- Bom dia, Sr. Padre. Sou a Maria de Fátima. Venho ajuda-lo.
Disse-me, ainda eu não tinha pousado as malas, à porta dos aposentos que me tinham sido atribuídos, a escassos 100 metros da modesta igreja da aldeia.
Já lá iam mais de 10 horas de viagem, vários autocarros, muitas curvas e buracos.
- Tenho aqui a chave da sua casa, da capela e do cemitério. - Dizia-me do alto do seu metro e meio, mal medido.
Sra. de meia idade, seca, energética, de ar autoritário. Vestida em inertes tons cinza cobrindo, meticulosamente, qualquer vestigio de pele à vista, que possa deixar escapar a mínima sugestão. Lenço cinza no pescoço, ligeiramente mais escuro que o fato, muito bem dobrado e amarrado após uma volta selando a indumentária. Cabelo rigorosamente apanhado num carrapito, com ganchos a deter qualquer fio tresmalhado.
Em suma: A perfeita definição de beata.
Meti a chave à porta e perguntei:
- Deseja entrar?
- Obrigada. Tirando prontamente o lenço que tinha no pescoço e amarrando, na cabeça, com um nó debaixo do queixo. E com muito jeito....
- Fico sentada no hall enquanto vê a casa.
- Porque me testais Senhor? Lenços na cabeça mal chego! - Pensei
Um pequeno hall com um banco e um cabide, que dava para um corredor que dividia a casa: Sala e cozinha de um lado, WC, um quarto e um misterioso quartinho minúsculo no fundo do corredor.
A sala tinha todas a janelas cobertas
Larguei malas e voltei ao hall para conversar com a minha anfitriã.
Dona Mª Fátima porque é que a sala está assim tão escura?
Era esse o desejo do falecido Padre Gregório, seu antecessor. Pároco há mais de 50 anos nesta paróquia. Era ai que ele recebia quem dele necessitava. Evitava que entrassem em casa. O quartinho (o tal misterioso) seria para receber mas não fica bem a uma senhora atravessar a casa do Padre e ver a sua intimidade. Têm de se dar ao respeito. Essa é uma das regras.
- Regras?!
- Sim aqui temos as regras bem definidas. A moral é muito importante nesta aldeia. Não queremos indecências e a primeira forma é respeitar a Deus e a quem O representa.
- E quem fez estas regras?
- Foi ideia do Padre Gregório e eu ajudei em relação à indumentária, como, alias, ajudo em muitas outras coisas da igreja. Sou a ajudante da igreja nesta aldeia. Agora instale-se bem que eu volto amanhã, de manhã. Até amanhã, se Deus quiser.
- Muito obrigado Dona Mª de Fátima, até amanhã, vá com Deus.
Comecei bem. Bela recepção, com lenço e tudo. Aparentemente esta senhora é que manda na paróquia e nas mulheres da aldeia. Bom...
Disse-me, ainda eu não tinha pousado as malas, à porta dos aposentos que me tinham sido atribuídos, a escassos 100 metros da modesta igreja da aldeia.
Já lá iam mais de 10 horas de viagem, vários autocarros, muitas curvas e buracos.
- Tenho aqui a chave da sua casa, da capela e do cemitério. - Dizia-me do alto do seu metro e meio, mal medido.
Sra. de meia idade, seca, energética, de ar autoritário. Vestida em inertes tons cinza cobrindo, meticulosamente, qualquer vestigio de pele à vista, que possa deixar escapar a mínima sugestão. Lenço cinza no pescoço, ligeiramente mais escuro que o fato, muito bem dobrado e amarrado após uma volta selando a indumentária. Cabelo rigorosamente apanhado num carrapito, com ganchos a deter qualquer fio tresmalhado.
Em suma: A perfeita definição de beata.
Meti a chave à porta e perguntei:
- Deseja entrar?
- Obrigada. Tirando prontamente o lenço que tinha no pescoço e amarrando, na cabeça, com um nó debaixo do queixo. E com muito jeito....
- Fico sentada no hall enquanto vê a casa.
- Porque me testais Senhor? Lenços na cabeça mal chego! - Pensei
Um pequeno hall com um banco e um cabide, que dava para um corredor que dividia a casa: Sala e cozinha de um lado, WC, um quarto e um misterioso quartinho minúsculo no fundo do corredor.
A sala tinha todas a janelas cobertas
Larguei malas e voltei ao hall para conversar com a minha anfitriã.
Dona Mª Fátima porque é que a sala está assim tão escura?
Era esse o desejo do falecido Padre Gregório, seu antecessor. Pároco há mais de 50 anos nesta paróquia. Era ai que ele recebia quem dele necessitava. Evitava que entrassem em casa. O quartinho (o tal misterioso) seria para receber mas não fica bem a uma senhora atravessar a casa do Padre e ver a sua intimidade. Têm de se dar ao respeito. Essa é uma das regras.
- Regras?!
- Sim aqui temos as regras bem definidas. A moral é muito importante nesta aldeia. Não queremos indecências e a primeira forma é respeitar a Deus e a quem O representa.
- E quem fez estas regras?
- Foi ideia do Padre Gregório e eu ajudei em relação à indumentária, como, alias, ajudo em muitas outras coisas da igreja. Sou a ajudante da igreja nesta aldeia. Agora instale-se bem que eu volto amanhã, de manhã. Até amanhã, se Deus quiser.
- Muito obrigado Dona Mª de Fátima, até amanhã, vá com Deus.
Comecei bem. Bela recepção, com lenço e tudo. Aparentemente esta senhora é que manda na paróquia e nas mulheres da aldeia. Bom...
Embora cansado arrumei as malas, comi qualque coisa e arrumei e abri a sala, que voltou a ser sala. O quartinho passou a ser para quem necessitasse do meu apoio. E a conviniente regra das senhoras não poderem ver a minha casa já me deu ideias. Vou que o que ela me dirá.
No dia seguinte, pouco depois do sol nascido lá vinha.
- Bom dia D. Mª de Fátima.
- Bom dia, Padre.
- Entre. Fique avontade.
Entretanto já ela abria avidamente a carteira retirando um lenço purpura. Dobrou-o cuidadosamente em triangulo, fazendo uma pequena dobra no lado maior para o manter mais tenso e direito. Amarrou-o na cabeça mas desta vez passando sob o queixo e dando o nó na nuca, estilo Grace Kelly.
- Não se importa que use assim Sr.Padre? Fica mais arrumadinho.
- Está muito sofisticada D. Mª de Fátima. - Não resisti a dizer. - Fica-lhe muito bem. E não tem mal nenhum. Sofisticação e modestia não são opostos.
- Obrigada. - respondeu disfarçando um ténue sorriso.
- Estive a fazer umas mudanças. A sala voltou a ser na sala e o quarto para receber será o pequeno de trás. Também o arrumei. Sente-se no sofá que o banco do hall não é nada confortável.
Prescisava de sentir a casa com lar.
Os olhos dela varreram fulminantemente toda a sala. Luz natural naquela sala foi uma novidade. Via-se que gostava mas algo a confundia (e eu esperava que fosse o que premeditei)
Falou-se um pouco de tudo e todos. Falou-se da missa do dia seguinte, domingo. Muito faladora esta senhora gosta mais de se ouvir que ouvir. E das regras....
- Conte-me essas regras.
- Decência e moral. - disparou de imediato.
- Nesta aldeia temos vergonha. As mulheres não andam semi-despidas. Todas bem cobertas. E em relação à Igreja e à casa do padre têm de cobrir a cabeça.
