Tinha acabado de falar, ao telefone, com Laura. Que bom que estava em casa!
Convidou-me para passar por lá, "mais logo", para pôr a conversa em dia.
Era mais um daqueles dias em que tinha tido excesso de trabalho, excesso de trânsito, excesso de chatices, excesso de excessos...
Felizmente era sexta-feira.
Laura era uma amiga de longa data. Mais que amiga era uma espécie de confessora. Era habitual conversarmos, de tudo e de todos, longas horas, noite fora. Era a única pessoa que sabia do meu segredo. Até ao mais íntimo detalhe. Tinha-lhe contado no ano passado.
- Olá, estás bom? Entra. - disse Laura simulando uma, bem disposta, vénia, expondo um lenço (bandana) de algodão vermelho, no cabelo, em fita.
- Olá. Estás de lenço!
Era raro vê-la a usar lenços. Ela até achava engraçado mas nunca calhava usar. Esporadicamente usava um para me deixar contente, como o fez neste momento.
- Percebi que tiveste um dia desgastante e foi de propósito para ti. Para descontraíres.
- És mesmo uma amiga especial, sabias?
- Obrigada.
Sentamo-nos, confortavelmente no sofá, a conversar, como de costume, sobre os mais diversos temas e apesar daquele lenço no cabelo me atrair a atenção os lenços ainda não eram um dos temas de conversa mas, subitamente e fora de contexto, disse:
- Já sei o que precisas.
- Preciso?!
- Sim. Quando andas desgastado com semanas como esta. A fita de lenço que uso no cabelo não te descontrai?
- Sim...
- E não te faria bem teres alguém que te fizesse uns tratamentos de com lenços? Mais que apenas um simples lenço em fita?
- E isso existe? E há alguém de confiança que o faça?
- Eu descubro. Queres que eu trate disso?
- ...Quero. - respondi hesitante, sem perceber bem o que implicaria.
Ambos sabíamos que se fosse Laura a fazer havia o risco de comprometer a nossa longa amizade, dando passos num sentido, possivelmente sem retorno.
Laura sabia que falar disto a outra pessoa era bastante embaraçoso para mim. Então encarregou-se de descobrir uma enfermeira que fosse de total confiança, discreta, sigilosa, e capaz de aprender e aplicar tudo o que, ela própria, lhe ensinaria, para fazer estes "tratamentos de lenços".
Após voltarmos às nossa conversas e quando já era de madrugada decidi voltar a casa.
Apenas na despedida voltou a falar da enfermeira.
- Não me vou esquecer de procurar. Começo na segunda feira. Queres mesmo?
- ...acho que sim.
- Eu sei que queres. - respondeu divertida
- Sabes demais...
- Depois ligo-te.
Tínhamos contacto regular e o assunto parecia ter ficado perdido mas um dia Laura ligou-me, agitadíssima, com uma notícia especial.
- Encontrei! Encontrei uma enfermeira ideal para ti. Quando é que te apresento a Ester? Amanhã?
- ...Pode ser. - respondi hesitante e quase atordoado. E dito assim até parece estranho.
- Ainda bem que concordas. Está combinado as dez. Beijinhos.
Sábado acordei cedo a tentar imaginar como seria este encontro.
Já passava das dez e ainda não tinham chegado. Já tinha imaginado milhares de cenários a a ficar ansioso e evitava ligar-lhe para não demonstrar como estava.
Finalmente tocaram.
Laura chegou com a enfermeira. Sorridente, de calças pretas, blusa branca e com uma pequena mochila preta com um lenço branco liso amarrado. Sóbria e sensual. Como tanto gosto.
- Olá, entrem... - indicando-lhes uma pequena sala mais reservada.
- Olá, apresento-te a Ester que te falei.
- Bom dia Ester. É um prazer.
- Bom dia. Igualmente.
- Estive a explicar, detalhadamente, à Ester as suas funções e ela está pronta para tudo que for necessário. Não é?
- Claro que sim. Não me parece nada de invulgar e com o tempo ajusta-se alguma coisa que seja necessária. - disse esboçando um sorriso e fazendo com as mão um subtil gesto de apertar.
- Já comprei alguns lenços que a Ester poderá usar nas suas funções - disse Laura
Fiquei completamente petrificado. A Laura falou de lenços em frente a Ester e eu tinha acabado de a conhecer. Desvendou o meu segredo, assim a frio, embora eu soubesse que a Ester já saberia, porque Laura haveria de ter contado, para combinar as suas funções.
Ambas perceberam a minha inusitada reacção e a minha dificuldade em disfarçar esse desconforto.
