Tinha 21 anos, estava a meio do meu curso de medicina e necessitava de um part-time que me permitisse ter um rendimento que suportasse os estudos. Após varias entrevistas e tentativas de encontrar o desejado part-time fiz uma que foi francamente invulgar.
Logo à partida, para além do currículo detalhando actividades desportivas, artísticas e outras que tivesse, era pedido que mostrasse fotos dessas actividades.
Descrevi com detalhe as todas actividades. Realcei a criatividade e inclui fotos que, sem saber que me beneficiariam, me mostravam a correr em equipamento desportivo e com lenço em fita ou à pirata, a segurar o meu cabelo, a jardinar de jardineiras e lenço à camponesa na cabeça e até a fotos do anterior part-time de portaria com o lenço da farda ao pescoço.
Este era o part-time ideal: 3 horas às terças e quintas e 6 horas sábados à tarde. Salário imensamente generoso.
Cheguei à mansão onde seria a entrevista, com ar casual mas bem arrumadinha com um lenço rosa no pescoço a complementar a minha blusa de alças.
Rigorosamente à hora marcada chamaram-me. Atrás de uma grande mesa estava uma senhora que percorria avidamente as páginas do meu currículo.
- A Sra. Lisa tem um currículo rico. Tem educação, é muito desportiva, toca piano e viola. Vamos ver se tem o resto. Sabe qual será a sua função?
- Acompanhar um adolescente como indicava no anúncio?
- Sim, Guilherme Maria de 15 anos. Mimado e exigente. E com muitas particularidades como virá a perceber. Tem de ter muito poder de encaixe e não se intimidar. Por isso tem um salário à altura destas exigências. É como uma babysitter de adolescente especial.
- Acredito estar preparada e ter criatividade para encontrar soluções para tudo o que for necessário. Não me intimido.
- Gosto da sua confiança. Gostei também das suas fotos. Vejo que sabe usar lenços que lhe dão boa aparência como o que está a usar. Mantenha essa elegância.
- Obrigada
Foi a primeira de várias referências aos lenços. Mais viriam. Como sempre usei com gosto não me causou qualquer desconforto.
- Caso seja escolhida as funções serão de acompanhar todas as actividades ou jogos que o menino Guilherme Maria deseje. Por mais invulgares que sejam. Ele necessita de atenção incondicional. Terá à sua disposição 10000€ de plafond para comprar roupas e acessórios que necessite. Tudo o que comprar será reembolsado, em dobro, até ao valor estipulado. Já lhe forneço a lista do básico mas com certeza surgirão outras à medida da imaginação do menino. Tem alguma coisa a dizer a isto?
- Apenas que me agrada a ideia de guarda-roupa e que terei todo o gosto em adquirir.
- Excelente. Amanhã terá uma resposta. - retorquiu entregando-me um envelope com a lista de guarda-roupa.
Apenas em casa é que abri o envelope. Algo curiosa para saber o conteúdo desta mística lista.
Começava por roupas comuns como calças de ganga, saias, blusas, vestidos, tops, alguns equipamentos desportivos como fatos de treino, calções, t-shirts, ténis, alguns acessórios como chapéus, cintos ou óculos escuros e depois vinha algo mais teatral como aventais, batas, fardas e finalmente os lenços. Lenços quadrados, pequenos e grandes, em algodão, sintético ou seda. De muitos padrões e lisos.
Vou multiplicar a minha colecção de lenços. Para quem gosta de usar lenços, como eu, não vai ser sacrifício. Mas não deixa de ser misterioso. Que terei eu de fazer com tudo isto?
Logo de manhã o telemóvel toca.
- Bom dia, estou a falar com a Sra. Lisa?
- Bom dia. Está sim.
- Como combinado temos uma resposta para si mas antes gostaria de saber o que achou da lista. Não lhe causa constrangimentos?
- Não me causa, de todo.
- Era isso que pretendia. Gostaria que se apresentasse daqui a exactamente uma semana, na próxima terça, que é o tempo que terá para adquirir tudo o que foi combinado. Um mensageiro irá lhe entregar um cartão de crédito, ainda esta manhã, para que possa suportar as despesas. Tem alguma dúvida?
- Não tenho. Obrigada.
