As férias de verão eram intermináveis. Havia alturas em que me faltava o que fazer. Sem sacrifício, passava as longas horas de espera, a ver Delfina passar a ferro, com o seu ar antiquado, de lindo lenço, atado no topo da cabeça. Vinha de uma vila do interior. Era deliciosa e assim ficava ainda mais...
Gostava muito de me dar conversa. Especialmente se fosse sobre assuntos da televisão. Telenovelas e séries não lhe escondiam segredos. Apenas não gostava das conversas escabrosas com as quais me divertia a provocar. Acidentes sangrentos, almas, diabos e todo o tipo de disparates deixavam-na, sempre, muito desconfortável.
Quando me esticava com esse tipo de temas lá vinha o: "ai, rapaz, tem de por uma rolha nessa boca"; frase que me deixava algo curioso.
E o seu lenço que usava sempre que passava a ferro e que a deixava fantástica. Tinha de o conseguir sentir. Planeava alguma forma discreta de o fazer sem me denunciar, sem que desconfiasse que me deixava nas nuvens vê-la, assim, de lenço no cabelo.
- Não se aborrece de estar aqui sem fazer nada? - perguntou enquanto passava.
- Um pouco mas não tenho nada para fazer e a televisão não esta a dar nada em nenhum dos dois canais.
- Lá na terra não precisava de televisão como aqui. Tinha sempre que fazer.
- E que fazia?
- Jogava com as minhas amigas.
- Jogos de meninas?..
- Não só. Jogávamos a outras coisas divertidas.
- A quê? - inquiri curioso e não só.
- As escondidas, à apanhada, à cabra-cega.
- À cabra-cega?! - como se não soubesse o que era.
- As cabras tinham problemas de visão? - completei fazendo-me de engraçado.
- Claro que não. É um jogo onde uma de nós ficava com os olhos tapados.
- Tapados com quê?! - fazendo-me novamente de ingénuo.
- Com um lenço.
- E o que ficava a fazer assim vendada?
- Tentava apanhar as outras. Quando apanhasse tinha de adivinhar quem era. Se adivinhasse a apanhada era vendada e assim por diante.
- Deve ser fácil apanhar seguindo o barulho. - resolvi lançar o isco.
- Não é nada fácil.
- Aposto que seria num instante.
- Experimente.
- Então mostre-me.
Após uma curta hesitação Delfina colocou a mão na cabeça, puxou o seu lenço, dobrou-o, cuidadosamente, em fita e respondeu segura e desafiante, enquanto o cabelo lhe escorria pelos ombros:
- Está bem. Vire-se.
Que maravilha. Ia, finalmente, sentir aquele lenço. Ela não fazia ideia o como me estava a deixar ficar. Ainda bem que não sabia!
O suave algodão do seu lenço, das riscas com ancoras, tocava a minha pele sobre os olhos enquanto sentia o nó a ser apertado. A sensual escuridão que me envolvia catalisava a minha sensibilidade e multiplicava todo o meu desejo.
Pegou no meu braço, afastando-me um pouco do local onde passava. Rodou-me duas vezes e deixou-me à procura.
Após alguns encontrões com a mobília toquei-lhe no braço vitorioso.
Sem tirar o lenço, saboreando o momento, perguntei-lhe:
- Levei muito tempo?
- Nem por isso. Gostou?
- É bem divertido.
- Quer tentar novamente? - perguntou surpreendendo-me
- Quero.
Voltou a colocar-me afastado para a procurar repetindo as voltas.
Estava deliciado com este jogo e a imaginar como o poderia prolongar.
Sempre sem tirar a venda que, ainda por cima, fazia soltar a minha língua.
- E o jogo é sempre assim? Um procura e o outro foge? - voltando ao meu registo de ingénuo.
- Não. Quando encontra o que fugia passa a estar vendado.
- Eu encontrei. - Atirei tentando a minha sorte
- Pois foi. Mas tenho se continuar a passar e o lenço faz-me jeito para prender o meu cabelo.
- Claro. - retorqui disfarçando o meu arrefecimento.
Aproximei-me para que fosse Delfina a desatar o lenço. Todos os seus pequenos toques me deixavam louco. Tinha de esticar esta sensação...
Fiquei a ver colocar o lenço de volta no cabelo, após o abrir e dobrar com mestria.
Passei a noite a planear como poderia voltar a "atacar". Teria de manter a possível subtileza para não desvendar o meu segredo.
Estas oportunidades surgiam quando passava a ferro. Ocorria às segundas e quintas.
Os dias mal passavam até chegar a próxima quinta.
Como habitualmente Delfina ia preparar a tábua.
- É preciso alguma coisa? - perguntou quando me viu ali imóvel.
- Não ponha já a tábua. Para termos espaço para jogar aquele jogo, tão engraçado, que não terminamos na segunda.
- À cabra-cega?
- Sim. Pode ser?
- Só um bocadinho. - disse responsavelmente.