- Cobrir como?
- Com o lenço. Como eu cobri quando entrei na sua casa. É uma questão de respeito.
- Eu reparei nisso. Foi muito respeitosa. Dou muito valor a senhoras assim educadas. (principalmente pelos lenços)
E na igreja também?
No dia seguinte, pouco depois do sol nascido lá vinha.
- Bom dia D. Mª de Fátima.
- Bom dia, Padre.
- Entre. Fique avontade.
Entretanto já ela abria avidamente a carteira retirando um lenço purpura. Dobrou-o cuidadosamente em triangulo, fazendo uma pequena dobra no lado maior para o manter mais tenso e direito. Amarrou-o na cabeça mas desta vez passando sob o queixo e dando o nó na nuca, estilo Grace Kelly.
- Não se importa que use assim Sr.Padre? Fica mais arrumadinho.
- Está muito sofisticada D. Mª de Fátima. - Não resisti a dizer. - Fica-lhe muito bem. E não tem mal nenhum. Sofisticação e modestia não são opostos.
- Obrigada. - respondeu disfarçando um ténue sorriso.
- Estive a fazer umas mudanças. A sala voltou a ser na sala e o quarto para receber será o pequeno de trás. Também o arrumei. Sente-se no sofá que o banco do hall não é nada confortável.
Prescisava de sentir a casa com lar.
Os olhos dela varreram fulminantemente toda a sala. Luz natural naquela sala foi uma novidade. Via-se que gostava mas algo a confundia (e eu esperava que fosse o que premeditei)
Falou-se um pouco de tudo e todos. Falou-se da missa do dia seguinte, domingo. Muito faladora esta senhora gosta mais de se ouvir que ouvir. E das regras....
- Conte-me essas regras.
- Decência e moral. - disparou de imediato.
- Nesta aldeia temos vergonha. As mulheres não andam semi-despidas. Todas bem cobertas. E em relação à Igreja e à casa do padre têm de cobrir a cabeça.
- Cobrir como?
- Com o lenço. Como eu cobri quando entrei na sua casa. É uma questão de respeito.
- Eu reparei nisso. Foi muito respeitosa. Dou muito valor a senhoras assim educadas. (principalmente pelos lenços)
E na igreja também?
- Claro que sim. Devem levar os seu melhores lenços. Os de renda.
- Sabe que eu acho que na igreja rendas são um pouco exageradas: A igreja é um local de modéstia. Preferia que fossem mais simples e até mas confortáveis. Desde que estejam cobertas já indica devoção e modéstia (quero ver se ela é bem manipulável, quero saber que responde).
- Sabe que eu acho que na igreja rendas são um pouco exageradas: A igreja é um local de modéstia. Preferia que fossem mais simples e até mas confortáveis. Desde que estejam cobertas já indica devoção e modéstia (quero ver se ela é bem manipulável, quero saber que responde).
A forma não é o mais importante.
Não concorda?
Ficou silenciosa por uns instantes.
- Pensando bem tem razão. Vou dizer-lhes para levarem lenços mais confortáveis. E que podem amarrar mais avontade. Pode ser no queixo, na nuca ou mesmo como tenho agora. Está bem assim Sr. Padre?
- Excelente, Dona Mª de Fátima vejo que me entende. (É fantástica, esta senhora! Deixa-me manipular a conversa). Podemos ser respeitados sem ser repressivos. Assim fico mais próximo do povo.
Há muitas regras com lenços?
- Nem sempre são regras mas toda a mulher digna deve trazer um lenço consigo para usar caso necessário. E nesta aldeia as mulheres são muito dignas.
- Pelo que percebi não restam dúvidas que assim é.
- Excelente, Dona Mª de Fátima vejo que me entende. (É fantástica, esta senhora! Deixa-me manipular a conversa). Podemos ser respeitados sem ser repressivos. Assim fico mais próximo do povo.
Há muitas regras com lenços?
- Nem sempre são regras mas toda a mulher digna deve trazer um lenço consigo para usar caso necessário. E nesta aldeia as mulheres são muito dignas.
- Pelo que percebi não restam dúvidas que assim é.
Durante o dia passei na aldeia. Apenas para reconhecer o meio.
Apercebi-me que algumas mulheres usavam lenços. Durante o dia quando estava sol viam-se alguns lenços na cabeça. Das mais variadas formas.
No final da tarde, após o trabalho, já se viam mais lenços no pescoço. Quase sempre muito bem atados.
Chegou o domingo e igreja cheia
Todas as cabeças femininas, sem excepção, cobertas com um lenço. Via-se que D. Mª de Fátima já tinha passado a mensagem. Raros eram os de renda.
Todas as cabeças femininas, sem excepção, cobertas com um lenço. Via-se que D. Mª de Fátima já tinha passado a mensagem. Raros eram os de renda.
Maiores ou menores, atados na cabeça, tanto debaixo do queixo, como na nuca, tornavam a assembleia num obra de arte aos meus olhos.
Via-se que tinham muita practica com os seus lenços. Quase milimetricamente atados. Lenços muito bem feitos e bem passados.
Após a missa D. Mª de Fátima foi ter comigo à sacristia.
- Gostei muito da sua mensagem, Padre. Muito simples e clara. Muito franciscana.
- Obrigado D. Mª de Fátima. é essa a minha forma de estar.
Após conversar um pouco percebi que havia qualquer coisa que a confundia. Estava mais reservada, mais pensativa. Sempre a passar os seus dedos pelas pontas do lenço da cabeça que tinha amarrado sob o queixo
- Parece-me preocupada. Quer me dizer alguma coisa?
- O Sr. Padre vai receber em sua casa?
- Vou, claro. Como sempre foi tradição.
- Mas onde será?
- No quartinho para esse efeito. Já la tenho uma mesa e cortinas novas. Preciso apenas de umas cadeiras mais confortáveis. Entretanto as velhas ficam.
- Mas, Sr. Padre, não fica bem uma senhora ver a sua privacidade entrando dentro de casa.
- Se o problema é apenas que as senhoras vejam o percurso entre a entrada e o quartinho do fundo não deve ser difícil resolver. - Mandei por o ar a ver o que me reponderia.
- Pois não, Sr. Padre. Se as Senhoras, ao entrarem, vendarem os seus olhos, com um lenço, até ao quartinho de receber.
- D. Mª de Fátima, é espantosa! (É tão manipulável. Disse tudo o que pensei sem ter de ser eu a sugerir) Tem solução para tudo. Parece-me uma forma que resolve o problema. Muito bem pensada
Diga-me como seria passo a passo para não haver enganos. (Para meu deleite.)
- O que acha se ficar assim:
Ao chegar ao hall de entrada da sua casa, as senhoras preparam um lenço que portem para este fim. Fazem as dobras e entregam ao Sr. Padre para as vendar. Para não haver dúvidas é melhor ser o sr. Padre a atar o lenço nelas se não se importar.
- Claro que não (que maravilha!). Tem razão. Prossiga.
- O Sr. Padre guia-as até ao quarto senta-as na cadeira e fecha a porta do quarto. Só nessa altura é que as autoriza a retirar a venda. Assim não há riscos nem enganos.
Após terminar a conversa repete o processo até ao hall da entradas.
- Parece-me muito adequado. É de facto uma grande ajuda, a sua opinião. Só falta experimentar.
Quer passar lá por casa esta tarde? Assim também pode me dar a opinião sobre a decoração da salinha. Agora o quartinho já foi transformado em salinha!
- Passo com todo o gosto. Até logo, Sr. Padre
- Até logo D. Mª de Fátima...