- Então até para a semana.
- Até para a semana. Obrigada.
Aproveitei a semana para as compras. Não foi difícil encontrar toda a roupa e escolher lenços quase sem limites foi delicioso. Gosto de imaginar como os iria usar mas para que mais iriam servir estes misteriosos lenços?
Apresentei-me na data e hora indicadas, como o carro cheio de compras.
Ao chegar deram-me algumas instruções como o tratar por tu e pelo nome e levaram-me para um quartinho para me vestir antes de falar com Guilherme. A roupa que deveria vestir hoje teria de dar um ar de cowgirl.
Vesti calças de ganga, botas, cinto, blusa branca e um lenço encarnado ao pescoço.
Mal entrei apresentei-me.
- Olá Guilherme eu sou a Lisa.
- Olá Lisa. És gira! - respondeu com os olhos pregados no meu lenço
- Obrigada
- Sabes porque te contrataram, Lisa?
- Para te acompanhar?
- Sim, obviamente. Na verdade é porque somos ricos demais para ter amigos. Meu pai acha que com esta fortuna todos são oportunistas.
- E o que tu achas?
- É capaz de ter razão. Não sei.
- Posso ser contratada mas podemos criar amizade.
- Espero que sim. Gostas de aventura?
- Gosto muito.
- Então vou te mostrar a minha área e jardins.
- Vamos.
Era gigantesco o espaço que tinha para si. Sala, escritório e suite. O quarto de adolescente tinha muito posters de cantoras e actrizes, como é normal, mas um elemento elemento especial em comum: em todas as imagens escolhidas elas usavam lenço. O mistério adensava-se.
- Algo te perturba? - perguntou-me
- Não, mas há algo em comum em todos os posters, não é?
- E o que achas que é?
- Os lenços...
- Ficam giras de lenço, não ficam?
- Ficam. É por isso que me fizeram comprar tantos?
- Sim. - respondeu-me sorrindo
- E tu gostas de usar lenços? - perguntou-me algo hesitante
- Sim gosto. Sempre usei muito.
- Eu vi as tuas fotos adorei ver-te de lenço em muitas. E adoro ver-te assim com esse ao pescoço.
- Já tinha desconfiado. Pela forma como me olhaste.
- E se eu te pedir quando vens cá para usares lenços tu usas?
- Todos os dias que vier?
- Sim, todos.
- Uso claro.
- Agora vou te mostrar os jardins
- Está sol no jardim. É melhor protegeres a cabeça.
- Com o lenço?
- Sim - respondeu a rir
- Logo vi. - rindo-me também
Tirei o lenço do pescoço, desdobrei-o cuidadosamente e fiz um triângulo. Atei-o sobre a nuca e puxei os meus cabelos para fora.
Percebia que mexia muito com ele. E até achei divertido.
Na verdade Guilherme parece melhor que imaginei. Educado, simpático, muito atencioso e não poupa elogios. E quem não gosta de ter atenção e elogios?
Os jardins eram imensos. Parecia um palácio.
Sentamos-nos a conversar num grande relvado protegido por uma sombra de grandes bétulas.
Tirei o lenço da cabeça e brincava com este na mão. Via-se alguma ansiedade no seu olhar.
- Vejo que o lenço não te deixa nada indiferente.
- Adoro mulheres com lenços. É uma força descontrolada que percorre o meu corpo e me faz isso. Não sei explicar. Queres fazer um jogo?
- Claro. E que queres jogar?
- ...Cabra cega. - disse renitente.
- Está bem. E quem começa? - perguntei-lhe enquanto dobrava o lenço.
- Tu começas.
Dei-lhe o lenço e ele vendou-me com uma suavidade fantástica.
O relvado era grande e era difícil de o apanhar. Desconfiava que adorava o que estava a fazer. Passamos bastante tempo nesta brincadeira. E até gostei. O tempo voou. Já se aproximava a hora de sair.
- Eu gosto de correr por estes caminhos. Queres correr comigo na quinta?
- Quero, sim. Gosto imenso de correr.
- Vem equipada.
- Venho claro e trago um lenço na cabeça à pirata a condizer.
- Fixe! Obrigado.
Estava na hora e tive de sair. O estudo assim exige.
