I.
Neste momento ela não quer trovas sentimentais nem ternura de sorrisos.
Quer sentir, nele, todos os homens que a desejaram e que nunca a tiveram.
Quer que ele tenha vários rostos.
Quer que ele, ainda na sombra, lhe murmure “para tudo pressentires, melhor será nada vislumbrares” e lhe vende os olhos, devagar, muito devagar, com um lenço de seda vermelha.
Quer que a sofreguidão dele seja tão funda que lhe rasgue as meias brancas de costura e lhe dilacere o “body” rendilhado, da cor do marfim.
Quer que ele a agarre pelos flancos e a derrube sobre a colcha, amarrotando a alvura dos lençóis.
Quer sentir os joelhos no soalho e as mãos dele aprisionando-lhe os seios.
Quer permanecer de bruços, as mãos entrançadas, cativa do hálito dele e da rudeza da barba que desponta.
Ela, sob a sombra dele, seria grito no corpo dele.
Ele, seu dono e senhor, feito escravo de aprendê-la.
Assim ficará, exposta, muda de olhares ou palavras.
Calado o medo, subjugada a hesitação, iluminado o desejo de sulcar a inverdade de tantos dias silenciados, em que não (se) é.
II.
Mas ela sabe.
Que, depois de fruída a sua vulnerabilidade de fêmea, a inquietude permanecerá na sua pele.
Que as suas mãos fervem.
Que quer ver aquilo que ele deseje aos seus olhos ofertar.
Que vai vendar os olhos dele com o lenço de seda vermelha.
Que depois, com muita suavidade, abrirá a porta e guiá-lo-à, com zelos de mãe, pela pequena escada em caracol que conduz ao jardim e os presenteia com aromas das laranjas e suavidade da relva, onde - ela sabe - caminharão, descalços e nús, e deles será a água da fonte, o orvalho e o suor dos seus corpos.
Mais tarde vestir-se-ão de serenidade.
Depois de ela lhe beijar os olhos sobre a lisura do tecido e lhe beijar a pele dos ombros.
Depois de deitá-lo de lado, afagando-lhe os cabelos e unir-lhe os braços atrás das costas, e ser trepadeira no corpo dele, deslizando em direcção ao sul.
Ela demora-se, saborendo o corpo dele, mar de ambos, beijando-lhe o dorso e as ancas e repirando as pernas dele, velas que iça. Fecha os olhos em deleite, tão salina é aquela pele.
Por fim, afaga o rosto nesse mastro, que é dele. Para lá navegam as suas mãos e boca. Ali se perde, seus seios vagas, escondem e descobrem, em carícia, aquela torre, onde o prazer dele é excelência de tamanho, cor e seiva.
E quando a comoção da entrega se anuncia ela asperge a espuma, dele nascida, nos seus seios e deita-se ao lado dele, tomando-lhe o rosto nos seus braços de lua e trauteando uma melodia eterna - “Someone to watch over me” - muito baixinho, para que não seja macerado aquele descanso dele.
III
Mais tarde, quando ele erguer as pernas dela no conforto dos ombros dele, e lhe tocar a cintura e o corpo dela for bosque humedecido, ela gritará o nome dele, nada mais.
Porque apesar de lhe desconhecer o olhar, ela sabe que ambos foram trança de pele e alma em dueto de sintonia.
Que já escutou a alma dele, para lá dos corpos, em momentos de um bem querer tão puro que a culpa e o pecado se inocentam.
E que ao gritar o nome dele se sente feliz.
Ica
Neste momento ela não quer trovas sentimentais nem ternura de sorrisos.
Quer sentir, nele, todos os homens que a desejaram e que nunca a tiveram.
Quer que ele tenha vários rostos.
Quer que ele, ainda na sombra, lhe murmure “para tudo pressentires, melhor será nada vislumbrares” e lhe vende os olhos, devagar, muito devagar, com um lenço de seda vermelha.
Quer que a sofreguidão dele seja tão funda que lhe rasgue as meias brancas de costura e lhe dilacere o “body” rendilhado, da cor do marfim.
Quer que ele a agarre pelos flancos e a derrube sobre a colcha, amarrotando a alvura dos lençóis.
Quer sentir os joelhos no soalho e as mãos dele aprisionando-lhe os seios.
Quer permanecer de bruços, as mãos entrançadas, cativa do hálito dele e da rudeza da barba que desponta.
Ela, sob a sombra dele, seria grito no corpo dele.
Ele, seu dono e senhor, feito escravo de aprendê-la.
Assim ficará, exposta, muda de olhares ou palavras.
Calado o medo, subjugada a hesitação, iluminado o desejo de sulcar a inverdade de tantos dias silenciados, em que não (se) é.
II.
Mas ela sabe.
Que, depois de fruída a sua vulnerabilidade de fêmea, a inquietude permanecerá na sua pele.
Que as suas mãos fervem.
Que quer ver aquilo que ele deseje aos seus olhos ofertar.
Que vai vendar os olhos dele com o lenço de seda vermelha.
Que depois, com muita suavidade, abrirá a porta e guiá-lo-à, com zelos de mãe, pela pequena escada em caracol que conduz ao jardim e os presenteia com aromas das laranjas e suavidade da relva, onde - ela sabe - caminharão, descalços e nús, e deles será a água da fonte, o orvalho e o suor dos seus corpos.
Mais tarde vestir-se-ão de serenidade.
Depois de ela lhe beijar os olhos sobre a lisura do tecido e lhe beijar a pele dos ombros.
Depois de deitá-lo de lado, afagando-lhe os cabelos e unir-lhe os braços atrás das costas, e ser trepadeira no corpo dele, deslizando em direcção ao sul.
Ela demora-se, saborendo o corpo dele, mar de ambos, beijando-lhe o dorso e as ancas e repirando as pernas dele, velas que iça. Fecha os olhos em deleite, tão salina é aquela pele.
Por fim, afaga o rosto nesse mastro, que é dele. Para lá navegam as suas mãos e boca. Ali se perde, seus seios vagas, escondem e descobrem, em carícia, aquela torre, onde o prazer dele é excelência de tamanho, cor e seiva.
E quando a comoção da entrega se anuncia ela asperge a espuma, dele nascida, nos seus seios e deita-se ao lado dele, tomando-lhe o rosto nos seus braços de lua e trauteando uma melodia eterna - “Someone to watch over me” - muito baixinho, para que não seja macerado aquele descanso dele.
III
Mais tarde, quando ele erguer as pernas dela no conforto dos ombros dele, e lhe tocar a cintura e o corpo dela for bosque humedecido, ela gritará o nome dele, nada mais.
Porque apesar de lhe desconhecer o olhar, ela sabe que ambos foram trança de pele e alma em dueto de sintonia.
Que já escutou a alma dele, para lá dos corpos, em momentos de um bem querer tão puro que a culpa e o pecado se inocentam.
E que ao gritar o nome dele se sente feliz.
Ica
Que maravilha!Uma mulher profundamente conhecedora de seu corpo e de seus desejos.
ResponderEliminar...“para tudo pressentires, melhor será nada vislumbrares"!É perfeito!