Ia agarrar no lenço que lhe predia o cabelo, como de costume, mas parou brevemente, e agarrou um dos vários lenços de algodão velhos, que estavam sempre na cesta, usados para cobrir as roupas mais delicadas, quando as passava.
Dobrou-o eficientemente e dirigiu-se a mim.
- Espere. Eu ganhei na outra vez, não foi?
- É verdade assim tenho de ser eu. - levando o lenço na direcção dos seus olhos.
Vendou-se transbordando sensualidade e indicou que estava pronta.
Rodeia-a e tentei fugir. Durantes uns maravilhosos minutos circulava à minha procura, com o lenço a vendar os olhos e o seu lenço no cabelo. Estava no paraíso. Tanto que me desconcentrei e fui apanhado com relativa facilidade.
- Já está - disse retirando o lenço dos olhos e ajeitando o que lhe segurava o cabelo.
Foi deliciosamente provocadora.
Agora parecia ter terminado o jogo. Mas ainda ia tentar a minha sorte.
- Agora sou a apanhar, não é?
- Seria se eu não tivesse tanto para passar.
- Mas não devia ficar vendado por ter perdido?
- Sim só se ficar vendado ai enquanto passo.
- Está certo. - sentando-me na cadeira.
Delfina usou o lenço já dobrado que a vendara. Sentir o algodão, amaciado pelo tempo, a ser amarrado sobre os meus olhos, pelas suas gentis mãos, deixava-me sempre descontrolado.
Devo ter ficado mais de uma hora assim embora pontualmente me perguntasse se não queria tirar o lenço dos olhos.
Era fantástico ficar a conversar assim enquanto passava.
Por vezes levantava-me com as mãos, à altura do seu peito, como se estivesse a guiar-me. Era premiado com um toque acidental nas suas curvas na esperança que não notasse.
- Assim não consigo passar tem de ficar sossegado.
- É mais forte que eu esta vontade de jogar.
- Que coisa! Até parece que o vou ter de o prender. - disse jocosamente sem segundas intenções
- Não conseguia.
- Claro que conseguia.
- Então fazemos o seguinte: prende-me na cadeira e se eu conseguir me soltar joga mais uma vez.
- Está bem - após um momento de reflexão
Com um cinto de roupão atou as minhas mãos atras das costas e, com outro, prendeu os pés á cadeira.
- Pronto
- Agora vou tentar sair.
- Pode tentar - ironizou.
De facto era impossível. Aquele espertalhona deu-me uns nós bem dados.
Nada me restava a não ser tentar e continuar a conversa.
Estava em brasa!
Passada cerca de uma hora consegui finalmente criar uma folga que me permitiu começar a soltar. Nem conseguia perceber se olhava para mim assim neste estado. Finalmente consegui soltar e puxei logo o lenço que me vendava.
- Já está! Disse vitorioso já a sugerir novo jogo de cabra-cega.
- Eu também. Vai ter de ficar para outro dia. - disse com ar de gozo.
Ia querer mais, no dia seguinte. Muito mais...
Ficava cada vez mais difícil disfarçar o meu estado de perversão. Tinha tanta vontade de lhe tocar.
Durante o fim de semana vi a pilha de roupa para passar.
Sabia que Delfina ficaria muito tempo nessa tarefa o que me daria tempo para ir mais longe.
Chegava a hora de passar e Delfina já desconfiava que eu não ia ficar por ali. Delicadamente avisou-me, que tinha tanta roupa para passar e não dava tempo para mais nada.
Desejava tanto deixar as minhas mãos "acidentalmente" escorrerem no seu corpo
- E se for só na cadeira ?
- Sim. Pode ser.
Sentei-me na cadeira sem dizer nada e Delfina agarrou num lenço de passar e vendou-me. Como da ultima vez atou mãos e pés, deixando-me bem imobilizado. Ficamos a conversar sobre TV como de costume. Mas aproveitei para ver onde me levava a minha conversa provocatória. Falava do que não gostava, das ditas cenas escabrosas e assustadoras.
Não levou muito tempo a dizer a sua habitual frase:
- Que horror. Tem de por uma rolha nessa boca...
- Que medrosa! É o que se vê na televisão.
- Mas disso não gosto. Que coisa, credo!
Continuei a minha provocação até conseguir que ficasse mais reactiva.
- Precisa é da rolha na boca... - em tom mais sério
- Tem ai mais lenços, não é? Não me vou calar - mantendo a conversa que a perturbava
Subitamente, aproveitando a sugestão, enfiou um lenço entre os meus dentes e amarrou com força sem dizer absolutamente nada. Até parecia que gostou. E assim me deixou enquanto trabalhava. Ouvia o ferro a deslizar, ouvia a sua respiração, sentia-se a aproximar-se para ver como eu estava e verificar os nós.
Torcia-me completamente fora de mim. Era indisfarçável.
Ao fim de algum tempo parou de passar. Deixou-se ficar em silêncio aproximando-se muito devagar. Verificou todos os nós e abraçou-me apertando a minha cabeça entre seus seios.