Despedi-me do Guilherme Maria. Percebia-se que tinha gostado.
Para primeiro dia de trabalho até foi divertido. Ainda não sei bem até onde é que estes lenços podem levar. Todo aqueles lenços e roupa vão dar muito que fazer.
Na quinta-feira já ia equipada:
Ténis pretos, calças pretas, top vermelho e lenço no cabelo à pirata (como prometido) vermelho com cornucópias pretas.
Ao chegar via-o a espreitar pela janela ansioso por me ver.
Elogiou-me mal cheguei.
- Estas linda.
- Obrigada
- Vamos correr?
- Vamos.
Durante uma hora corremos nos caminhos dos jardins. Via-se que adorou o meu traje. Gosto de ser admirada! Sinto-me numa diva.
- Antes de irmos ao banho queres jogar novamente à cabra-cega no relvado? Gostei tanto na terça.
- Quero. Foi divertido.
Desta tinha levado mais um lenço (liso amarelo). Já previa que pudesse ter utilidade. Ele adorou e vendou-me quase de imediato.
Voltamos a jogar no relvado. Entre corridas e tombos a verdade é que nos divertíamos. E ele venda-me sempre com tanta suavidade...
Estava na hora. Retiramos-nos para os respectivos duches. Sábado voltaria para a visita de 6 horas.
- E que roupa trago no sábado? - perguntei
- Mulher fatal. Com lenço escuro na cabeça estilo Grace Kelly e óculos escuros.
- Combinado. Até sábado
- Até sábado.
Esta tarde de sábado seria longa. Das 14:00 às 20:00 com o Guilherme. Vamos ver o que me espera. Entretanto visto-me de escuro e ponho o lenço na cabeça como pedido. Como sempre ao chegar reparo que já espreita pelo canto da janela.
- Olá Guilherme.
- Olá Lisa. Estás novamente fantastica! - Elogiou-me logo à chegada
- Obrigada
- Vamos passear?
- Com o lenço desta forma?
- Sim. Estas desconfortável?
- Nada. Nunca tinha usado assim. Gosto.
Guilerme colocou um boné e chamou um empregado, que trazia uma chave de carro e respectivos documentos.
- Vamos atravessar a casa e para tornar mais misterioso vou voltar a vendar-te. - disse desafiante.
Já tinha um lenço preto preparado que tirara do bolso. Vendou-me novamente. Já percebi que vou ser vendada quase todos os dias. Atar um lenço sobre os meus olhos é algo que o deixa nas núvens. Eu até acho divertido. Uma aventura nova todos os dias.
Devemos ter dado mais que uma volta à casa. Aproveitou-se que eu não via. Apenas sentia a textura e sons do piso. Percebia que passavamos por diversas divisões e que por vezes cruzavamos com empregados. O que imaginariam estes a me ver de lenço na cabeça e vendada? Isto já era algo perturbador mas não deixou de ser emocionante.
Subitamente paramos. Retirou-me o lenço que me vendava. Quando me habituei à luz estava na saida de uma garagem. Tão grande e com tantos carros que parecia um centro comercial. À minha frente um Porsche descapotável.
- Surpresa. - Disse-me baixinho
Não. Não foi uma oferta. Era apenas um convite para passear, em grande estilo.
- Consegues conduzir este?
- ...Acho que sim.
- Então vamos passear.
Ainda a recuperar da aventura e a tentar tomar consciência que ia conduzir este brilhante Porsche preto. Lá entramos e cuidadosamente arranquei.
O lenço que levava na cabeça dava-me grande conforto e percebia-se que o Guilherme estava extasiado. Não podia evitar sentir-me como uma princesa. Já gostava de usar lenços mas acho que ainda estou a apreciar mais. É mesmo bom passear pelas curvas das estradas, no meio dos bosques, num carro destes e assim vestida.
Sem pressas só voltamos em cima da hora do jantar.
- Terça trazes todos os lenços que compraste?
- OK, trago. Para quê?
- Logo vês.
Cheguei como habitualmente. Vinha de calças de ganga, blusa preta e no cabelo um simples lenço azul, em fita, da cor das calças. Trazia uma pequena mochila com os lenços todos para cumprir o combinado. Como sempre elogia-me calorosamente à chegada.