Não passava das 13:00, mal tinha acabado de almoçar, já via D. Mª de Fátima, no seu passo curto mas apressado a chegar à minha porta. Vinha já de lenço na cabeça. O que tinha usado na igreja mas, em vez de ter um nó simples abaixo do queixo, vinha estilo Grace Kelly. Como sempre cabelo coberto para entrar na casa do Padre.
Entrou para o hall sentando-se na cadeira. Convidei-a a ver a salinha.
Prontamente retirou um lenço preto da sua mala. Dobrou-o em fita larga. Nem foi preciso dizer nada.
- Aqui esta sr. Padre. Vamos experimentar? - disse-me passando seu lenço para as minhas mãos
Contornei-a e por trás, cuidadosamente, atei o lenço sobre os seus olhos.
- Está confortável assim?
- É melhor apertar um pouco mais, não vá descair. (É mesmo fantástica esta mulher!)
Assim o fiz. Apertei o nó, dando um segundo para fixar. Olhei-a bem para verificar se não via nada e perguntei:
- Vê alguma coisa?
- Nada, está muito bem assim - disse quase friamente.
- Então vamos
Levantou-se da cadeira e coloquei-lhe a mão no meu braço para seguir-me.
Eu já estava nas nuvens só de a ver.
Avançamos lentamente pelo corredor, em silêncio até à porta da salinha. Indiquei-lhe a cadeira para se sentar e fechei a porta.
- Pode retirar a venda, D. Mª de Fátima.
- Obrigada
Desatou cuidadosamente os nós para não amarrotar o lenço e colocou-o sobre a mesa onde havia apenas uma bíblia. Ficou a ajeitar o lenço com as mãos.
Não passou muito tempo, após tirar a venda, até que os seus olhos se adaptassem à iluminação.
O seu olhar percorria silenciosamente a salinha.
Não passou muito tempo, após tirar a venda, até que os seus olhos se adaptassem à iluminação.
O seu olhar percorria silenciosamente a salinha.
A suave luz, filtrada pelas cortinas novas, a mesa nova, o cheiro a limpo e o crucifixo na parede deixavam-na confortada.
- Gosta?
- Gosto. Está muito agradável, sereno e modesto. Adequado para o fim a que se destina.
- Pensei assim. Creio que assim se pode conversar mais espiritualmente. E a venda achou que correu bem?
- Muito bem. Assim não me parece haver problema. É uma forma de garantir o respeito pela privacidade e de uma senhora se dar ao respeito.
- Foi a sua excelente ideia. Devo agradecer-lhe.
- Não precisa que é o que eu faço pela paróquia.
Durante mais algum tempo ficamos a conversar sobre os assuntos da paróquia.
Frequentemente passava a mão no lenço que a vendou esticando-a. Como se estivesse já a preparar para se novamente vendada.
Deixava-me perturbado mas conseguia observar sem me denunciar.
Disse-lhe que tinha gostado muito da forma que as mulheres se tinham vestido na missa, mostrando o seu respeito e modéstia.
Agradeci-lhe novamente por saber que tinha tido influência.
Contou-me que as mulheres tinham ficado muito agradadas por poderem levar os seu lenços mais simples, atados na cabeça de acordo com as suas preferências. Que gostaram da simplicidade da mensagem. Até da voz gostaram.
O tempo passou até que me disse:
- Já está na hora de ir Sr. Padre. Ainda tenho afazeres. Pode voltar a vendar-me - disse ajeitando-se na cadeira, levantando o olhar de forma a permitir a colocação da venda.
Lentamente segurei o seu lenço com ambas as mãos e atei sobre os seus olhos. Contornei-a novamente, como se estivesse a verificar a venda, mas estava apenas a deleitar-me com a visão de lenço na cabeça mais lenço nos olhos.
Calmamente conduzia-a ao hall onde desatou o nó da venda.
- Obrigado pela visita e ajuda. Como sempre muito útil.
- Até amanhã, se Deus quiser. - disse orgulhosa do serviço cumprido.
- Vá com Deus...
Com o passar dos dias o meu conhecimento da aldeia e dos seus moradores crescia, bem como a sua consideração por mim, como pastor e como vizinho.
Percebia-se que a D. Mª da Fátima passava todas as mensagens rapidamente e continuava manipulável. Confirmei que gostava de ter o seu protagonismo. Até algum subtil poder.
Em cada visita das mulheres à minha casa o cumprimento das regras, por ela estabelecidas e divulgadas, era rigoroso. Lenço na cabeça e um lenço para vendar os olhos à passagem pelo interior. Não fosse a provação, meu Deus, seria perfeito...
Na missa rezava mais alto que todas as outras pessoas. Sem ser alto era o seu sussurro que melhor se ouvia. Como se fosse guia do rebanho.
Por vezes não resistia à cusquice. E isso já era começava a ser pecado...
Quanto mais confiança tinha comigo mais se esticava na sua, ainda discreta divulgação da vida alheia.
Passaram meses que me tinha estabelecido. Já era uma referência na aldeia. Era cada vez mais frequente receber as mulheres com as suas preocupações, desabafos, dúvidas e até apenas para conversar.
Muitas já tão acostumadas ao ritual de ida para a salinha de receber fieis que já sabiam de cor o caminho vendadas. Passavam o corredor e sentavam-se na cadeira com destreza.
Eram ricos de "emoção" os momentos em que se preparavam. Por o lenço na cabeça e depois entregar o segundo lenço para as vendar. Até pareciam gostar. Eu gostava ...muito.
Por vezes discretamente lhes elogiava o lenço após o colocarem na cabeça.
- Ficou muito elegante e respeitosa - ou parecido, dizia-lhes olhando nos olhos.
D. Mª de Fátima nem sempre via com bons olhos tantas mulheres virem ocupar meu tempo. temia, de alguma forma, ficar em segundo plano. O padre Gregório era menos procurado.
Por vezes não resistia em comentar alguma que não gostasse e num dia, após ter passado a semana muito ocupado, e sem lhe ter dado a atenção habitual, veio ter comigo algo impaciente.
No hall começou o ritual. Retirou um lenço azul escuro da carteira atou imediactamente na cabeça, com mesmos cuidado que habitualmente. Dobrou em fita e entregou-me o lenço preto do costume. Como sempre vendei-a cuidadosamente. Mas desta vez fui propositadamente mais lento que habitual. Bem como a percorrer o corredor. Sentia algo no ar.
Permiti que retirasse a venda e practicamente sem me ouvir falou, falou, falou. Mais de uma hora seguida.
Percebia-se que não estava contente. Falou principalmente de outras mulheres que considera que me fazem perder tempo. Falou das suas vidas privadas, falou dos seus companheiros dos seu
hábitos, dos seus males. Não era seu habito ser assim tão venenosa.
A dada altura tive de intervir. Era excessivo.
Levantei-me da cadeira e em tom ríspido disse:
- D. Mª de Fátima vai ter de se acalmar. Denegrir outras pessoas ou apenas falar da sua privacidade também é pecado.
Silêncio...
Ela não estava à espera disto.
Vamos terminar a conversa por aqui e amanhã volte, mais calma, para falarmos.
Pequei no seu lenço preto e vendei-lhe energicamente os olhos para se preparar para sair.
- Espere. Não se levante. Ainda está muito agitada. E não tire a venda por mais uns momentos.
Acalmou um pouco mantendo o lenço dos olhos.
Pus-lhe a Bíblia debaixo da mão direita, um terço debaixo da esquerda e disse. Fique assim até eu dizer para se levantar. Reze e reflicta.
