

Oferecia um suave sorriso e uma agradável presença. E aquele lenço prendia meu olhar, que tentava manter discreto para não denunciar o meu segredo que desconfiava estar mal guardado.

Era um cenário muito suspeito, agravado pelo perverso sorriso que Maria trazia estampado no rosto.

Dirigimos-mos à sala onde Luis, que estava sentado no sofá, se levantou para me cumprimentar.

- Boa tarde. Sou o Luis. Sente-se. Fique à vontade.

- Muito gosto. Mário. Muito obrigado. 

Sentado cada pausa parecia-me uma eternidade. Sentia seis olhos apontados a mim, sem saber se era sugestão pela situação ou facto.

Uma sala com decoração clássica, com alguns moveis antigos. De um lado uma mesa com quatro cadeiras e do outro dois sofás colocados perpendiculares e uma mesinha de centro com  revistas no topo.

Maria e Aurora sentadas nas extremidades mais próximas dos sofás e, tanto eu como o Luis, sentados nas extremidades mais distantes, respectivamente.

Tentava controlar o incontrolável: a colocação das mãos, a posição do corpo, as pernas, a respiração. Tudo de tal forma que aparentava ser um manequim de loja. 

Pontualmente Aurora puxava as pontas do lenço da cabeça e Maria também o fazia ao seu no pescoço.

Algo se passava e não podia evitar. Ao fim de pouco tempo, de conversa mais circunstancial para quebrar o gelo, Maria comenta sem hesitar:

- Estás muito elegante de lenço assim na cabeça, Aurora.

- Obrigada. Também gosto muito do teu no pescoço.

- Foi uma grande coincidência as duas de lenço.

- Foi, não foi? - Soando a ironia.

Sentia-me vigiado pelo canto do olho de Luis. Era muito intimidante sentir o erotismo destas duas mulheres contrastando com a séria presença de um homem. Obviamente que aquela conversa se tornara demasiado suspeita para ser inocente. Maria ficava cada vez mais sensual, quanto mais me custava manter o controlo e postura.

- Acho que está um pouco quente para ficar de lenço na cabeça dentro de casa. - Comentou Aurora, desatando o lenço e retirando-o da cabeça.

- É verdade. Ficava-te bem. Eu deixo o meu mais um bocadinho. Está confortável. O que achas? - Virando-se súbita e propositadamente para mim.

- Eu... Sim... Acho... - Sem conseguir expressar qualquer comentário racional.

- O Mário é pessoa de poucas palavras ou apenas tímido? - Perguntou Aurora enquanto, sobre o colo, dobrava em fita o seu lenço da cabeça.

- Não... Ou seja... Estava apenas a ouvir. - Continuando sem nexo algum.

- Posso ver como ficou? - Pedia Maria enquanto pegava no Lenço de Aurora.

- Claro, minha querida. Como se fosse teu.

- Mário ainda não foste bem apresentado. - Afirmou Maria segurando a minha mão com a sua esquerda e o lenço com a sua mão direita.

- Como?! - Questionando confuso, perdido, excitado...

Maria levanta-se do sofá fazendo com que me levantasse também. Luis, no seu observador silêncio, afastou discretamente a mesa de centro onde Maria me posicionou. Aurora olhava com intensidade para os acontecimentos.

- Relaxa. Estás entre amigos. - Assegurou Maria.

Nada me deixa mais ansioso que me dizerem para relaxar. Principalmente nesta invulgar e perversa situação.

O sorriso da Maria denuncia-a. O lenço nas mãos que está a ser esticado, em forma de fita, aproxima-se perigosamente dos meus olhos. Lentamente venda-me com firmeza. Os meus reflexos bloqueados, o meu corpo congelado e os meus lábios selados pelo choque de estar a ser tão eroticamente vendado à frente de quase estranhos deixa-me sem reação.

- Pronto não custou nada. - Docemente sussurrou Maria.

Colocou-se atras das minhas contas e, sobre os ombros, colocou as suas mãos brevemente massajando em forma de carícia. Ao me sentir um pouco menos tenso, a partir da cintura, de baixo para cima, levantou o meu polo, revelando aos poucos, todo o meu tronco. Calmamente retirou-o e pousou-o.

O lenço que me vendava não só me deixava no escuro como, sem reacção, me fazia render completamente ao seu poder.

Sempre no mesmo ritmo sinto que estou a ser descalçado, sapato após sapato e, após uma breve e silenciosa pausa o botão das caças é solto, o fecho desce, lentamente as minhas calças são puxadas para baixo e retiradas com muito jeito.

Não sei até onde vai mas não parece ficar por aqui e, logo a seguir, o elástico dos boxes é puxado para baixo. Também lentamente, também até ao fim. Um quente e poderoso arrepio atravessa todo o corpo.

Tudo ficou visível e a minha indisfarçável dureza não tinha por onde se esconder.

 - Ai, seu maroto. Como estás atrevido... - Provocou novamente Maria

Vendado, despido e denunciado à frente dos anfitriões, resta-me a imobilidade. Após um momento de silêncio Maria novamente avança:

- Apresento-vos, agora, em todo o seu esplendor, o meu amigo Mário.

Subitamente as mãos de Maria começam a percorrer o meu corpo de cima a baixo. a partir dos ombros, pelas costas até às nádegas. Logo de seguida do peito descem para onde a imaginação não deixa de contemplar. Mas não estou certo serem as mãos de Maria parecem outras, neste estado não tenho a certeza. Sou explorado longa e cuidadosamente. Por duas, por quatro e não sei se assustadoramente por seis mãos.

Toda a minha intimidade é analisada, testada e até provada repetidamente. 

Em pé, submisso, contorço-me quando sinto que posso estar prestes a explodir. Tudo abranda momentaneamente e retoma novamente a acção.

Aquelas mãos que se apoderaram de mim não dão tréguas levando-me perto da loucura.

De um momento para outro apenas duas mãos ficam a acariciar toda a minha dureza. Tão imoral como carinhosamente. Pontualmente ouço estalido de louça ou talheres mas é impossível concentrar e perceber o que se passa enquanto estou neste estado.

Passada a tempestade voltou a acalmia. A minha roupa é calmamente reposta. 

Sinto alguém por trás de mim a desatar suavemente o lenço que me venda. Estou virado para a mesa onde Aurora e Luis sentados esperam com toda a naturalidade para lançar como nada de extraordinário tivesse acontecido.

Maria por trás de mim, já sem o lenço no pescoço e tendo feito desaparecer o lenço de Aurora, simplesmente me leva para lanchar. Não há vestígios nem testemunhos do que se passou. 

Os quatro sentados lanchamos em cordial conversa até a hora de ir.

- Voltem sempre despediu-se Aurora agitando o seu lenço na mão... 


QT













 





 





 


 







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