- Ester não acha que seria adequado começar já hoje? Parece-me que este estado já necessita da sua intervenção. - sugeriu Laura.
- Já????!!!.... - interrompi receoso.
Ester já vestia uma bata que tirara da mochila. Em seguida desatava o lenço preso á mochila e sobre a mesa dobrava-o meticulosamente em triângulo.
- A Ester é que sabe . Ela é que é profissional. - Laura afirmou com convicção.
Estava sem palavras. Tudo isto acontecera tão depressa que fugira ao meu controlo. Parecia um filme no dobro da velocidade. Laura estava entretida a ver as minhas reacções e Ester parecia completamente avontade, como se o fizesse todos os dias, contrastando comigo. Já estava de bata vestida, a colocar o lenço que dobrara, na cabeça, cobrindo todo o cabelo e bem preso atrás da nuca, num estilo de enfermeira do passado. Mais me fazia descontrolar.
Havia um conjunto de lenços, todos quadrados brancos, de diversos tamanhos, sobre a mesa, prontos a serem dobrados e aplicados. Tudo muito organizado e bem planeado. Laura e Ester tinham conspirado um plano minucioso.
Nem sabia onde me esconder. Quase escorregava da cadeira, a perna tremia agitada e a minha postura denunciava um embaraço total.
Ester, no seu estilo profissionalíssimo e imparável, já tinha um lenço em fita e dirigia-se a mim.
- Vamos sentar de costas direitas, contra a cadeira. Vai ver que não custa nada. - aproximando o lenço dos meus olhos.
Vendou-me rápida e eficazmente. Em seguida amarrou um lenço em cada pulso e logo amarrou-os individualmente à cadeira. Passou aos pés e repetiu a acção. Os seus nós eram fortes e apertados. Tentei resistir por momentos e apercebi-me que estava sem qualquer folga, sem qualquer hipótese de sair.
- Vejo que tem muita prática a imobilizar - disse Laura a Ester
- Tenho. Trabalho com muitos casos de doentes, alguns muito fortes, que têm de ser protegidos de si próprios. A única diferença é que uso ligaduras e desta uso lenços. Está bem assim? É assim que ele precisa?
- É mesmo isto que ele precisa. Mas se precisar ir mais longe não tenha problemas. Vai ver o efeito. Há um banco de ginásio na cave. Será útil?
- Sim, muito. Ia mesmo perguntar isso. Se não havia onde o deitar. Fica mais confortável houver necessidade de o imobilizar mais tempo.
- Vamos lá ver?
Desceram ambas à cave e eu fiquei amarrado e vendado. Estava tão bem preso. Não via nada. Os lenços faziam o seu perverso efeito de excitação e de calmante, simultâneamente.
Torcia-me e contorcia-me.
Levavam muito tempo a voltar. O que as deteria?
Só mais tarde percebi que na volta teriam ficado na porta a observar-me em absoluto silêncio. Que embaraçoso a verem-me neste estado quando julgava estar só.
Sem saber quanto tempo passara, já tinha sido vencido pelos lenços que me imobilizavam.
Subitamente ouvi-as.
Ester soltou-me as mãos e pés.
- Fique com o lenço nos olhos até eu sair. A Laura é que tira. Até para a semana.
Laura acompanhou-a à porta. E voltou para me tirar a venda.
- O que achaste? - perguntou enquanto desatava o lenço dos meus olhos.
- Foi óptima. Tu preparaste tudo tão bem...
- Combinei que viesse para a semana. No futuro, conforme as necessidades, eu chamo-a. Está bem?
- Sim...
- Eu trato de tudo. Dos telefonemas, dos pagamentos e do que for necessário para não ficares constrangido. Depois acertamos. Não te preocupes. Para a semana ficas só com a Ester.
- É embaraçoso.
- Eu sei, eu sei...
- Nem sei se consigo deixar que me vende assim a frio.
- Não te preocupes que ela saberá como fazer, não te preocupes... - reforçou
- OK. Espero para ver.
- Ver é que não me parece que vás conseguir. - ironizou num trocadilho.
- Também me vou. - despediu-se.
- Até outro dia Laura
Passada uma semana intensa e desgastante Ester chegou, como Laura tinha combinado.
De calças azuis, blusa novamente branca e um pequeno lenço azul no pescoço, dobrado e fita de nó ao lado, muito estilo hospedeira, estava deslumbrante e profissional.
- Bom dia - cumprimentou-me de ar sério.
- Bom dia - retorqui sem disfarçar um envergonhado sorriso.
- Como foi a semana?
- Muito ocupada como sempre.
- Então vim numa boa hora. Já tem o banco de ginásio preparado?