Amanhã teremos de pensar numa penitência. O seu hábito de falar da vida alheia deve ser mudado.
Passados minutos indiquei-lhe que se podia levantar e fomos até ao hall.
Retirou o lenço dos olhos, guardou-o na carteira e sem me olhar nos olhos despediu-se.
Passei a noite a pensar nisto. A D. Mª de Fátima não parecia ser de se exceder assim. Amanhã, de manhã, vamos ter uma conversa.
E de manhã, bem de manhã, lá vinha ela. A mesma postura mas de passo mais lento, mais prudente. Já vinha de lenço na cabeça. E novamente muito bem posto, muito Grace Kelly.
- Bom dia D. Mª de Fátima - cumprimentei condescendente.
- Bom dia, Sr. Padre. - retorquiu cautelosamente
Cumpriu-se o habitual ritual de percorrer o corredor vendada e sentar-se na salinha. Retirei-lhe o lenço preto que a vendava e deixe-o cair sobre a mesa na sua frente.
- Então D. Mª de Fátima o que se passou ontem?
- Perdoe-me padre, excedi-me. Perdoe-me. Já tem a penitência?
Directa, como sempre, já se preparava para uma dura penitencia.
- Já lá vamos a isso mas mais importante é perceber o que lhe perturba o espírito.
A pergunta era incómoda. Até parecia que teria sido demasiado incomoda. Estava renitente, não me olhava nos olhos, hesitava muito e as suas mãos não paravam de mexer no lenço preto que a vendou e estava sobre a mesa.
- Sabe Sr. Padre...
- Diga D. Mª de Fátima
- Sabe... Tem muitas visitas... Ainda mais que o Padre Gregório...
- Visitas? Refere-se ao meu rebanho? Às senhoras e moças que recorrem à minha ajuda espiritual?
- Não... Sim...
- Então em que ficamos? Vê algum mal nisso?
Estava em completo desconforto, de cara virada para trás evitando a todo o custo o meu olhar. Apertava o lenço preto com tanta força que sobressaíam suas veias.
Quase fora do o seu controlo empurra o lenço preto para perto de mim.
- Por favor, padre - Disse num impulso.
Colocou-se de costas e virou a cara para cima. Queria ser vendada. Não me conseguia dizer o que lhe estava entalado olhando para mim.
Percebi a mensagem e não lhe perguntei mais nada. Vendei-a suavemente. Percebi que ficou muito mais confortável e descansada. De alguma forma a venda a deixa mais avontade.
Virou-se lentamente para mim e suspirou.
- Que me quer dizer?
- Sabe, no tempo do padre Gregório, algumas das moças que aqui vinham faziam-lhe "favores", sabe...
- Favores?!
- Sim, favores que não eram dignos de uma moça de respeito. "Agrados"... E com tantas a cá virem... Mas eu sei que o Sr. Padre é de respeito, não tenho dúvidas, perdoe-me, perdoe-me...
- Vejo que se arrepende. Perdoo-a, claro. Fique calma que nada se passa. Fica já a saber que pode falar comigo em vez de se exaltar e falar mal de todas. Vou lhe dar novamente a bíblia e o terço e deixo a venda, pode ser?
- Obrigada.
Rezou pacificamente por alguns minutos enquanto eu olhava indiscriminadamente para aqueles dois lenços o da cabeça e a venda.
Afastei a bíblia e o terço levantei-a, ainda meia perdida com tudo (e vendada), conduzi-a ao exterior e retirei-lhe o lenço dos olhos.
- E a penitencia sr. Padre?
- Já foi cumprida com o se arrependimento. Vá em paz.
Sem palavras esboçou um sorriso aliviado. Desatou o lenço da cabeça, trazendo à luz, o seu carrapito perfeitamente enrolado, amarrou-o na carteira e despediu-se.
- Até amanhã, se Deus quiser.
...Mas a informação dos "favores" agradou-me! Não devia mas pecadores somos todos.
Passavam os dias. Era difícil e ao mesmo tempo maravilhoso viver numa aldeia onde tantas mulheres usam lenços. Também Adão foi tentado. E o resultado não foi o melhor...
Aumentava a confiança, aumentavam as visitas, aumentava a minha tentação.
Percebia quais é que gostavam de fazer o corredor vendadas, as que ficavam desconfortáveis. Já desconfiava quem seriam as que fariam os tais favores. Uma em particular: Conceição, Mª da Conceição, uma trintona ainda solteira!!!
A regularidade das suas visitas crescia. Aumentava a tentação.
Vinha sempre com um decote condenado por D. Mª de Fátima, embora normalmente com um lenço grande no pescoço, com duas voltas e nó na frente, que cobria a maior parte dos seios mas ainda deixava um espacinho para a imaginação.
Na cabeça não gostava de lenços grandes nem atados debaixo do queixo.
Perguntou-me, um dia, para a visita a minha casa, se podia atar o seu lenço da cabeça atrás da nuca.
Indiquei-lhe que o lenço na cabeça é apenas um símbolo de respeito e modéstia numa casa de Deus. Não precisa ter uma regra rígida. O que importa é mesmo o significado. Que o pode usar como se sentir mais confortável. É importante que se sentisse bem com Deus e consigo.
- Acha que me fica bem - perguntou
- ...Sim - retorqui hesitante a inesperada pergunta
Adoro ver... E tento a todo o custo disfarçar.
A partir desta altura ficara mais a vontade comigo. E de alguma forma eu com ela mesmo tendo sido avisado...
Um dia surgiu no alpendre da casa, com o decote menos coberto que o costume. Trazia um lenço no pescoço, um pouco mais pequeno que o habitual, de nó à frente, denunciando parte do seu peito.
- Posso conversar consigo Sr. Padre?
- Claro, Conceição, quer entrar?
- Sim, obrigada.
Sentou-se no banquinho da entrada para se preparar como habitualmente.
Com muito cuidado retirou e desdobrou o lenço do pescoço. Alisou-o e dobrou-o em triângulo. Colocou a cabeça para trás encostando o lenço na testa e atando atrás da nuca. Ajeitou os cabelos para fora e endireitou o lenço, em jeito de acabamento. O padrão de inocentes e pequenas flores amarelas sobre fundo preto, de algodão, contrastava com a sedução que este lenço assim me provoca.
Retirou da sua carteira o lenço para venda. Preto, também de algodão e também relativamente pequeno. Dobrou-o gentilmente e colocou sobre a minha mão.
- Cubra os meus olhos padre. Há qualquer coisa nisso que gosto...
Sempre em silêncio assim o fiz. A fronteira entre o seguro e o perigoso desvanece.
Ela percebe que há qualquer coisa neste ritual que me perturbava. Não imagina que serão os lenços. Acredita ser a sensualidade do movimente e da submissão à venda.
Deu-me o braço para a conduzir, pelo corredor, à salinha. Fazia subtis carícias no meu braço enquanto avançávamos lentamente. Segurou-me nas mãos enquanto a sentava na cadeira.
O seu corpo transbordava sensualidade. Os seus movimentos a sua respiração.
Quando lhe passei a mão na cabeça para retirar a venda disse-me:
- Não, padre. Não me tire ainda. Preciso ficar vendada que tenho tido muita tentação.
A venda não parecia que a ia acalmar e tê-la assim vendada e nesse estado libidinoso, na minha frente também não me ajuda nada. Estávamos ambos sentados nas cadeiras junto à mesa
- Padre posso me ajoelhar? Preciso de compreensão.