Queria tocar com os lábios mas a mordaça impedia. Ela sabia bem disso e por isso deixou-se ficar tão encostada.
Fervia e tentava me soltar para me aproximar mais mas Delfina roçava suavemente a minha cara sem que eu pudesse fazer nada.
Soltou meus pés, desatou o lenço que me tapava a boca, levantou-me e levou-me pela casa. O que iria fazer? Estava a deitar gasolina num fogo já gigante!
Abriu uma porta que, neste estado, fui incapaz de identificar. Soltou-me as mãos e sentou-me empurrando.
- Tire o lenço dos olhos só depois de terminar... - saindo e fechando a porta.
Tinha-me sentado na sanita! Terminar o quê? O que é que estava a sugerir que fizesse?
Nem acreditava na sugestão, que eu tinha perfeitamente percebido.
Que situação mais embaraçosa mas não consigo ficar indiferente à ordem. Continuava a ferver mesmo com a estranheza da situação. Lentamente despi as calças e despi-me de preconceitos...
Percorri-me manualmente procurando o meu prazer, com as suas palavras a ecoar na mente.
Estava a ser bom, agora já não ia resistir mais, até chegar ao fim. Durou pouco dado o meu estado de quase loucura.
- Ahhhhhhh
Desatei a venda, vesti-me, limpei tudo, lavei as mãos e dirigi-me ao quarto da roupa, completamente envergonhado.
- Melhor? - perguntou com sorriso maroto.
Nem respondi entregando-lhe os dois lenços.
Durante algumas semanas não fiz mais provocações mas com o passar do tempo a vontade voltava e as conversas retomavam.
Já tinha coragem de insinuar um pequeno jogo de cabra-cega e até mais. Delfina sabia onde queria chegar e um dia perguntou directamente:
- Porque não me diz logo que quer ficar na cadeira?
Calei em consentimento. Queria repetir tudo. Não tinha coragem para assumir.
Senti-me na cadeira enquanto delfina dobrava os lenços.
Repetiu minuciosamente o passado. Venda, mãos, pés. Conversávamos como sempre durante algum tempo. Cada vez que verificava os nós de perto, atava o lenço sobre a minha boca de forma a não poder usar os lábios nos seus seios e encostava-se, sensualmente, até perceber que eu já estava a rebentar. Voltava a levar-me, sentar-me e saia e fechava a porta.
Estava a ficar viciado nesta rotina, que de rotineiro não tinha nada. Desconfio que Delfina também tinha um perverso gosto e um subtil prazer.
As férias aproximavam-se do fim...
Voltou na segunda...
Apenas por ver Delfina entrar em casa eu já começava a aquecer. Sós, como sempre, já nada dizia.
Sentei-me na cadeira e Delfina seguiu o protocolo, passo a passo, para poder passar a roupa sem ser perturbada. Depois as provocações. A minha cara no meio das suas curvas. Desta insistiu repetidamente. Ouvia-a a suspirar com intensidade.
Como sempre levou-me pela casa, sentou-me, tirou o lenço da boca e fechou a porta. Desta houve um subtil detalhe diferente. Voltou a atar os meus pés.
Sempre seguia a sua ordem e escorria as mãos no corpo, procurava intensamente o meu próprio prazer, acariciava toda a minha dureza numa suave insistência, até ao limite. Já não era tão constrangedor como antes admitir que entrava num mundo de prazer solitário. Ainda vendado, toquei-me até explodir.
Nessa altura a porta abre e fecha sentindo passos, de meias, em discreta retirada.
Não acredito! Será que não estava só? Terá tido coragem de aproveitar sabendo que não podia ver com a venda?
Não acredito! Será que não estava só? Terá tido coragem de aproveitar sabendo que não podia ver com a venda?
Tirei a venda e tentei rapidamente sair para verificar se Delfina tinha ficado lá dentro a ver-me. Caí de imediato por estar com os pés presos.
Delfina tudo tinha planeado para me ver ter prazer sozinho. Agora sabia que tinha ficado dentro, premeditadamente, para me ver, mas não tinha coragem de a confrontar. Não a vi cara a cara. Ela soube fazer tudo sem deixar rasto.
Desatei a fita que me atava os pés e dirigi-me ao quarto da roupa.
- Desta demorou mais tempo - comentou com uma "grande lata"
Ainda atordoado pelos acontecimentos, não fui capaz de encontrar resposta adequada.
Até ao final das férias, que se aproximava, não mais incomodei Delfina, enquanto passava. Apenas espreitava, o seu irresistível ar sensual, com seu cabelo preso pelo lenço.
QT
invarialvemente,adorei!O toque de inocência e de descoberta do desejo explorados tão fiel e docemente pelo autor me fizeram refletir sobre o inexplicável prazer que tinha nessa brincadeira quando menina.A sabedoria e sutileza de Delfina demonstram o quanto nós mulheres podemos seduzir com tão simples gestos que tornam-se eternos como tatuagens na memória dos homens.Parabéns ao autor!É de facto muito virtuoso!
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