- Tenho. Vamos para a salinha.
Estava ansioso. Ou melhor: nervosíssimo. Até sabia o que me esperava. Mesmo assim, ou por isso mesmo, quase tremia.
Pousou a mochila na mesa. Delicadamente tirou o lenço azul do pescoço e amarrou na alça da mochila. Colocou um conjunto de lenços sobre a mesa, retirou a bata e o lenço branco do cabelo. Sempre a olhar para mim vestiu a bata, dobrou o lenço em triângulo e colocou-o na cabeça preso atrás da nuca e com a ponta encaixada sob o nó.
- Retire a sua roupa e sente-se no banco. Pode ficar em boxers. - pediu dobrando um lenço que seria para os olhos, sem me dar qualquer hipótese de fugir ao "tratamento".
Sentei-me como disse. Tinha quebrado a minha resistência pela forma sensual de tirar o lenço do pescoço, por um a cabeça, dobrar o lenço da venda... Não resisti nada enquanto sentia a suavidade do algodão fino a cobrir meus olhos. Bem que Laura dizia: "Não te preocupes que ela saberá como fazer".
- Fique descansado. É para seu bem e não dói nada. - dizia em tom muito profissional.
Em cada um dos meus pulsos amarrava um lenço. Em seguida os tornozelos. Apoiou as minhas costas com a mão para me deitar no banco. Com a eficácia habitual pendeu pulsos e tornozelos aos pés do banco. Estava imóvel.
Tentava saber o que iria fazer. Perguntava-lhe de todas as formas mas sempre sem resposta. Num silêncio quase assustador.
- Abra a boca - ordenou
- A boca?! Para q... hummmmm - introduziu o lenço antes que eu pudesse terminar a frase.
- Morda. Vai precisar disto. Está a perguntar demais e é só por algum tempo. Fica melhor assim.
Em seguida atou um lenço sobre a boca para segurar o que estava a morder. Estava agora completamente imobilizado. Sem ver, sem falar e quase despido. Estava nas suas mãos, que passava pelo meu corpo, examinando-o, testando-me e provocando intensamente.
Levantou o elástico dos boxers observando o interior.
- Tanta energia! Ai, ai... - em tom de troça.
Voltou o silêncio, apenas quebrado, ciclicamente, pelo som de passar de páginas. Lia enquanto me vigiava.
Passado algum tempo veio verificar se tudo se mantinha como inicialmente. Certificou-se que os pulsos e tornozelos continuavam firmemente presos, se o lenço que cobria os olhos não se tinha deslocado, se eu continuava bem silencioso.
Os seus pequenos ajustes e contactos deixavam-me extraordinariamente sensível e reactivo.
E novamente retomou a sua leitura mantendo-se vigilante.
Não consegui ter a noção do tempo que passara até me render aos lenços que me domavam. Finalmente acalmara.
Ester, sempre atenta, percebeu de imediato.
- Aparentemente já foi vencido. - sussurrou com sentido de missão cumprida.
Desatou lentamente todos os lenços excepto o que me vendava.
- Por hoje estamos terminados mas não retire a venda antes de eu sair. Até outro dia. Quando precisar de mim, novamente, indique à Laura, que me contactará. Até à próxima.
- Até à próxima. ...Obrigado.
Mal retirei a venda dos olhos liguei à Laura.
- Laura. A Ester já cá esteve.
- E como foi? Gostaste? Ela conseguiu fazer tudo?
- Tudo. Adorei. Parece que foi bem ensinada.
- Por quem terá sido? - ironizou
- Fez-me muito bem embora ainda esteja a recuperar desta aventura.
- Não foi boa ideia?
- Foi fantástica. Obrigado
- Agora descansa. Beijinhos.
- Beijos
Sem frequência definida estas visitas aconteciam três a quatro vezes por mês. Ester mantinha o método usado com rigor. E sempre resultava. Quebrava toda a minha agitação e ansiedade resultante dos duros dias de trabalho.
Já era inverno e estava cheio de trabalho e problemas pendentes. Não tinha um segundo livre. Já há algum tempo não recebia a terapêutica de Ester nem conversava ao telefone com Laura.
Dias curtos, escuros e chuvosos também não deixam ninguém bem disposto. No que toca à paciência estava em "tolerância zero".
Estava só em casa e Laura, num dia de grandes conversas, liga-me.
- Olá. Já há muito tempo que não sei de ti. Estas bem?
- Estou.
- Conta-me o que tens feito.
- O habitual. Nada de novo.
- Parece-me que andas com pouca vontade de conversar.
- Há quem tenha o que fazer Laura. - disse de forma amarga e desnecessária.