- Sim, minha filha. E diz-me o que te vai na alma
Ajoelhou-se mesmo à minha frente, colocou os cotovelos sobre os meus joelhos, juntou as mãos e pediu-me para se confessar neste ambiente de total submissão.
Pus-lhe a mão na cabeça fazendo suaves carícias sobre o lenço do cabelo, sobre o lenço da venda e sobre os seus cabelos escorridos.
- Padre... Eu pequei. Repetidamente. Tenho 32 anos, tenho necessidades que não satisfaço. Quando dou por mim já estou a sair do sério. Sinto-me suja... perdida... só...
- Minha filha, apenas te desviaste do caminho. Mas esse caminho está perto e Deus te ajudará a encontrar. Mas quais foram os pecados que te tormentam?
- Os pecados da carne... Com o Padre Gregório.
Um silêncio pairou, durantes alguns segundos, após esta notícia que não era, de todo, inesperada.
- E está arrependida?
- Estou. Muito. Mas as minhas necessidades ainda me consomem. Foram muitas vezes, não queria ser assim mas voltava sempre.
As suas mãos desciam sobre as minhas pernas... Estava a analisar o terreno a tentar chegar a zonas proibidas. Segurei-lhe docemente nas mãos.
- Conceição, deixe-me ajuda-la a encontrar o caminho. Não se perca mais.
É um suplício resistir. É a mais dura prova.
Sentei-a na cadeira. Retirei-lhe a venda que me parecia que a estava a deixar mais descontrolada e esta visão a mim descontrolava certamente muito mais.
- Vamos pedir ajuda a Deus. Quer rezar comigo, Conceição?
- Quero.
Juntos rezamos num suave murmúrio, durante mais de uma hora, num clima de paz sob a ténue luz que escapava entre as cortinas. Eu citava as oraçoes e Conceição repetia.
- Por hora chega. Confie em mim e na minha ajuda. descanse em casa e volte amanhã.
Suavemente voltei a atar o lenço sobre os os seus olhos. Quando se levantou as pernas tremiam. Esperei uns segundos para estabilizar a atravessamos o curto corredor da minha casa até ao hall. Retirei-lhe o lenço que a vendava e despedimo-nos.
- Até amanhã Conceição. Vá com deus.
- Até amanhã Padre. Obrigada. Obrigada...
Estas visitas repetiam-se quase diariamente. Esporadicamente tinha que deter discretas tentativas de avanços da Conceição, da mesma doce forma, como o fiz da primeira vez. Situações que se tornavam cada vez mais raras.
Para Conceição tornava-se cada vez mais fácil lidar com esta ajuda. Ironicamente para mim era cada vez mais dificil.
Este ritual, que levei D. Mª de Fátima a inventar, de usar lenços na cabeça quando entram na minha casa e de percorrer o corredor vendadas está a deixar-me louco. Todas elas ficam tão sensuais, tão tendadoras que não está fácil resistir. Principalmente a Conceição.
O que, inicialmente, me pareceu muito interessante, divertido e sensual, transformou-se num brutal esforço de resistência à sedução.
Até na missa ao domingo. Todas de lenço na cabeça. Até me custa ler os salmos.
Mesmo na rua quase todas o usam no pescoço ou cabeça. Isto é demasiado forte para um homem de Deus...
Passam os dias e a rotina mantêm-se. Conceição está mais moderada que até Dª Mª de Fátima já notou. E esta já não se incomoda com o grande numero de visitas que tenho em casa.
A verdade é que tenho sempre o tempo ocupado. Já mal posso ficar sentado na praça da aldeia a ver as mulheres que tão bem usam seus lenços.
Mas a fantasia continuou quando Dª Mª de Fátima veio falar da procissão de Nª Senhora que se realiza de acordo com a tradição da aldeia.
- Bom dia Sr. Padre
- Bom dia Dª Mª de Fátima
- Vinha lhe falar da procissão que Nª Senhora que está para breve.
- Já vi no calendário que sim.
- Há algo a definir que necessite da minha ajuda?
- Para além de confirmar a hora da saída da igreja vinha lhe fazer uma pergunta.
- Faça favor
- As moças não gostam muito do traje das casadoiras e como o Sr. Padre é mais compreensivo queria saber se tem alguma sugestão.
- Casadoiras?!
- Sim, é a tradição. São as raparigas adultas e solteiras que seguem atrás da Nª Senhora, carregada pelos homens, para que sejam abençoadas com um bom casamento. Todas elas tinham de ir vestidas de branco.
- Parece-me, de facto, excessivo (outra oportunidade para a manipular). Bastaria ser algo mais simbólico. O que acha?
- Concordo, desde que não seja nada vistoso ou imoral. - disse-me no seu estilo habitual
- Algo branco que demonstre modestia, devoção e pureza. - sugeri a ver se pega
- Como um lenço branco na cabeça? - BINGO! É tão manipulavel!
- Dª Mª de Fátima tem uma excelente capacidade de gerir estas situações - Elogiei de forma interesseira.
- Então está decidido. Desfilam com a sua roupa e o lenço branco na cabeça como símbolo. (Adoro estas conversas)
- Elas vão ficar contentes Sr. Padre. Tenho agora de ir.
- Vá com deus.
Estava uma manhã cheia de sol. A procissão saia do adro da igreja. Dª Mª de Fátima orgulhosa da sua organização. Na virgem brilhavam multiplos reflexos de sol. Mais ainda brilhavam as casadoiras com os seus lenços brancos no cabelo, realçandos os seus olhos nas suas faces. Conceição parecia brilhar ainda mais que todas. O lenço branco, médio, em triângulo, atado atrás da nuca, com as pontas a descair pelo ombro esquerdo. Nas suas feições ainda era mais notável o realçe que o lenço lhe dava.
Não era fácil evitar olhar para trás. Não me podia denunciar.
Mas nas populares também se viam muito lenços. No pescoço, na cintura, na cabeça, em triângulo ou em fita. Um colírio para meus olhos.
- Correu mesmo bem, com este tempo tão bom - Disse-me no final Dª Mª de Fátima
- Pareceu-me bem que sim. Fez um excelente trabalho Dª Mª de Fátima. E pareciam-me felizes as casadoiras. Foi excelente a sua ideia, como sempre.
- Obrigada. Sei que elas gostaram - Respondeu orgulhosa.
Ao chegar a casa estave Conceição à espera ainda com a roupa do desfile, ou seja ou seu lindo lenço branco no cabelo.
- Sr. Padre. Venho agradecer por todas. Gostamos muito da procissão.
- Fico feliz. (Sinto-me a fraquejar). Quer entrar?
- Obrigada, sim.
Preparou-se imediactamente para o ritual de entrada. Virou-se Entregou-me o lenço preto e virou-se de costas preparada para receber a venda. Muito lentamente aproximei o lenço dos seus olhes deixando-me encostado a ela. Atei-o com toda a suavidade gozando cada segundo.
Dei-lhe meu braço que segurou com as duas mãos.
Cheguei à salinha, descalcei-me e não a sentei. Deixei-a em pé sem lhe tirar a venda. Em silêncio contornei-a, olhando-a intensamente.
- Padre!... - Balbuciou.
- Shhhh, não digas nada. - Murmurei
Estava linda, com o seu lenço no cabelo e vestido rosa claro com botões grandes e brancos nas costas, perdida com a venda, sensível com a curiosidade, excitada com a minha proximidade.
- Eu sempre quis....
- Shhhh.... - Insisti
Abri a caixa com as hóstias.
Conceição virava-se para qualquer ruído tentando perceber o que eu fazia. Embora não pudesse ver ouvia atentamente. Tudo despertava mais os seus sentidos e acordava o seu corpo.