Levou-me para a sala dele. Os móveis afastados, no centro um poltrona e um tapete comprido em passadeira e ao canto um biombo.
- Fazes uma passagem de modelos com todos os lenços? - pediu-me carinhosamente.
- Sabes... Guilherme... Eu não nunca fiz nada assim mas posso tentar.
- Aposto que serás perfeita.
Lenço a lenço fui colocando das mais diversas formas:
Na cabeça à camponesa, à grace Kelly, classico, em fita larga ou estreita, à "working girl", no pescoço com nó á frente, ao lado, atrás, com uma ou duas voltas, na cintura, lenços grandes, lenços pequenos. Usei tantas combinações quantas me lembrei e enquato o tempo permitiu. Por cada passagem desfazia-se em aplausos e habituais elogios. No final esperava-me um grande ramo de rosas. Como se fosse mesmo modelo. De inicio foi estranho mas acabei por gostar muito de toda a atenção.
Dias, semanas, meses passaram e o meu part-time continuava a ser fantástico. O adolescente complicado que, inicialmente, me indicaram ser revelou-se bem diferente. Provavelmente por lhe fazer as vontades. Provavelmente por usar lenços e gostar dos seus jogos e mistérios.
Guilherme tinha uma imaginação que fazia com que houvesse sempre uma nova aventura. Com todo o guarda roupa que tinha comprado muitas vezes usava as fardas de hospedeira com o distinto lenço no pescoço, de caixa de supermercado também de lenço no pescoço, de enfermeira antiga de bata branca e lenço no cabelo ou mesmo de empregada tradicional com avental e lenço na cabeça e as mais diversas combinações de roupa, sempre com um lenço a condizer.
Vendou-me sempre que tinha oportunidade para fazer surpresas, para fazer inúmeros jogos e até me desafiou a tocar piano e viola vendada para me por à prova.
Frequentemente comprava mais lenços. Mas quando lhe ia mostrar as novidades virava o feitiço e vendava-o antes de mostrar. Já tinha confiança para o fazer e ele adorava cada segundo (bem como eu).
Já estava viciada em lenços. Reparava em todos os que via pela rua.
A emoção dos jogos a as vendas não me deixavam indiferente.
Era de facto amiga do Guilherme. Ele já o sentia. Atrevo-me a dizer que eramos mais que amigos embora nunca tenhamos dado passos nesse sentido,
O meu curso terminara, seria colocada num hospital de província e Guilherme, que tinha agora 18 anos, ia estudar no estrangeiro.
Não queria que chegasse ao fim. Em todo tempo, embora os lenços postos em mim o deixassem "louco", foi sempre simpático, carinhoso, rigorosamente respeitador e nunca inconviniente.
No último sábado fui vestida de forma mais invulgar. Tive uma irresistivel vontade. Nunca me tinha vestido assim. Não era nada do meu género. Usei uma saia amarela muito leve com um lenço preto, em triangulo, sobre o peito amarrado atrás das costas, a fazer de top sem nada por baixo. Quando me viu, surpreso, derreteu-se em elogios como eu tanto gostava.
Desta fui eu que lhe pedi:
- Podemos ir para a tua suite?
- Sim!...
- Vendas-me?
- Sim... Com que lenço?
- ...Com o que cobre o meu peito.
Fez-se silêncio. Percebeu de imediacto que desatar o lenço sobre o meu peito me deixaria exposta. Com precisão cirurgica desatou-o, dobrou-o meticulosamente sem tirar os seus olhos dos meus e vendou-me com a suavidade que só ele sabe. Nada foi necessário dizer. Estava perdida no tempo e espaço como queria. Com prudência desapertou o botão da minha saia que deslizou pelas minhas pernas até aos pés.
A tarde deste sábado só terminou domingo de manhã.
Depois de tudo faltavam-nos as palavras para uma anunciada despedida.
- Adeus Guilherme...
- Adeus Lisa...
QT
QT
Muito doce e encantador!É incrível como fatos que aos olhos comuns seriam vistos como características negativas,nas linhas deste conto tornan-se pontos apaixonadamente fortes e sem nenhuma vulgaridade.Excelente!
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