- Já vi que estás num dia mau. Falo-te noutro dia. Beijinhos.
- Beijos
Tinha sido antipático com Laura mas nem queria saber. Não havia vontade para conversas.
Lá fora estava num breu e chovia copiosamente.
Após engolir um jantar aquecido sento-me com o comando na mão, sem querer saber de mais nada e a campaínha toca.
- Bolas! Logo hoje. Quem será?
A imagem do intercomunicador estava embaciada, via apenas um vulto.
- Quem é - perguntei de forma seca.
- Ester
- Mas não combinamos nada!
- E vai me deixar aqui à chuva?
- OK entre.
Estava sem vontade de ver ninguém nem de fazer brincadeiras e, do meio da tempestade, aparece Ester.
Que se passa para aparecer sem combinar? Que quererá?
Deixei a porta aberta e sentei-me na sala.
- Posso entrar?
- Entre. - respondi sem olhar.
Deixou o chapeu de chuva fora e entrou na sala.
- Nem me veio receber à porta?
Ia responder sem vontade mas, quando olhei, Ester estava de pé, à minha frente após enfrentar a chuva, de botas pretas altas, gabardina cinza e um lenço grande de fundo preto com pequenas bolas vermelhas, na cabeça, estilo Grace Kelly.
Em vez da resposta amarga, ao ver aquela imagem, só me saiu um suave "desculpe".
Pousou a gabardina e a sua mochila sobre uma cadeira. Lentamente desatou o lenço colocando-o em cima das costas do sofá. Retirou uma escova da mochila para, sumariamente, ajeitar o cabelo. Prendeu com um elástico, pegou no lenço que estava no sofá e dobrou cuidadosamente. Fez uma pausa, pensativa. Parecia ter mudado de ideias sobre alguma coisa. Meteu a mão na mochila e retirou outro lenço, desta pequeno, vermelho liso com que atou o seu rabo-de-cavalo.
- Estou bem? - perguntou virando a cabeça para expor o seu lenço amarrado.
- Sim, muito... - ainda sem perceber o que se passava mas a ficar desconcentrado.
Sentou-se no sofá perto de mim e agarrou o lenço que lá tinha deixado. Estava a ficar perdido com estas trocas de lenços.
- Já não falamos há algum tempo. Tem passado bem? Muito cansado? - inquiriu olhando-me profundamente nos olhos
- Sim, estou bem. Têm sido dias cansativos e tenho tido falta de tempo.
- Não tem precisado de mim? - sempre a passar o seu lenço pelas mãos e a aproximar-se subtilmente.
- As vezes... - respondi cada vez mais perturbado pelo movimento do seu lenço
- Que via na TV?
- Nada de especial. Ainda procurava.
- Algum filme com a Grace Kelly usando um lenço como eu usei este? - levantando o lenço que tinha na mão e aproximando-o perigosamente de mim.
Fiquei sem palavras com esta conversa enquando Ester já levantava suavemente o seu lenço em direcção aos meus olhos.
- Pronto, pronto, agora vai ficar bem. - atando o lenço firmemente sobre os meus olhos.
Já não conseguia evitar. Ester provocou-me de forma a quebrar a minha resistência. Estava a vendar-me e a assumir o controlo total.
Ouvia o silvar dos lenços a serem retirados da sua mochila. Sentia-a a dobrar. Muito suave e gentilmente atou as minhas mãos atrás das costas, dando várias voltas sem apertar. Sempre a falar baixinho.
Subitamente, quando já tinha suficientes voltas para me impedir de soltar, apertou com força, finalizando com um nó muito bem apertado e aumentou o som da televisão.
- Agora já estamos bem. Como eu quero - disse Ester com autoridade
Tinha percebido que já não tinha controlo sobre a situação mas, em vagos momentos de sobriedade, tentava resistir.
- Ester, vamos com calma, não havia nada combinado para hoje. - argumentava sem resposta
- Hoje não estou com vontade para isto - sempre sem resposta.
- Pare, Ester, Pare.
- Shhh... - disse baixinho quase abafado pelo som da TV
Empurrou-me para uma poltrona que me parecia já ter sido desviada, embora não pudesse ter a certeza por estar bem vendado.
Ao tentar protestar forcou um lenço na minha boca e, como sempre, rápida e eficazmente, atou outro sobre este.
- Eu não perguntei nada, pois não?
Afastou-se um pouco para se organizar, agora que já estava imobilizado. Retirou-me o seu leço preto e vermelho dos meu olhos, dobrou-o cuidadosamente e guardou. Já estava de bata e lenço na cabeça de enfermeira.
Voltou a vendar-me mas desta com um dos lenços branços que trazia sempre para o efeito.