Parei encostado nas suas costas. Sentia o meu respirar no seu pescoço.
Desapertei o botão do topo.
- Ahhh... - suspirou quase inocentemente
Desapertei o segundo... o terceiro... o quarto e último...
Muito suave e lentamente abri o vestido pelos ombros.
Deixei-o cair pelo seu corpo abaixo.
- Ahhh... - suspirou novamente
Deixei cair a batina...
Virou-se para perceber se era mesmo o que pensava, esticando os braços para me tocar, sem sucesso por me ter afastado. Vendada não me conseguia localizar. Ainda a deixava mais curiosa.
Peguei em três hóstias.
- Segura com a ponta do polegar e indicador - disse-lhe colocando uma hóstia na mão direita
- Segura da mesma forma - disse-lhe colocando uma hóstia na mão esquerda
- Segura com os lábios sem morder - disse após colocar a última hóstia na sua boca
- As hóstias são o relógio que Deus controla. Enquanto nenhuma partir ou cair ficarás nas minhas mãos.
Era uma inolvidável imagem de Conceição: na sua roupa íntima, de lenço banco na cabeça e lenço preto a vendar os olhos, excitada, à minha espera com as hóstias nas pontas dos dedos e outra nos lábios que a deixavam num imóvel silêncio.
As minhas mãos percorriam levemente o seu corpo, o meu rosto encostado ao seu rosto, as respirações sincronizadas.
Posso estar a passar o ponto sem retorno. Agora não quero pensar. Agora quero ser apenas um comum ser humano.
Os dedos seguem do pescoço descendo as costas pela coluna até à cintura, dão a volta até ao umbigo, sobem ao seu voluptuoso vale entre os seios...
- Ahhhiiiiii... - disse baixinho em tom de desespero.
Quase em simultâneo partia-se a hóstia que segurava nos lábios e deixava cair as hóstias seguras pelas pontas dos dedos.
Seria mensagem divina ou um mero acaso que já sabia que aconteceria.
Gelamos naquele instante.
Demoradamente vesti a batina e compus-lhe o vestido. Calcei-me, coloquei seu braço sobre o meu e levei-a até ao hall de entrada.
Carinhosamente desatei o lenço que a vendava e o lenço da cabeça, dobrei-o em fita e atei no seu pescoço como se estivesse a guardar os seus seios que podiam ter sido meus.
Não pronunciamos palavra.
Saiu e olhou para trás apenas uma vez.
No dia seguinte, acordei ainda o sol não tinha nascido. Poucas horas dormidas para deixar a casa totalmente arrumada e malas feitas.
Sem perceber como D. Mª de Fátima já se mostrava no alpendre. De lenço castanho na cabeça aparentando ter sido atado à pressa sob o queixo. Não parecia o seu rigor habitual.
- Bom dia D. Mª de Fátima.
- Bom dia Padre. Precisava falar consigo - Disse certeira já com a mão na carteira a retirar o lenço para a passagem na intimidade da minha casa.
- Não é necessário - Afirmei
D. Mª de Fátima percebeu logo o que se passava. Não ser necessária venda para ir à salinha significava que eu já não moraria ali.
Seguimos em silêncio e sentamo-nos
- Porquê, Sr. Padre - inquiriu tristemente
- Necessito reflectir sobre a minha vocação. Sem demoras. Vou solicitar ao bispo um substituto por, pelo menos, um mês. Não sei se poderei voltar.
Beijou-me a mão pendindo a benção.
- Que Deus a abençoe. Até breve D. Mª de Fátima.
- Que Deus o acompanhe Sr. Padre.
QT
E de manhã, bem de manhã, lá vinha ela. A mesma postura mas de passo mais lento, mais prudente. Já vinha de lenço na cabeça. E novamente muito bem posto, muito Grace Kelly.
- Bom dia D. Mª de Fátima - cumprimentei condescendente.
- Bom dia, Sr. Padre. - retorquiu cautelosamente
Cumpriu-se o habitual ritual de percorrer o corredor vendada e sentar-se na salinha. Retirei-lhe o lenço preto que a vendava e deixe-o cair sobre a mesa na sua frente.
- Então D. Mª de Fátima o que se passou ontem?
- Perdoe-me padre, excedi-me. Perdoe-me. Já tem a penitência?
Directa, como sempre, já se preparava para uma dura penitencia.
- Já lá vamos a isso mas mais importante é perceber o que lhe perturba o espírito.
A pergunta era incómoda. Até parecia que teria sido demasiado incomoda. Estava renitente, não me olhava nos olhos, hesitava muito e as suas mãos não paravam de mexer no lenço preto que a vendou e estava sobre a mesa.
- Sabe Sr. Padre...
- Diga D. Mª de Fátima
- Sabe... Tem muitas visitas... Ainda mais que o Padre Gregório...
- Visitas? Refere-se ao meu rebanho? Às senhoras e moças que recorrem à minha ajuda espiritual?
- Não... Sim...
- Então em que ficamos? Vê algum mal nisso?
Estava em completo desconforto, de cara virada para trás evitando a todo o custo o meu olhar. Apertava o lenço preto com tanta força que sobressaíam suas veias.
Quase fora do o seu controlo empurra o lenço preto para perto de mim.
- Por favor, padre - Disse num impulso.
Colocou-se de costas e virou a cara para cima. Queria ser vendada. Não me conseguia dizer o que lhe estava entalado olhando para mim.
Percebi a mensagem e não lhe perguntei mais nada. Vendei-a suavemente. Percebi que ficou muito mais confortável e descansada. De alguma forma a venda a deixa mais avontade.
Virou-se lentamente para mim e suspirou.
- Que me quer dizer?
- Sabe, no tempo do padre Gregório, algumas das moças que aqui vinham faziam-lhe "favores", sabe...
- Favores?!
- Sim, favores que não eram dignos de uma moça de respeito. "Agrados"... E com tantas a cá virem... Mas eu sei que o Sr. Padre é de respeito, não tenho dúvidas, perdoe-me, perdoe-me...
- Vejo que se arrepende. Perdoo-a, claro. Fique calma que nada se passa. Fica já a saber que pode falar comigo em vez de se exaltar e falar mal de todas. Vou lhe dar novamente a bíblia e o terço e deixo a venda, pode ser?
- Obrigada.
Rezou pacificamente por alguns minutos enquanto eu olhava indiscriminadamente para aqueles dois lenços o da cabeça e a venda.
Afastei a bíblia e o terço levantei-a, ainda meia perdida com tudo (e vendada), conduzi-a ao exterior e retirei-lhe o lenço dos olhos.
- E a penitencia sr. Padre?
- Já foi cumprida com o se arrependimento. Vá em paz.
Sem palavras esboçou um sorriso aliviado. Desatou o lenço da cabeça, trazendo à luz, o seu carrapito perfeitamente enrolado, amarrou-o na carteira e despediu-se.
- Até amanhã, se Deus quiser.
...Mas a informação dos "favores" agradou-me! Não devia mas pecadores somos todos.
Passavam os dias. Era difícil e ao mesmo tempo maravilhoso viver numa aldeia onde tantas mulheres usam lenços. Também Adão foi tentado. E o resultado não foi o melhor...
Aumentava a confiança, aumentavam as visitas, aumentava a minha tentação.
Percebia quais é que gostavam de fazer o corredor vendadas, as que ficavam desconfortáveis. Já desconfiava quem seriam as que fariam os tais favores. Uma em particular: Conceição, Mª da Conceição, uma trintona ainda solteira!!!
A regularidade das suas visitas crescia. Aumentava a tentação.
Vinha sempre com um decote condenado por D. Mª de Fátima, embora normalmente com um lenço grande no pescoço, com duas voltas e nó na frente, que cobria a maior parte dos seios mas ainda deixava um espacinho para a imaginação.
Na cabeça não gostava de lenços grandes nem atados debaixo do queixo.
Perguntou-me, um dia, para a visita a minha casa, se podia atar o seu lenço da cabeça atrás da nuca.
Indiquei-lhe que o lenço na cabeça é apenas um símbolo de respeito e modéstia numa casa de Deus. Não precisa ter uma regra rígida. O que importa é mesmo o significado. Que o pode usar como se sentir mais confortável. É importante que se sentisse bem com Deus e consigo.
- Acha que me fica bem - perguntou
- ...Sim - retorqui hesitante a inesperada pergunta
Adoro ver... E tento a todo o custo disfarçar.
A partir desta altura ficara mais a vontade comigo. E de alguma forma eu com ela mesmo tendo sido avisado...
Um dia surgiu no alpendre da casa, com o decote menos coberto que o costume. Trazia um lenço no pescoço, um pouco mais pequeno que o habitual, de nó à frente, denunciando parte do seu peito.
- Posso conversar consigo Sr. Padre?
- Claro, Conceição, quer entrar?
- Sim, obrigada.
Sentou-se no banquinho da entrada para se preparar como habitualmente.
Com muito cuidado retirou e desdobrou o lenço do pescoço. Alisou-o e dobrou-o em triângulo. Colocou a cabeça para trás encostando o lenço na testa e atando atrás da nuca. Ajeitou os cabelos para fora e endireitou o lenço, em jeito de acabamento. O padrão de inocentes e pequenas flores amarelas sobre fundo preto, de algodão, contrastava com a sedução que este lenço assim me provoca.
Retirou da sua carteira o lenço para venda. Preto, também de algodão e também relativamente pequeno. Dobrou-o gentilmente e colocou sobre a minha mão.
- Cubra os meus olhos padre. Há qualquer coisa nisso que gosto...
Sempre em silêncio assim o fiz. A fronteira entre o seguro e o perigoso desvanece.
Ela percebe que há qualquer coisa neste ritual que me perturbava. Não imagina que serão os lenços. Acredita ser a sensualidade do movimente e da submissão à venda.
Deu-me o braço para a conduzir, pelo corredor, à salinha. Fazia subtis carícias no meu braço enquanto avançávamos lentamente. Segurou-me nas mãos enquanto a sentava na cadeira.
O seu corpo transbordava sensualidade. Os seus movimentos a sua respiração.
Quando lhe passei a mão na cabeça para retirar a venda disse-me:
- Não, padre. Não me tire ainda. Preciso ficar vendada que tenho tido muita tentação.
A venda não parecia que a ia acalmar e tê-la assim vendada e nesse estado libidinoso, na minha frente também não me ajuda nada. Estávamos ambos sentados nas cadeiras junto à mesa
- Padre posso me ajoelhar? Preciso de compreensão.
- Sim, minha filha. E diz-me o que te vai na alma
Ajoelhou-se mesmo à minha frente, colocou os cotovelos sobre os meus joelhos, juntou as mãos e pediu-me para se confessar neste ambiente de total submissão.
Pus-lhe a mão na cabeça fazendo suaves carícias sobre o lenço do cabelo, sobre o lenço da venda e sobre os seus cabelos escorridos.
- Padre... Eu pequei. Repetidamente. Tenho 32 anos, tenho necessidades que não satisfaço. Quando dou por mim já estou a sair do sério. Sinto-me suja... perdida... só...
- Minha filha, apenas te desviaste do caminho. Mas esse caminho está perto e Deus te ajudará a encontrar. Mas quais foram os pecados que te tormentam?
- Os pecados da carne... Com o Padre Gregório.
Um silêncio pairou, durantes alguns segundos, após esta notícia que não era, de todo, inesperada.
- E está arrependida?
- Estou. Muito. Mas as minhas necessidades ainda me consomem. Foram muitas vezes, não queria ser assim mas voltava sempre.
As suas mãos desciam sobre as minhas pernas... Estava a analisar o terreno a tentar chegar a zonas proibidas. Segurei-lhe docemente nas mãos.
- Conceição, deixe-me ajuda-la a encontrar o caminho. Não se perca mais.
É um suplício resistir. É a mais dura prova.
Sentei-a na cadeira. Retirei-lhe a venda que me parecia que a estava a deixar mais descontrolada e esta visão a mim descontrolava certamente muito mais.
- Vamos pedir ajuda a Deus. Quer rezar comigo, Conceição?
- Quero.
Juntos rezamos num suave murmúrio, durante mais de uma hora, num clima de paz sob a ténue luz que escapava entre as cortinas. Eu citava as oraçoes e Conceição repetia.
- Por hora chega. Confie em mim e na minha ajuda. descanse em casa e volte amanhã.
Suavemente voltei a atar o lenço sobre os os seus olhos. Quando se levantou as pernas tremiam. Esperei uns segundos para estabilizar a atravessamos o curto corredor da minha casa até ao hall. Retirei-lhe o lenço que a vendava e despedimo-nos.
- Até amanhã Conceição. Vá com deus.
- Até amanhã Padre. Obrigada. Obrigada...
Estas visitas repetiam-se quase diariamente. Esporadicamente tinha que deter discretas tentativas de avanços da Conceição, da mesma doce forma, como o fiz da primeira vez. Situações que se tornavam cada vez mais raras.
Para Conceição tornava-se cada vez mais fácil lidar com esta ajuda. Ironicamente para mim era cada vez mais dificil.
Este ritual, que levei D. Mª de Fátima a inventar, de usar lenços na cabeça quando entram na minha casa e de percorrer o corredor vendadas está a deixar-me louco. Todas elas ficam tão sensuais, tão tendadoras que não está fácil resistir. Principalmente a Conceição.
O que, inicialmente, me pareceu muito interessante, divertido e sensual, transformou-se num brutal esforço de resistência à sedução.
Até na missa ao domingo. Todas de lenço na cabeça. Até me custa ler os salmos.
Mesmo na rua quase todas o usam no pescoço ou cabeça. Isto é demasiado forte para um homem de Deus...
Passam os dias e a rotina mantêm-se. Conceição está mais moderada que até Dª Mª de Fátima já notou. E esta já não se incomoda com o grande numero de visitas que tenho em casa.
A verdade é que tenho sempre o tempo ocupado. Já mal posso ficar sentado na praça da aldeia a ver as mulheres que tão bem usam seus lenços.
Mas a fantasia continuou quando Dª Mª de Fátima veio falar da procissão de Nª Senhora que se realiza de acordo com a tradição da aldeia.
- Bom dia Sr. Padre
- Bom dia Dª Mª de Fátima
- Vinha lhe falar da procissão que Nª Senhora que está para breve.
- Já vi no calendário que sim.
- Há algo a definir que necessite da minha ajuda?
- Para além de confirmar a hora da saída da igreja vinha lhe fazer uma pergunta.
- Faça favor
- As moças não gostam muito do traje das casadoiras e como o Sr. Padre é mais compreensivo queria saber se tem alguma sugestão.
- Casadoiras?!
- Sim, é a tradição. São as raparigas adultas e solteiras que seguem atrás da Nª Senhora, carregada pelos homens, para que sejam abençoadas com um bom casamento. Todas elas tinham de ir vestidas de branco.