Seguindo o seu método habitual atou os meus pés aos pés da poltrona, desapertou as minhas calças e puxou-as para baixo. Fiquei, novamente, de boxers embora estivesse sentado e de camisa.
- Assim posso monitorizar. Descanse...
Obviamente que assim o meu estado é denunciado.
Abandonou-me por algum tempo. Ao contrário as sessões combinadas, não havia livro. Andou pela casa. O som da TV não me permitia identificar mas pareceu-me que até teria saido para fora. Que teria ido fazer?
Tentava com tudo espreitar, ter uma folga mas os seus nós eram irredutíveis.
Esta indeciso se isto era o meu pior pesadelo ou o meu melhor sonho. A verdade é que num dia que eu julgava impossível acalmar Ester veio, viu e venceu. Estou aqui mais que rendido.
Ajudou-me a levantar um pouco e fez-me sentar sobre uma textura em turco. Parecia ser um toalha dobrada.
- Vou lhe fazer uma pergunta e vou dar-lhe dez minutos para reflectir. Depois retiro a mordaça por um minuto e se não tiver resposta volta a colocar e esperar mais dez.
Não percebi muito bem o que se passava. Mas estava cada vez mais descontrolado. E na certeza que ela percebia o meu miseravel estado.
Senti algum movimento. Que preparava?
- Diga-me. Desde que chegou a casa fez alguma coisa que se arrependa e ache necessário pedir perdão? Tem dez minutos.
- hummmm - protestei com o som abafado pela mordaça.
Que quereria dizer com isso?
Pensei no que teria acontecido desde que cheguei a casa. Mas como saberia o que eu teria feito?
Jantar, Sofa, TV, telefonema, TV novamente. O telefonema... despachei a Laura! Faz sentido. Foi a Laura que lhe ligou!
Mas não estava com muito vontade de admitir que fui antipático.
- Passaram dez minutos. Vou colocar um contador de tempo especial para me dar uma resposta adequada. depois de um minuto a mordaça volta.
Puxou o elástico dos boxers e despejou um jarro de gelo que deveria ter ido buscar à cozinha quando rondou a casa.
- HUMMMMMMMMMMMM
- Tem um minuto - disse puxando a mordaça para baixo.
Em pânico por pensar que se der a resposta errada voltaria ser silenciado e ficaria mais dez minutos com este gelo, sem hipotese de responder melhor.
- Foi a Laura. Eu fui antipático com a Laura. Ela á uma amiga incondicional, eu adora-a mas injustamente despachei-a. Fui rude. Tenho de lhe pedir desculpas. Espero que a Laura me perdoe. A Laura não merecia que eu tivesse sido assim... - confessei apressadamente e em menos de metado do minuto concedido.
Rapidamente e com a eficiência de profissional retirou todo o gelo, secou-me com a toalha onde me sentava, desatou os meus pés, retirou as calças pingadas e boxers ensopados, vestiu-me outros boxers e calças, que teria encontrado previamente na sua ronda, levou-me para outro sofá deitando-me de barriga para baixo e finalizou atando gentilmente um lenço sobre meus lábios, que embora não me impedisse de falar percebi que era uma forma simbólica de me dizer que não falasse ainda. ...E de me deixar descontrolado. Manteve as mãos atadas. Assim fiquei...
Durante algum tempo sentia o canal da TV a ser mudado. Tinha ficado no outro sofá a assistir.
Fiquei imóvel e silencioso enquanto acalmava totalmente. Na verdade Ester veio na hora certa. Era tudo o que eu precisava e não admitia. A TV foi desligada. As minhas mãos foram desatadas e o lenço sobre minha boca também.
- Ester, devo ligar já à Laura para me redimir? - perguntei mal pude falar, ainda vendado.
- Não é preciso. Já te redimiste. A Ester já foi para sua casa. - disse Laura enquanto desatava a venda para minha completa surpresa.
Laura teria estado presente desde que Ester foi lá a fora, logo ao início. Presenciou tudo o que Ester fez e ouviu o meu arrependimento. Ester saíra entretanto e deixou a Laura para me libertar dos lenços.
Na verdade libertou-me de muito mais...
QT
Um dos contos que mais gostei até agora!Além de simpatizar com a personagem que coincidentemente leva meu nome(Laura),tudo foi de muito bom tom,muito bem detalhado ,capaz de transportar o leitor ao cenário do conto,dando-nos assim uma visão bem real de sua narrativa.Mais uma vez,surpreendeu-me.Estou a aprender muito com suas personagens.Continue a brindar-nos com verdadeiras ambrosias como esta.Parabéns!
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