- Parece-me, de facto, excessivo (outra oportunidade para a manipular). Bastaria ser algo mais simbólico. O que acha?
- Concordo, desde que não seja nada vistoso ou imoral. - disse-me no seu estilo habitual
- Algo branco que demonstre modestia, devoção e pureza. - sugeri a ver se pega
- Como um lenço branco na cabeça? - BINGO! É tão manipulavel!
- Dª Mª de Fátima tem uma excelente capacidade de gerir estas situações - Elogiei de forma interesseira.
- Então está decidido. Desfilam com a sua roupa e o lenço branco na cabeça como símbolo. (Adoro estas conversas)
- Elas vão ficar contentes Sr. Padre. Tenho agora de ir.
- Vá com deus.
Estava uma manhã cheia de sol. A procissão saia do adro da igreja. Dª Mª de Fátima orgulhosa da sua organização. Na virgem brilhavam multiplos reflexos de sol. Mais ainda brilhavam as casadoiras com os seus lenços brancos no cabelo, realçandos os seus olhos nas suas faces. Conceição parecia brilhar ainda mais que todas. O lenço branco, médio, em triângulo, atado atrás da nuca, com as pontas a descair pelo ombro esquerdo. Nas suas feições ainda era mais notável o realçe que o lenço lhe dava.
Não era fácil evitar olhar para trás. Não me podia denunciar.
Mas nas populares também se viam muito lenços. No pescoço, na cintura, na cabeça, em triângulo ou em fita. Um colírio para meus olhos.
- Correu mesmo bem, com este tempo tão bom - Disse-me no final Dª Mª de Fátima
- Pareceu-me bem que sim. Fez um excelente trabalho Dª Mª de Fátima. E pareciam-me felizes as casadoiras. Foi excelente a sua ideia, como sempre.
- Obrigada. Sei que elas gostaram - Respondeu orgulhosa.
Ao chegar a casa estave Conceição à espera ainda com a roupa do desfile, ou seja ou seu lindo lenço branco no cabelo.
- Sr. Padre. Venho agradecer por todas. Gostamos muito da procissão.
- Fico feliz. (Sinto-me a fraquejar). Quer entrar?
- Obrigada, sim.
Preparou-se imediactamente para o ritual de entrada. Virou-se Entregou-me o lenço preto e virou-se de costas preparada para receber a venda. Muito lentamente aproximei o lenço dos seus olhes deixando-me encostado a ela. Atei-o com toda a suavidade gozando cada segundo.
Dei-lhe meu braço que segurou com as duas mãos.
Cheguei à salinha, descalcei-me e não a sentei. Deixei-a em pé sem lhe tirar a venda. Em silêncio contornei-a, olhando-a intensamente.
- Padre!... - Balbuciou.
- Shhhh, não digas nada. - Murmurei
Estava linda, com o seu lenço no cabelo e vestido rosa claro com botões grandes e brancos nas costas, perdida com a venda, sensível com a curiosidade, excitada com a minha proximidade.
- Eu sempre quis....
- Shhhh.... - Insisti
Abri a caixa com as hóstias.
Conceição virava-se para qualquer ruído tentando perceber o que eu fazia. Embora não pudesse ver ouvia atentamente. Tudo despertava mais os seus sentidos e acordava o seu corpo.
Parei encostado nas suas costas. Sentia o meu respirar no seu pescoço.
Desapertei o botão do topo.
- Ahhh... - suspirou quase inocentemente
Desapertei o segundo... o terceiro... o quarto e último...
Muito suave e lentamente abri o vestido pelos ombros.
Deixei-o cair pelo seu corpo abaixo.
- Ahhh... - suspirou novamente
Deixei cair a batina...
Virou-se para perceber se era mesmo o que pensava, esticando os braços para me tocar, sem sucesso por me ter afastado. Vendada não me conseguia localizar. Ainda a deixava mais curiosa.
Peguei em três hóstias.
- Segura com a ponta do polegar e indicador - disse-lhe colocando uma hóstia na mão direita
- Segura da mesma forma - disse-lhe colocando uma hóstia na mão esquerda
- Segura com os lábios sem morder - disse após colocar a última hóstia na sua boca
- As hóstias são o relógio que Deus controla. Enquanto nenhuma partir ou cair ficarás nas minhas mãos.
Era uma inolvidável imagem de Conceição: na sua roupa íntima, de lenço banco na cabeça e lenço preto a vendar os olhos, excitada, à minha espera com as hóstias nas pontas dos dedos e outra nos lábios que a deixavam num imóvel silêncio.
As minhas mãos percorriam levemente o seu corpo, o meu rosto encostado ao seu rosto, as respirações sincronizadas.
Posso estar a passar o ponto sem retorno. Agora não quero pensar. Agora quero ser apenas um comum ser humano.
Os dedos seguem do pescoço descendo as costas pela coluna até à cintura, dão a volta até ao umbigo, sobem ao seu voluptuoso vale entre os seios...
- Ahhhiiiiii... - disse baixinho em tom de desespero.
Quase em simultâneo partia-se a hóstia que segurava nos lábios e deixava cair as hóstias seguras pelas pontas dos dedos.
Seria mensagem divina ou um mero acaso que já sabia que aconteceria.
Gelamos naquele instante.
Demoradamente vesti a batina e compus-lhe o vestido. Calcei-me, coloquei seu braço sobre o meu e levei-a até ao hall de entrada.
Carinhosamente desatei o lenço que a vendava e o lenço da cabeça, dobrei-o em fita e atei no seu pescoço como se estivesse a guardar os seus seios que podiam ter sido meus.
Não pronunciamos palavra.
Saiu e olhou para trás apenas uma vez.
No dia seguinte, acordei ainda o sol não tinha nascido. Poucas horas dormidas para deixar a casa totalmente arrumada e malas feitas.
Sem perceber como D. Mª de Fátima já se mostrava no alpendre. De lenço castanho na cabeça aparentando ter sido atado à pressa sob o queixo. Não parecia o seu rigor habitual.
- Bom dia D. Mª de Fátima.
- Bom dia Padre. Precisava falar consigo - Disse certeira já com a mão na carteira a retirar o lenço para a passagem na intimidade da minha casa.
- Não é necessário - Afirmei
D. Mª de Fátima percebeu logo o que se passava. Não ser necessária venda para ir à salinha significava que eu já não moraria ali.
Seguimos em silêncio e sentamo-nos
- Porquê, Sr. Padre - inquiriu tristemente
- Necessito reflectir sobre a minha vocação. Sem demoras. Vou solicitar ao bispo um substituto por, pelo menos, um mês. Não sei se poderei voltar.
Beijou-me a mão pendindo a benção.
- Que Deus a abençoe. Até breve D. Mª de Fátima.
- Que Deus o acompanhe Sr. Padre.
QT
Belo blog para todas as amantes de lenços como eu :) adorei. vou ver os vídeos que achei um mimo.
ResponderEliminarBeijinho
Que perdoem as leitoras e o autor pelo comentário um tanto quanto "carnal".Mas ocorre que hoje não estou em um dos meus dias mais racionais.Então,assim sendo,todo pecado me é permitido!
ResponderEliminarCom um padre desses e todos esses lenços e vendas,se fosse eu a Conceição,não tinha quem quebrasse ou derrubasse aquelas hóstias de minhas mãos ou boca!Grudava com cola,se preciso!
Agora tentando ser racional:O conto é ótimo,tanto quanto exitante,com um "quê" de sagrado e profano,mas nada vulgar!Simplesmente lindo!